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Polícia

Estudante foi agredido na USP porque é negro, diz testemunha

9 jan 2012 - 17h44
(atualizado às 17h50)
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Mauricio Tonetto

Uma estudante de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), ouvida pelo Terra, não tem dúvidas de que a agressão ocorrida na manhã desta segunda-feira na sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE) foi por motivos raciais. A jovem, que não quis se identificar por medo de represálias, estava presente na sala, que fica ao lado da moradia estudantil, quando um PM deu tapas e apontou uma arma para um estudante negro. Ao tentar ler o nome do policial na farda, ela escutou: 'que história é essa? você não vai ler nada!'.

Polícia agride aluno da USP:

"Ele atravessou no meio de todos nós, brancos, e foi no único negro do grupo, que estava de braços cruzados, atrás de um balcão. O PM agiu de forma maluca, pesada, e julgou que o nosso colega não era aluno por ser negro. A gente conversava e questionava porque eles queriam nos tirar do espaço sem nenhuma ordem por escrito ou identificação, o clima era absolutamente tranquilo", relatou a estudante.

A PM foi até a sede do DCE sob pretexto de desocupar o espaço para uma reforma, que já se arrasta desde 2005 e é anterior à gestão do atual reitor, João Grandino Rodas. Segundo ela, havia um grupo de 10 alunos. Com o início da confusão, outros jovens da moradia estudantil e trabalhadores da universidade foram até o local ver o que acontecia. "Mesmo que não houvesse alunos da USP, ele não teria motivo algum para agredir. Mesmo assim, quando o PM viu a carteirinha do nosso amigo, recuou e saiu de perto. A guarda universitária, em vez de tentar acalmar os ânimos, ficou apenas observando", criticou ela.

Proibido fotografar

A pós-graduanda relatou também que outra jovem quase teve um braço quebrado depois de tentar fotografar a confusão. "Uma garota foi bater fotos do PM agressor e quase teve o braço quebrado. Ele ficou torcendo e foi tão forte que quando soltou, ela caiu no chão e começou a chorar", conta ela.

A jovem disse ainda que a PM ficou no local por cerca de uma hora. "O DCE é um espaço estudantil, onde as pessoas param para trocar ideias, fazer política, estudar. É sempre assim quando os estudantes tentam rever o espaço de alguma forma. A resposta é truculenta. Dessa vez, com a PM, foi isso que aconteceu. Estamos com medo de represálias", lamentou ela.

PM e USP confirmam agressões

Poucas horas depois de ser postado nas redes sociais, o vídeo mostrando a agressão gerou muita polêmica e repercussão. A PM e a USP, inteiradas da situação, confirmaram as agressões, mas disseram que não vão se manifestar por enquanto. "Não há como negar as imagens do vídeo, mas cabe à PM uma posição", disse uma assessora da universidade. A PM afirmou que estuda as imagens antes de emitir uma posição.

Detenções e polêmica

Em novembro de 2011, 73 pessoas foram detidas no campus da USP após invadir a reitoria da universidade, exigindo, entre outras coisas, o fim do contrato firmado entre a instituição e a PM e a mudança do atual reitor, João Grandino Rodas. O convênio foi assinado após a morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, numa tentativa de assalto dentro do campus.

De acordo com a assessoria da USP, a instituição estuda mudanças no sistema de eleição e propostas de modificação do programa de inclusão social da universidade. Está sendo analisada a instalação de um processo de eleições diretas para reitor, com pleito em turno único, através de um colégio eleitoral de 1,8 mil pessoas votando, que incluiria membros das congregações da universidade. Em 2010, um grupo de funcionários em greve invadiu a reitoria da USP e pediu a saída de Rodas, e em 2009 servidores e professores ocuparam o local em protesto contra a administração.

Cenário de guerra

A PM mobilizou um efetivo de 400 homens da tropa de choque, da cavalaria e até mesmo do grupamento aéreo (Águia) para o cumprimento de mandado judicial de desocupação da reitoria em novembro. O prazo para a saída espontânea dos manifestantes do local havia se esgotado, após trégua negociada com a Justiça, mas descontentes com as propostas da administração da USP, que descartou revogar o convênio com a PM, os estudantes e funcionários decidiram prolongar a ocupação.

Eles não resistiram à operação de reintegração de posse, preferindo empunhar flores em protesto irônico diante do forte aparato policial. A tomada da reitoria foi levada a cabo por parte de um grupo insatisfeito com o resultado de uma votação em assembleia que decidiu, por 559 votos a 458, encerrar a ocupação do prédio de administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). O grupo deslocou o portão de trás do edifício da Administração Central, usando paus, pedras e cavaletes, e em poucos minutos chegou ao saguão principal do prédio.

A FFLCH havia sido ocupada depois que a PM abordou três estudantes no campus por porte de maconha e tentou levar os usuários detidos. Os policiais usaram gás lacrimogênio, e alunos teriam ficado feridos após confronto.

Fonte: Terra
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