PUBLICIDADE

Polícia

'Entrei preocupado em tomar tiros', diz coronel da Rota sobre Carandiru

Valter Alves Mendonça, capitão da Rota em 1992, afirmou que não esperava a "reação" dos presos

31 jul 2013 - 14h08
(atualizado às 14h11)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Julgamento da segunda parte do Carandiru começou na segunda-feira</p>
Julgamento da segunda parte do Carandiru começou na segunda-feira
Foto: Fernando Borges / Terra

O coronel Valter Alves de Mendonça foi um dos comandantes da Rota que atuou no terceiro pavimento da Casa de Detenção de São Paulo em outubro de 1992. Após mais de 20 anos, 25 policiais militares ligados à Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) estão em julgamento acusados por 73 das 111 mortes ocorridas no presídio naquele dia. Mendonça, que hoje é coronel da reserva, disse nesta quarta-feira que entrou no local preocupado em levar tiros. "Eu não esperava a reação dos presos", afirmou.

Júri condena 23 PMs a 156 anos de prisão por massacre do Carandiru
"Vocês vão decidir que polícia querem na rua", diz defesa
Absolver PMs é 'cuspir na cara do bom policial', diz acusação
Defesa cita 'Tropa de Elite' e acusa governo para absolver PMs
MP exalta letalidade da Rota e acusa PM de 'plantar' armas

"Eu vi clarões, ouvi estampidos e senti impacto no escudo que eu carregava. Atiraram contra mim. Aí eu reagi", disse ele, durante o primeiro interrogatório desta quarta-feira. Pelo menos mais quatro policiais deverão ser ouvidos até o fim do dia. Os 20 demais deverão permanecer calados, seguindo orientação da defesa do grupo.

Mendonça disse, na abertura do interrogatório, que tem ciência da acusação contra ele - de ter participado da morte dos presos -, mas afirmou não concordar com ela. "Eu efetuei três disparos. Contra mim, acredito que tenham sido meia dúzia de disparos. Tomei paulada na perna e fui cortado por estilete no braço", disse, ele, alegando que reagiu em legítima defesa.

Ele conta que fazia o patrulhamento na região do Carandiru quando foi chamado, com sua equipe, para comparecer ao Carandiru, atendendo solicitação do coronel Ubiratan Guimarães, responsável pela operação naquele dia. "Quando chegamos lá, o diretor da Casa de Detenção estava nervoso, andando de um lado para o outro. Dava para perceber que ele queria uma intervenção, dizia que a briga estava incontrolável. A preocupação maior era com uma fuga em massa e que o Pavilhão 8, que era o mais perigoso, se rebelasse", diz.

Mendonça conta que já na entrada do prédio pode ver quatro corpos, um deles decapitado. "Subimos gritando palavras de ordem: ‘entrem nas celas’. Três deles gemiam de dor no corredor. Recolhi pelo menos duas armas com eles", afirmou. O promotor lembrou que nos depoimentos anteriores, ele nunca citou ter encontrado esse preso morto, sem cabeça. "Na época não achei relevante", justificou-se. 

Julgamento

O terceiro dia do julgamento dos 25 policiais militares acusados por 73 das 111 mortes ocorridas em 2 de outubro de 1992, na Casa de Detenção de São Paulo, nesta quarta-feira, está reservado para o interrogatório dos réus. Dos acusados, pelo menos cinco deverão dar a sua versão para o que ocorreu durante a invasão da Polícia Militar ao presídio. Orientados pela advogada Ieda Ribeiro de Souza, os demais deverão permanecer calados, conforme previsto em lei.

Esta é a segunda etapa do julgamento, que começou em abril com a condenação de 23 policiais militares - todos integrantes do 1º Batalhão de Choque (a Rota - Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Eles receberam uma pena de 156 anos de prisão, em regime fechado, por conta de 13 das 15 mortes ocorridas no primeiro andar do prédio. Todos recorrem da sentença em liberdade.

Nessa primeira etapa, os policiais receberam a pena mínima para cada homicídio, que é de seis anos, somada a mais seis anos por impossibilitarem a defesa das vítimas. Os 12 anos foram multiplicados pelas 13 mortes para se chegar ao resultado final da sentença. Na ocasião, o júri ainda absolveu três PMs denunciados: Roberto Alberto da Silva, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues, seguindo recomendação do próprio Ministério Público. A justificativa é que eles não atuaram no 1º andar do pavilhão com a tropa.

Relembre o caso

Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade