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Polícia

Em 2 dias, ouvidoria registra 27 queixas de abusos de policiais

2 dez 2010 - 03h40
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A ouvidoria montada no 16º BPM (Olaria) para receber denúncias de moradores dos complexos da Penha e do Alemão sobre excessos cometidos por policiais militares e civis já contabiliza 27 registros em apenas dois dias.

Um deles foi feito por uma comerciante. A policiais da corregedoria, ela contou que teve o bar invadido por policiais do 16º BPM que estavam na viatura 52.1394. "Eles jogaram minhas mercadorias no chão, disseram que eu protegia bandidos e me mandaram calar a boca se não quisesse levar um tapa na cara. A polícia não precisava fazer isso", relatou, inconformada.

Uma diarista, mãe de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, chefe do tráfico de drogas do Alemão, também fez denúncias. Ela afirmou que, desde a ocupação da polícia, no domingo, a casa já foi revirada 15 vezes por policiais civis e militares.

"Não sei onde está o Luciano (Pezão). Encontrava com ele uma vez por mês porque sou mãe e não conseguia desprezá-lo. Ia aonde ele ficava e só podia falar com ele 15 minutos. Meus outros filhos e meu marido são trabalhadores, não têm contato com ele, estão sendo ameaçados e já até apanharam de policiais que, todos os dias, invadem minha casa", disse a diarista, que vive numa casa simples de dois quartos com o marido, porteiro aposentado, dois filhos e cinco netos.

"Compramos nossa casa há três anos com o dinheiro de 30 anos de trabalho do meu marido. Tenho nota de tudo, até dos móveis que ainda estamos pagando. Nunca aceitamos nada do Luciano. Queria saber onde ele está para eu mesma levá-lo à polícia. Tenho medo de que ele seja morto, mas nesse momento minha maior preocupação é com a minha família. O Luciano escolheu o caminho dele", desabafou.

Sentimento de humilhação
Aos prantos, o aposentado R.C., 61 anos, falou da humilhação que sentiu ao ver a casa revirada por policiais do 7º BPM (São Gonçalo), que procuravam barras de ouro. "Trabalhei 31 anos na mesma empresa. Não é porque consigo ter coisas direitinhas, que preciso passar por isso. Era refém dos bandidos, mas eles nunca invadiram minha casa", criticou ele.

A vendedora D. S. reclamou que R$ 600 separados para o pagamento da fatura do cartão de crédito tinham sido roubados. Nem mesmo a Assembleia de Deus Alvorada, no Largo do Coqueiro, escapou. O pastor C. A. disse que a porta foi arrombada. "Não é justo o que os policiais estão fazendo, mas muitos moradores, vândalos, estão se aproveitando da situação", reclamou.

Reclamações com Beltrame
Em visita ao Alemão, o secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, foi abordado pela diarista C.M., 54 anos. Ela disse ter sido agredida por um PM, que teria tentado levar R$ 2 mil de uma rescisão trabalhista do seu filho.

"Nós recebemos diversas informações de que moradores estão saqueando casas de moradores e também que moradores estão sendo mantidos em cárcere por bandidos. Tudo isso nos movimenta e nos joga à frente. Houve a acusação, vamos investigar e vamos punir", disse Beltrame.

Violência

A onda de violência no Rio de Janeiro teve início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.

Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.

Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.

Fonte: O Dia
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