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Polícia

Diretor de escola palco de tragédia em Realengo anuncia aposentadoria

15 out 2012 - 07h38
(atualizado às 08h10)
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A aposentadoria está programada para 2013 e a sensação é de dever cumprido. Assim, o diretor da Escola Municipal Tasso da Silveira, Luis Marduk Bráz, de 57 anos, há quatro anos na função e há 30 na escola, começa a se despedir. Por causa da tragédia que vitimou 12 alunos no colégio, em Realengo (RJ), vítimas de um atirador, ele adiou a aposentadoria para o próximo ano.

Famílias das vítimas do massacre do Realengo participam de oração em frente ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro
Famílias das vítimas do massacre do Realengo participam de oração em frente ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro
Foto: J.P. Engelbrecht/Prefeitura do Rio / Divulgação

Realengo: a dor que não passa

Ele liderou o esforço de recuperação do colégio e revela como tem trabalhado para superar o trauma: ''Nossa relação é mais que profissional, é de confiança. Foi isso que norteou nossa resistência''.

Passada a tragédia, o medo era que os alunos e professores abandonassem o colégio e que a Tasso da Silveira ficasse manchada na comunidade. O que ocorreu, no entanto, foi o contrário. ''Professores aposentados, de licença, todos vieram nos ajudar. Em uma situação de emergência, toda oferta era bem-vinda¿, disse o diretor. Para Marduk, a coesão que existia ante da tragédia fez a diferença.

A mesma opinião tem a professora Vanessa Duarte, da 1ª à 4ª série, há 11 anos no colégio, ''A escola já era muito boa antes e isso favoreceu''. Também contribuiu o tratamento psicológico que muitos profissionais ainda recebem. Nos meses seguintes ao incidente, uma equipe especializada em neuropscologia desembarcou de Recife para tratar os alunos da Tasso da Silveira.

A reforma total das instalações foi outro marco. Apesar de conviver com meses de barulho e poeira, o professor de história Jorge Willian da Costa Lino disse que a mudança foi fundamental para enterrar as lembranças do episódio. A sala de aula atacada teve parede derrubada e deu lugar a uma passagem para o prédio anexo, com sala de informática, laboratório de ciências e auditório.

As demais salas receberam novos armários, quadros, murais, instalação para projetores e aparelhos de ar condicionado. ''A tragédia foi gigantesca, entendíamos que a reforma era necessária para amenizar o problema e ajudar a comunidade a não perder o amor pela escola'', disse Vanessa. ''Na verdade, a gente conseguiu resgatar uma história que tem há anos'', completou Jorge.

Os professores não receberam capacitação extra, mas a visibilidade do colégio na mídia e a atenção dada tanto pela Secretaria Municipal de Educação, quanto por pessoas famosas como artistas e jogadores de futebol, deu fôlego. Porém, o mais importante, lembram, ''é a união e o sentimento de pertencimento'', diz Jorge. ''A direção sempre fez um bom trabalho'', acrescentou Vanessa.

A Tasso da Silveira tem 1,1 mil alunos e está lotada. Continua sendo referência no bairro de Realengo, na zona norte do Rio. ''Nosso grande desafio e preocupação é sustentar a qualidade depois desse terrível acidente. Vou deixar como um legado importante. Saio desse desafio muito orgulhoso de minha equipe e de nossa superação'', declarou Luis Marduk.

Tragédia em Realengo
Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril de 2011. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e se suicidou logo após o atentado. Segundo a polícia, o atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.

Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Em uma carta encontrada com ele, Wellington pediu perdão a Deus e deixou instruções para o próprio enterro - entre elas que nenhuma pessoa "impura" tocasse seu corpo.

Dias depois, a polícia divulgou fotos e vídeos em que o atirador aparece se preparando para o ataque durante meses. Em um deles, Wellington justificou o massacre por ter sido vítima de "bullying" praticado por "cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem". Na casa dele, foram encontradas diversas anotações que mostraram uma fixação pelos ataques de 11 de setembro de 2001. O atirador acabou enterrado como indigente 15 dias após o massacre, já que nenhum familiar foi ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo.

Agência Brasil Agência Brasil
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