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Polícia

Dilma manda PF apurar morte de líderes extrativistas no PA

24 mai 2011 - 18h13
(atualizado às 18h56)
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A presidente Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue o assassinato do líder extrativista e castanheiro José Claudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido na manhã desta terça-feira. Conhecido por denunciar a ação ilegal de madeireiros na região, o casal foi morto a tiros na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. Eles estavam em uma estrada que levava ao projeto assentamento agroextrativista Praialta Piranheira, onde viviam.

Em vídeo, extrativista revela que já vinha sendo ameaçado:

O assassinato do casal foi discutido na manhã desta terça-feira durante uma reunião entre Dilma e ex-ministros do Meio Ambiente, que pediam o adiamento da votação do novo Código Florestal, remarcado inicialmente para esta terça-feira. A ex-ministra Marina Silva comparou a morte de José Cláudio ao assassinato, em fevereiro de 2005, da missionária Dorothy Stang, em Anapu, no Pará.

A sobrinha do casal, Clara Santos, disse à BBC Brasil que os tios vinham sendo intimidados há muitos anos. "Eles sofriam ameaças de morte desde 1997, quando meu tio foi escolhido para ser presidente fundador do projeto", disse.

Clara, cujo pai é irmão de Silva, afirma ainda que as ações vinham se agravando nos últimos tempos. "Há mais ou menos um mês, à noite, atiraram no cachorro deles, que estava no quintal. E quando eles não estavam, iam lá e reviravam a cozinha, que ficava separada do restante da casa", disse. "Eles sempre denunciavam as ameaças, mas só às vezes as autoridades iam atrás das histórias, para investigar. Normalmente ninguém fazia nada."

"Bala na cabeça"

Silva, que vivia da extração da castanha e de outros produtos da floresta, falava das ameaças abertamente. Em uma entrevista sobre sua participação no fórum TEDx Amazônia, realizado em 2010, ele afirmou: "Luto pela floresta viva. Um bem que fica para as futuras gerações. Mas devido ao meu trabalho sou ameaçado pelos empresários da madeira, os camaradas que não querem ver a floresta em pé."

Durante a palestra no evento internacional, que discutiu como tema a qualidade de vida no planeta, ele foi ainda mais incisivo: "Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito. Por isso, eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora. Porque eu vou para cima, eu denuncio os madeireiros, denuncio os carvoeiros e, por isso, eles acham que eu não posso existir".

"A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci". "Me perguntam. Tem medo? Tenho. Mas o meu medo não me empata. Enquanto eu tiver força para andar, estarei denunciando aqueles que prejudicam a floresta".

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