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Polícia

Defesa interrompe júri e orienta Gil Rugai a não responder acusação

Advogado orientou réu a ficar calado e acusou o promotor de "fazer discurso"

21 fev 2013 - 18h43
(atualizado às 20h30)
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<p>Gil Rugai é acusado de matar o pai e a madrasta</p>
Gil Rugai é acusado de matar o pai e a madrasta
Foto: Alice Vergueiro / Agência Brasil

A defesa de Gil Rugai, 29 anos, acusado de matar o pai e a madrasta, interrompeu, no final da tarde desta quinta-feira, o interrogatório feito pelo promotor Rogério Leão Zagallo para orientar o réu a não responder mais às perguntas da acusação. Rugai respondia havia cerca de 30 minutos às questões do Ministério Público, mas os advogados do acusado consideraram que o promotor estava "fazendo discurso antes da hora" ao direcionar suas perguntas a ele.

"Gil, não responde a mais nenhuma pergunta. Você está sendo usado para que o promotor faça o discurso dele", disse o advogado Marcelo Feller, interrompendo o cliente, que, naquele momento, respondia se conhecia algumas testemunhas citadas pela acusação.

Antes de responder ao promotor, Gil Rugai foi interrogado por cerca de uma hora e meia pelo juiz Adilson Paukoski Simoni. Surpreso com a interrupção, Zagallo questionou ao réu se ele estaria se sentindo "intimidado", o que ele respondeu negativamente. Mesmo assim, o advogado voltou a repreender seu cliente, o orientando a ficar calado, o que ele aceitou fazer.

Desde o início do julgamento, que acontece desde segunda-feira no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, a defesa de Gil Rugai garantiu que o acusado responderia a todas as perguntas, inclusive às feitas pela acusação, desde que ele não fosse "desrespeitado". Ele é acusado de ter matado o pai, Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e a madrasta, Alessandra de Fátima Troitiño, 33 anos, na casa onde o casal vivia, em 28 de março de 2004, mas em seu depoimento (que começou por volta das 15h45) negou a acusação, disse desconhecer os motivos pelo qual foi apontado como culpado e declarou desconhecer quem possa ter cometido o crime. "Não fui eu, mas, quem foi, eu não sei", disse.

Mesmo sabendo que o réu ficaria calado - o que é um direito garantido por lei -, o promotor insistiu em continuar o interrogatório, para que as perguntas fossem registradas nos autos do processo, o que desagradou a defesa, que reclamou ao juiz. Neste momento, Zagallo rebateu, enfático: "ninguém, ninguém há de arrumar um artigo de lei que me impeça de fazer as perguntas para que elas sejam consignadas", disse.

Nesta hora, o juiz interrompeu a discussão entre as partes e advertiu o promotor para que fosse "objetivo" em suas indagações. "Tem um presidente (do júri) aqui", advertiu o juiz, que pela manhã foi chamado pela acusação de "conivente" com a defesa.

Após o impasse, o juiz autorizou o promotor a continuar as perguntas, mesmo que elas fiquem sem resposta. Neste momento, então, Gil Rugai pediu para ir ao toalete, interrompendo formalmente a sessão para um intervalo e provocando risos na plateia que acompanha o júri.

Ao término do intervalo, entretanto, a defesa voltou a reclamar da iniciativa da promotoria de insistir com seus questionamentos mesmo sabendo que o réu não se pronunciaria. "O acusado tem o direito de ser ouvido e não produzir provas contra si mesmo", afirmou o advogado Thiago Anastácio, alegando que seu cliente poderia ser prejudicado por conta do silêncio diante dos jurados.

Demonstrando plena confiança de que o juiz - a quem chamou de "resguardador dos direitos civis" - reconsiderasse a decisão, o advogado pediu que fosse suspenso o interrogatório da acusação para que Gil Rugai não passasse pelo "constrangimento" de se negar a falar. O promotor Zagallo, entretanto, disse ter certeza de que não haveria "impedimento legal para que minhas perguntas sejam feitas, ainda que o réu responda que não queira se manifestar". "Os jurados têm o direito e a obrigação de saber o que a acusação queria perguntar e sobre o que ele irá se calar", completou o assistente de acusação, Ubirajara Mangini.

Por fim, o juiz reconsiderou e decidiu em favor do réu. Citando a Constituição, o magistrado reconheceu que o silêncio poderia ser interpretado de uma forma prejudicial no julgamento. Assim, ele negou o pedido da promotoria e deu início ao interrogatório da defesa, que durou cerca de uma hora. Às 20h20, foi encerrado o interrogatório de Rugai, após mais de quatro horas e meia.

"Inocente"

Antes que a defesa interrompesse o interrogatório, Gil Rugai já havia respondido à Promotoria que era inocente e que não sabia porque teriam "inventado histórias" contra ele. Sempre calmo e mantendo o mesmo tom de voz, o réu afirmou "não entender" por que algumas testemunhas ouvidas pela investigação foram ameaçadas após o incriminarem, nem por que o apontaram como culpado.

"Eu realmente não sei por que algumas pessoas inventaram algumas histórias contra mim", afirmou Gil Rugai. "Antes de isso tudo acontecer, eu não imaginava que ninguém não gostasse do papai", completou. 

Questionado pelo promotor sobre o motivo de o laudo do Instituto de Criminalística tê-lo apontado como autor do chute para arrombar a porta do cômodo onde Luiz Carlos tentou se proteger, ele voltou a afirmar que não foi à casa das vítimas na noite dos assassinatos. "Eu sei que eu não chutei aquela porta, porque eu não estava lá naquela noite. Não sei como o laudo chegou a esse resultado, (...) se foi falha técnica ou se foi mal intencionado", afirmou.

Ao juiz, ele negou ter brigado com o pai dias antes dos crimes e rejeitou a acusação de que teria desviado dinheiro da empresa do pai - o que é apontado como a motivação dos assassinatos. Ao final, reiterou ser inocente: "Falar que sou inocente não adianta muito", afirmou, em tom de desabafo. 

Fonte: Terra
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