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Polícia

Defesa aposta em localização de ligações para absolver Mizael

Advogado promete levar ao júri do caso Mércia provas de que réu estava longe da cena do crime

11 mar 2013 - 06h26
(atualizado em 9/8/2018 às 09h53)
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<p>O advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza é acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima</p>
O advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza é acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima
Foto: Aparício Reis / Diário de Guarulhos / Futura Press

A defesa do advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, acusado de matar a ex-namorada, Mércia Nakashima, 28 anos, levará registros das ligações telefônicas efetuadas pelo celular do réu no dia do crime, para tentar provar que ele estava "muito longe" do local onde a advogada foi assassinada. Ela desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós, em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta em 11 de junho, na represa Atibainha, em Nazaré Paulista (interior de São Paulo). Mizael sempre negou a acusação, mas foi denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e agente que impossibilitou a defesa da vítima), e seu julgamento começa nesta segunda-feira, no Fórum Criminal de Guarulhos. Se condenado, ele poderá pegar até 30 anos de prisão em regime fechado. 

"Nós não temos 'cartas nas mangas'. Os documentos falam por si só e nós temos certeza de que vamos demonstrar aos jurados que ele não estava naquele local quando essa tragédia ocorreu. A Defesa trabalha com os documentos do processo e, dessa forma, nós temos tudo o que tira o nosso cliente da cena do crime, de forma cabal", disse o advogado Ivon Ribeiro, que divide a tarefa de defendê-lo com os advogados Wagner Garcia e Samir Haddad Junior.

A Promotoria sustenta que Mizael matou Mércia por não se conformar com o término do namoro com a advogada, com quem manteve um relacionamento amoroso por quatro anos. De acordo com a denúncia, o policial aposentado ainda se encontrava ocasionalmente com a vítima, mas decidiu matá-la por se sentir "humilhado" e "usado", já que Mércia não queria reatar o namoro.

A defesa, entretanto, se baseará no horário do crime para tentar "tirar" Mizael da cena. Isso porque, um pescador disse à política ter visto o carro sendo jogado na represa por volta das 19h30, enquanto a Promotoria argumenta que o crime ocorreu "em horário precisamente ignorado, mas certamente entre as 19 e 21 horas".

"Uma testemunha, um pescador, viu o carro ser arremessado da represa às 19h30. Nós temos registros telefônicos que mostram que ele fazia, às 19h33, ligações do centro de Guarulho. Então essa conta matemática não fecha. Como ele podia telefonar do centro de Guarulhos e estar, ao mesmo tempo, no local do crime (a cerca de 50 km)? (...) Não é a defesa que tenta manipular a hora do crime. Quem tem uma forte tendência a manipular é o Ministério Público, que vai querer manipular esse horário", afirmou o defensor, que levará os registros das operadoras telefônicas, que aponta a localização de onde partiram as chamadas.

A defesa também questiona os laudos periciais elaborados pela Polícia Civil, e acusa o órgão de ter seguido apenas uma linha de investigação. Entre os questionamentos que os advogados irão levantar está o fato de a Polícia Científica não ter feito testes para comprovar que a alga encontrada no sapato de Mizael partiu, de fato, da represa. Para o advogado, Mizael se tornou réu por conta de "desencontros"  iniciais da investigação, em referência ao fato de a família de Mércia não saber que ela e o acusado se encontravam ocasionalmente, o que levantou a suspeita sobre ele. Isso porque os familiares da vítima não aprovavam o relacionamento.

"Houve uma ânsia em se achar um suspeito e, por conta de um desencontro de informações no início do processo, o Mizael se tornou suspeito. Mas a polícia não seguiu outras linhas de investigação, não investigou com quem ela andava, por exemplo. (...) Nem fizeram exame para confrontar se a alga que eles acharam no sapato do Mizael era mesmo daquela represa", disse o advogado.

Já a acusação se baseará em quatro elementos que incriminam o advogado: o motivo do crime, já que ela rejeitava manter um relacionamento sério com ele; as ligações telefônicas, que o colocam no "rastro" da vítima naquele dia; o rastreador do veículo dele, que aponta que o réu estaria na região onde o crime ocorreu; e os sapatos dele, cujo laudo da perícia encontrou vestígios de sangue, partículas ósseas, partículas do projétil de arma de fogo e restos de uma alga típica de áreas de represa.

Durante o período em que ficou preso, o réu escreveu um livro, de 56 páginas, em que se defende das acusações e diz ter sido vítima de perseguição da Promotoria e da imprensa. A defesa chegou a cogitar distribuir o material, intitulado "Mizael Bispo de Souza – Na Cova dos Leões", aos jurados, mas não anexou o documento com a antecedência requerida pela Justiça.

"Ele ficou chocado por ter sido acusado. Ele está ansioso e espera que o culpado seja encontrado", afirmou Ribeiro, que divide a tarefa de defendê-lo com os advogados Wagner Garcia e Samir Haddad Junior.

O caso Mércia

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos. 

Fonte: Terra
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