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Polícia

Defesa aposta em erro em data da morte de Mércia, e promotoria acha "mirabolante"

30 jul 2013 - 06h05
(atualizado às 06h05)
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No segundo dia de julgamento do vigia Evandro Batista da Silva, nesta terça-feira, a defesa do réu aposta em um equívoco por parte dos peritos na data da morte da advogada Mércia Nakashima. De acordo com Arlyndo de Paulo, advogado de defesa do réu, a vítima teria sido assassinada no dia 26 de maio e não 23 como consta nos laudos do processo. Por outro lado, a promotoria, representada por Rodrigo Merli acredita que esse plano “mirabolante” não surtirá efeito.

Veja como funciona o Tribunal do Júri

“Já deu para perceber perfeitamente qual será a tese da defesa. Algo mirabolante, estapafúrdio. Espero que isso não convença, mas eles vão sustentar que a vítima não morreu dia 23, mas sim alguns dias depois e que, portanto a ida do Evandro até a represa não configuraria uma participação no crime”, afirmou o promotor.

O júri popular do vigia começou nesta segunda-feira com um atraso de uma hora e meia por conta da ausência de uma das testemunhas que, segundo a defesa do réu, é imprescindível para o caso. Trata-se de uma pessoa que teria visto Mércia e o condenado Mizael Bispo no dia 26 de maio, o que bateria com a hipótese de a advogada não ter sido morte dia 23.

Evandro é acusado de ter colaborado com a fuga de Mizael Bispo, condenado em 14 de março a 20 anos de prisão pela morte da ex-namorada Mércia. A acusação sustenta que Evandro não teve participação direta na morte, mas que sabia que Mizael tinha a intenção de cometer o crime. Porém, a defesa do vigia alega que ele confessou ter participado do crime sob tortura. Mércia foi vítima de disparos de arma de fogo e lançada, no interior de seu veículo, dentro de uma represa no município de Nazaré Paulista, na Grande São Paulo.

“Ficou muito claro que ela não morreu dia 23 de maio. Segundo o laudo, ela morreu em um período de 360 horas, ou seja, 15 dias. Ela foi localizada dia 11 de junho na represa. Se voltarmos no tempo, daria aproximadamente dia 27 de maio, o que coincide com uma testemunha que diz ter visto os dois dia 26 de maio na Nova Dutra”, afirmou Arlyndo de Paula.

Porém, a promotoria acredita que os jurados e a juíza não vão atentar para esse fato, que não é novidade no julgamento, já que foi apresentado também com Mizael Bispo e descartado logo em seguida. “A única bomba ventilada é essa. É uma testemunha que está no processo desde o início. Isso consta nos autos, que uma testemunha teria visto os dois dia 26 em um pedágio, em Guararema. Mas foi descartado por  motivos técnicos e isso é impossível. Não vou adiantar qual é para não dar munição para defesa, mas vamos rechaçar isso facilmente”, disse Merli.

O também advogado de defesa do réu Ricado Panzeta cita outros argumentos para tentar inocentar Evandro no júri popular, que deverá terminar apenas na quarta-feira, com debate entre acusação e defesa. Segundo ele, um sequestro a Mércia e um telefonema dado pela irmã Cláudia à vítima podem livrar o vigia.

“Temos um depoimento da irmã da vítima que diz que no dia 24, um dia após a data da morte, ela teria ligado e o celular teria chamado por diversas vezes. O que tecnicamente se conclui que se o celular estivesse com ela, estaria dentro da represa e o telefone não poderia ter chamado. Então soma-se esse dado técnico, que diz o laudo das 360 horas, Mércia não morreu no dia 23 de maio”, disse.

“Há também um disparo no encosto do banco, que vai para o banco traseiro e fica no estepe. O trajeto desse tiro não condiz com a versão do Mizael. Ele estaria dentro do carro e esse disparo foi efetuado por alguém de fora do veículo”, afirmou Aryldo, antes de contextualizar sobre um possível sequestro de Mércia.

Segundo ele, houve uma denúncia anônima citando um sequestro e o delegado Antônio de Olim foi até o local, comprovando a existência de duas pessoas onde seria o cativeiro de Mércia. “Vizinhos disseram ter visto uma mulher oriental sendo levada para lá. Moradores também disseram que Márcio, um dos denunciados, havia confessado o crime. Ele tentou fugir quando a polícia esteve lá. O doutor Olim levou essas pessoas, as ouviu e liberou. Não fez quebra de sigilo telefônico, não fez exame de corpo de delito e não fez luminol no suposto cativeiro. Então com base em tudo isso ela não morreu dia 23”, afirmou De Paula.

Nesta terça-feira, os trabalhos devem começar com o depoimento de mais uma testemunha de acusação. Depois disso, as quatro testemunhas de defesa devem ser chamadas. O julgamento deve terminar apenas na quarta-feira, quando os jurados decidirão o futuro de Evandro Bezerra da Silva.

Primeiro dia

Com um atraso de uma hora e meia, o julgamento começou por volta das 10h30 com uma indecisão. A defesa do réu tentou adiar o júri por conta da ausência de uma das testemunhas. Porém, a juíza Maria Gabriela Riscaldi afirmou que o cartório localizou a testemunha, que deve prestar depoimento às 10h desta terça-feira.

O primeiro a depor foi o representante da Ordem dos Advogados do brasil (OAB) Arles Gonçalves. O advogado afirmou não ter havido tortura por parte dos policiais no momento do depoimento de Evandro para que ele confessasse participação no crime. “Na minha frente ele nunca falou sobre tortura”, disse Arles. O promotor Rodrigo Merli questionou Arles sobre o fato e o advogado afirmou que houve sim uma pressão em cima do réu.

“Quando você interroga, é claro que você força nas perguntas e a pessoa responde. Isso dentro da legalidade. Os policiais são um pouco incisivos, aí você fala que o interrogado está mentindo e ele acaba falando”, afirmou Arles.

Outra questão levantada no primeiro dia de trabalhos em Guarulhos foi a veracidade das ligações telefônicas entre Mizael e Evandro. Após a pausa para o almoço foi a vez do engenheiro Eduardo Amato Tolezani depor. Ele foi responsável por um relatório que mostrou essas ligações e afirmou que o sistema é passível de erros. De acordo com a testemunha, “nada é infalível”.

“Não tenho como dizer onde a pessoa está, mas sim uma probabilidade de região. Tudo é passível de falhas. Esse sistema não é infalível”, afirmou Eduardo, que analisou as Estações de Rádio Base (ERBs), conhecidas popularmente como antenas, da região de Guarulhos.

Segundo o relatório do especialista, Evandro realizou 17 ligações das 17h às 18h22 no dia do crime, 23 de maio de 2010. A antena que registrou essas ligações estava próxima ao posto de gasolina em que Evandro trabalhava e onde ele e Mizael se encontravam, segundo a acusação. Depois disso, após as 19h, outras dez ligações foram realizadas de uma antena mais distante.

Mas o momento mais tenso do dia ainda estava por vir. O delegado Antonio Assunção de Olim foi a terceira testemunha desta segunda-feira. Ele discutiu com Arlyndo de Paula durante interrogatório. Ex-integrante do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, Olim se mostrou bastante impaciente ao final das três horas de perguntas no júri popular do vigia.

Em diversos momentos a juíza Maria Gabriela Riscali precisou intervir e chegou a advertir Olim por não responder às perguntas feitas pelo advogado de defesa. “Posso fazer uma pergunta?”, questionou o delegado. De prontidão, a juíza disse: “não, o senhor está aqui apenas para responder perguntas”.

Olim, que hoje atua em outro departamento, acusou Arlyndo de querer “tumultuar” o julgamento. “Doutor, onde o senhor quer chegar com essa pergunta? Isso não vai mudar em nada”, disse o ex-delegado do DHPP, que conduziu as investigações da morte de Mércia em maio de 2010. “Na sua ótica não vai mudar. Você não está em sua delegacia, doutor”, respondeu de Paula, mais incisivo.

O caso

A advogada Mércia Nakashima desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos, e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela foi ferida a tiros, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

Ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima). Em 14 de março deste ano, Mizael foi condenado a 20 anos de prisão pela morte de Mércia. 

A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local. Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura.

Fonte: Terra
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