Com contracheque gigante, bombeiros protestam no RJ
- Luís Bulcão Pinheiro
- Direto do Rio de Janeiro
Após mais de 72 horas de vigília em frente ao prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), bombeiros pressionam o governo do Estado a libertar os 439 colegas presos após a invasão do quartel central da corporação, na sexta-feira, além do aumento de salário. O praça Angelo Mandarindo, 32 anos, lotado na Defesa Civil, levou um cartaz com seu contracheque ampliado para exigir melhor remuneração.
No contracheque de Mandarindo, consta como soldo a quantia de R$ 337,33. Com as gratificações, o salário líquido de um praça do Corpo de Bombeiros chega a R$ 1.056,67. "Hierarquia e disciplina a gente tem. Ganhamos menos de dois salários mínimos por mês. Quem tem família, como fica?", questionou Mandarindo, que, apesar de não aderir à greve, participa das manifestações nas horas de folga.
Os manifestantes montaram seis barrancas em frente à Alerj, que são utilizadas como dormitórios à noite. Um grupo de manifestantes trabalha em uma cozinha improvisada, enchendo panelões com legumes, macarrão e carne moída para as refeições.
Ainda nesta terça-feira, um pedido de habeas corpus para o grupo de bombeiros presos deve ser impetrado na Justiça Militar pelos advogados das 12 associações de apoio aos militares.
De acordo com informações do Tribunal de Justiça do Rio, a Auditoria Militar só recebeu a notificação da prisão dos bombeiros na noite de segunda-feira e ainda vai avaliar os documentos com a qualificação e ocorrência dos presos.
Negociação
O governo voltou atrás e já admite negociar com os bombeiros. Em nota oficial, o Estado desautorizou o secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, que dissera que o canal de negociação fora fechado "por causa da invasão" no quartel central. Na segunda-feira, o movimento conquistou a adesão dos cariocas, que penduraram faixas em janelas e nos carros e até doaram dinheiro aos militares acampados na porta da Alerj.
Com salário inicial de R$ 4,6 mil, bombeiros do Distrito Federal ganham quase 5 vezes mais que seus pares fluminenses. E nos Estados de São Paulo e Minas Gerais o valor pago a quem ingressa na carreira - R$ 2,17 mil e R$ 2,01 mil, respectivamente - é o dobro do que recebe o bombeiro no Estado do Rio.
A manifestação da categoria reivindica aumento do soldo para R$ 2 mil - hoje o salário bruto é pouco mais de R$ 1 mil, e o líquido é R$ 950. Mesmo com o aumento, o salário dos militares, ao fim do governo, será inferior ao praticado em Sergipe, que é de R$ 3 mil.
Bombeiros na cadeia
Cerca de 2 mil bombeiros que protestavam por melhores salários invadiram o quartel do Comando-Geral dos Bombeiros, na praça da República, em 3 de junho. Os manifestantes chegaram a usar mulheres como escudo humano para impedir a entrada da cavalaria da Polícia Militar no local. No entanto, o Batalhão de Choque da Polícia Militar (Bope) invadiu o quartel por volta das 6h do dia seguinte e prendeu 439 bombeiros.
Os integrantes do protesto responderão pelos crimes de motim, dano ao aparelhamento militar (carros e mobiliário), dano a estabelecimento (quartel) e inutilização do meio destinado a salvamentos (impedir que carros saíssem para socorro). Dados oficiais apontam que os manifestantes danificaram viaturas, arrombaram portas do quartel e saquearam alimentos.
A situação vinha se tornando mais tensa desde maio, quando uma greve de guarda-vidas, que durou 17 dias, levou cinco militares à prisão. A paralisação acabou sendo encerrada por determinação da Justiça. Os bombeiros alegavam não ter recebido contraproposta do Estado sobre a reivindicação de aumento do piso mínimo para R$ 2 mil. Segundo eles, os profissionais recebem cerca de R$ 950 por mês.
Com informações de O Dia.