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Polícia

Casos de estupro no Rio de Janeiro aumentam 56% em quatro anos

Segundo estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP), foram 6.029 casos no ano passado, ante 3.846 ocorrências em 2008

20 mai 2013 - 09h29
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Os casos de estupro no Estado do Rio de Janeiro aumentaram 56,7% nos últimos quatro anos. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), 6.029 crimes deste tipo foram registrados no ano passado contra 3.846 em 2008. 

A escalada da violência sexual não está restrita às áreas mais nobres da cidade do Rio, apesar do destaque que os muitos crimes tiveram nos últimos meses. As regiões mais carentes e afastadas o estupro é uma rotina assustadora. Em alguns locais da zona sul, como Copacabana, a média é de uma ocorrência por mês, conforme os dados relativos a março deste ano. Por outro lado, determinadas regiões da Baixada Fluminense registram média de até 1,5 estupros por dia.

Número de estupros registrados no Rio de Janeiro por ano:

Número de estupros registrados no Rio de Janeiro por ano
Número de estupros registrados no Rio de Janeiro por ano
Foto: Arte / Terra

É o caso da área que abrange as cidades de Nova Iguaçu e Mesquita. Em março, por exemplo, foram 46 casos, o que significa que ocorreram 4,06 estupros para cada 100 mil habitantes. A região é a campeã em um triste ranking: dados do “Dossiê Mulher 2013”, editado pelo ISP, coloca a Área Integrada de Segurança Pública 20 (Aisp 20) como a com maior registro de ocorrência de violência sexual. Em 2012, 518 estupros foram contabilizados, uma alta de 19% na comparação com o ano anterior.

Em Duque de Caxias, as quatro delegacias da cidade registraram 35 estupros no mês de março, o que indica uma média de 3,99 estupros a cada 100 mil habitantes. Somente na 59ª DP, no centro de Duque de Caxias, foram verificados 18 casos naquele período.

Historicamente, a região também é uma das líderes neste tipo de crime. No ano passado, o número de ocorrências (319) cresceu 59,5% em relação a 2011. Entre as 39 áreas integradas de segurança divididas, a região de Duque de Caxias foi a segunda que teve mais registros de estupro em 2012.

Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp) que lideram estatísticas de estupro no Rio:

Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp) que lideram estatísticas de estupro no Rio
Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp) que lideram estatísticas de estupro no Rio
Foto: Arte / Terra

A Aisp 24, que abrange cidades como Japeri, Paracambi, Seropédica, Itaguaí e Queimados, teve 18 estupros no mês de março, o que aponta para uma média de 3,67 casos para cada 100 mil habitantes. Em 2012, foi a quarta região com mais registros, com 210 ocorrências, pouco acima das 207 observadas no ano anterior.

“As regiões da Baixada sempre tiveram mais casos. Às vezes, elas se alternam, uma passa à frente da outra, mas é onde há mais registros”, avalia a socióloga Andreia Soares Pinto, do ISP, uma das responsáveis pela elaboração do “Dossiê Mulher”.

Ao mesmo tempo, na região de Copacabana, foi observado um caso de estupro no mês de março, o que significa 0,61 estupro a cada 100 mil habitantes. Apesar de a área de Copacabana, na Aisp 19, ter sido uma das que teve menos registros de estupro em 2012, houve um acréscimo significativo no último ano. Foram 31 ocorrências em 2012, quase o triplo em relação a 2011.

Na Aisp 2, que engloba os bairros de Botafogo, Cosme Velho, Humaitá, Catete, Glória, Laranjeiras e Urca, também houve o registro de um estupro no mês de março, o que indica uma média de 0,41 estupro a cada 100 mil habitantes. Em janeiro e fevereiro deste ano, ocorreram dois estupros, em cada período.

Ainda na zona sul, na Aisp 23, área que reúne Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico, Rocinha, Lagoa, São Conrado e Vidigal, não houve registro de violência sexual no mês de março. Antes, tanto em janeiro quanto em fevereiro, foram observados quatro casos, o que significa uma média de 1,65 estupros a cada 100 mil habitantes.

Do total das áreas de segurança, a Aisp 23 ficou em 34º lugar, com o registro de 45 estupros. Na comparação com o ano anterior, houve incremento significativo: 73% de alta em relação aos dados de 2011. 

2012 teve média de 36,9 estupros no ano a cada 100 mil habitantes

De 2011 para 2012, os registros de estupro no Rio cresceram 23,7%. Em 2011, as 4.871 ocorrências representaram uma taxa anual de 30,1 estupros a cada 100 mil habitantes. No ano passado, os 6.029 casos significaram uma taxa anual de 36,9 estupros a cada 100 mil habitantes. Em 2008, eram 24,6 casos de violência sexual para cada 100 mil habitantes. “São casos que têm maior abalo social. Qualquer variação para cima, mesmo que pequena, é um sinal de alerta”, observa a socióloga. 

Do total de estupros em 2012, 82,8% tiveram mulheres como vítimas. Em relação a 2011, houve um acréscimo de 24,1% de casos de abuso sexual entre pessoas do sexo feminino.

A especialista do ISP ressalta que esse incremento no número de casos pode estar ligado ao fato de mais ocorrências estarem sendo comunicadas pelas vítimas. Segundo ela, a divulgação de campanhas para denunciar esse tipo de crime, associada ao maior conhecimento da Lei Maria da Penha, que pune de forma mais severa agressões a mulheres, e à disseminação de delegacias especializadas, contribuíram para que os casos abusos fossem relatados. Ao mesmo tempo, Andreia acredita que muitos casos não são comunicados, pelo temor das vítimas em denunciar, e até mesmo pela vergonha de se expor.

Crianças de até 14 anos são as maiores vítimas de estupro

As estatísticas dos casos de estupro no Rio de Janeiro apontam que crianças e adolescentes são as principais vítimas desse tipo de crime. Em 2012, do total de ocorrências, 51,4% foram contra meninas de até 14 anos. Já 15,4% das vítimas tinham de 15 a 19 anos.

“Essas meninas mais novas são mais vitimizadas porque são mais indefesas, não assimilam a ação de cara. As meninas mais velhas já sabem se defender mais, tanto que 51% das tentativas de estupro ocorrem contra mulheres de 15 a 29 anos”, destaca a socióloga.

Na maior parte dos casos, o agressor é conhecido da vítima. O grupo formado por companheiros, ex-companheiros, pais, padrastros, parentes ou pessoas do círculo de amizades da vítima representa 51,1% dos acusados. Os dados mostram que 22% das mulheres vítimas de estupro foram também vítimas de violência doméstica.

Vítimas de estupro recebem tratamento diferenciado em centros de apoio

O trauma causado pela violência sexual é considerado um dos mais pesados para as mulheres, maiores vítimas desse tipo de crime. Algumas levam anos em tratamentos para se recuperar, psicologicamente, do ataque sofrido, lembra Adriana Mota, coordenadora executiva da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres (SPMulheres). Ela coordena o apoio do Estado às mulheres vítimas de violência. No Rio, isso é feito pelo governo estadual em centros de apoio a vítimas de violência gerenciadas pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim). São três unidades, situadas em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em Manguinhos, na zona norte do Rio, e no centro. Além disso, existem centros disponibilizados pelas prefeituras, cuja relação pode ser encontrada no site da Cedim.

Vítimas de estupro por sexo em 2012:

Vítimas de estupro por sexo em 2012
Vítimas de estupro por sexo em 2012
Foto: Arte / Terra

As vítimas recebem apoio de psicólogos, assistentes sociais e advogados. Não há tempo previsto para o tratamento, explica Adriana. As vítimas têm assistência até que possam minimizar os traumas e estejam aptas a seguir, reagir e ir em frente. Cada vítima tem um plano individual de tratamento, ao contrário de vítimas de agressões físicas, que, em muitos casos, recebem atendimento coletivo.

“É um tratamento diferenciado. É elaborado um plano individual. Algumas usuárias frequentam há muitos anos. Outras se recuperam mais rápido, e seguem tocando a vida, sem ajuda psicológica. Mas algumas têm grandes dificuldades de superar o trauma”, afirma Adriana.

Embora não possa mensurar o volume de mulheres que deixam de procurar apoio, Adriana reconhece que existe um contingente considerável que não é atendido. Segundo ela, devido à vergonha de se expor, e até mesmo por receio da reação do agressor, que muitas vezes mora com a própria vítima.

“Muitas têm dificuldade de buscar o serviço, especialmente pela vergonha em se expor. Para algumas, é difícil abrir e se expor em relação à agressão sofrida”, comenta.

Ainda assim, argumenta Adriana, vem se observando, de forma geral, maior confiança e procura nos centros. Isso ocorre, segundo ela, pelas campanhas feitas em meios de comunicação, conclamando as vítimas a denunciar o ato violento e procurar ajuda psicológica.

No centros oferecidos pelo governo estadual, a maior parte das vítimas é oriunda de áreas carentes. Adriana confirma que existe uma grande demanda na Baixada Fluminense, onde há um número mais significativo de ocorrências de violência sexual. Apesar de menores de idade serem vítimas mais comuns de estupros, esses centros não são aptos a atender pessoas dessa faixa etária, que são encaminhadas para bases de apoio a menores e adolescentes.

Fonte: Terra
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