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Caso Bruno

Após 2 anos, goleiro Bruno começa a ser julgado na segunda

18 nov 2012 - 14h05
(atualizado às 14h16)
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Dois anos e cinco meses após o desaparecimento de Eliza Samudio, o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes de Souza e outros quatro acusados pelo Ministério Público (MP) pela suposta morte da ex-amante do atleta começarão a ser julgados na manhã desta segunda-feira. Além de Bruno, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, Fernanda Gomez Castro e Dayanne do Carmo Souza, respectivamente ex-namorada e ex-mulher do jogador, irão a júri popular a partir das 9h, no Fórum de Contagem.

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A sessão será coordenada pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, do 1º Tribunal do Júri de Contagem, e tem previsão de durar até duas semanas. Bruno, Bola e Macarrão estão detidos e serão levados, no início da manhã, dos presídios até o fórum. Fernanda e Dayanne respondem em liberdade e foram intimidas a comparecer à audiência.

Inicialmente, 25 jurados estarão presentes na abertura do julgamento, mas apenas sete serão sorteados para compor o Conselho de Sentença. No total, 30 testemunhas de defesa e acusação serão ouvidas. Os depoimentos devem começar já no primeiro dia de audiências. São cinco testemunhas arroladas pelo MP e 25 pela defesa dos cinco réus.

O processo tem, atualmente, 38 volumes, com 9.456 páginas. Mais de 50 advogados já atuaram nesse caso. Bruno e Macarrão respondem por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e uso de métodos que dificultam a defesa da vítima). Bola responde por homicídio duplamente qualificado (meio cruel e sem permitir defesa da vítima), e ocultação de cadáver. Dayane e Fernanda respondem por sequestro e cárcere privado.

Outros réus

O caseiro Elenilson Vitor da Silva e Wemerson Marques, o Coxinha, também acusados no processo, serão julgados em outra data. Isso porque o processo precisou ser desmembrado. A juíza entendeu que como o processo conta com sete réus, não haverá matemática que permita a realização de um único julgamento sem que haja ¿estouro de urna¿, pois cada parte tem o direito de recusar três deles. Logo, se todas as partes recusarem sua cota, não seria possível realizar um julgamento com apenas quatro jurados.

Defesa

Um dos advogados de defesa, Francisco Simin, disse que Bruno "está muito tranquilo e confiante na absolvição". Ele, que também defende Dayanne, afirma que o atleta "não demonstra ansiedade e aumentou ainda mais a esperança de sair livre" depois da absolvição de Bola no júri em que era acusado da morte de um carcereiro em 2000.

Já os advogados de Bola afirmam que possuem uma prova cabal da inocência do ex-policial. Eles prometem pressionar o delegado Edson Moreira, responsável pelas investigações do caso, por pelo menos três dias. "Ele vai ter que explicar tudo nos seus pormenores, não vamos deixar passar nada", disse Ércio Quaresma.

A alegação dos defensores de Bola é de que Edson Moreira "imputou" ao ex-policial a morte de Eliza por perseguição, já que Moreira e Bola teriam tido divergências quando supostamente foram colegas de profissão nas polícias Militar de São Paulo e Civil em Minas Gerais. O delegado sempre negou essa hipótese e diz que nunca trabalhou com Bola, a quem classifica de "especialista em matar".

O corpo de Eliza nunca foi encontrado e esse é um dos principais argumentos da defesa. Nos dias que precedem o julgamento, os advogados Pimenta e Simin divulgaram uma série de possíveis paradeiros da ex-amante do goleiro. Segundo eles, Eliza não só está viva, como mudou de nome e vive fora do País. A acusação considera a tese "invenção".

Acusação

O promotor Henry Wagner Vasconcelos, responsável pela acusação, afirmou estar pronto para enfrentar as manobras e também as provocações dos advogados, principalmente Ércio Quaresma e Zanone Manuel, que defendem Bola, e Rui Pimenta, que representa Bruno. "(Estou) extremamente preparado. Conheço as provas, conheço os vieses da defesa e vou ao plenário buscar a condenação dos réus", garantiu o promotor em entrevista ao Terra há uma semana.

No entanto, uma das principais testemunhas da acusação não estará presente no julgamento. Trata-se de Jorge Lisboa Rosa, primo do goleiro, e que à época do crime tinha 17 anos e revelou a trama. Ele está incluído no programa de proteção a testemunhas e o promotor chegou a solicitar o seu depoimento através de videoconferência, mas o pedido foi negado. Assim, a oitiva do primo de Bruno deve ser substituída pelo depoimento da autoridade policial que coletou declarações da testemunha durante as investigações.

Em 2010, quando o crime foi descoberto, foi Jorge Rosa quem deu detalhes e que afirmou que Eliza foi morta por Bola, esquartejada e dada a cães da raça rotweiller. O advogado Rui Pimenta disse que sem o depoimento de rosa, o promotor "estará fuzilado, ele estará entregando o júri".

Manobras para adiar o júri

Rui Pimenta e Francisco Simin integram a equipe de defesa do ex-goleiro, mas, segundo o promotor, existe a possibilidade de Bruno desconstituir a equipe em plenário para tentar adiar o júri. "Se isso acontecer, sem sombra de dúvidas, a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais será acionada para promover a defesa do acusado Bruno", informou Henry Wagner.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.

Bruno está preso desde julho de 2010
Bruno está preso desde julho de 2010
Foto: Lucas Prates / Futura Press
Fonte: Terra
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