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Polícia

Promotoria entra com recurso contra absolvição de ex-policial Bola

9 nov 2012 - 12h14
(atualizado às 15h43)
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Ney Rubens
Direto de Belo Horizonte

O promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro confirmou nesta sexta-feira que entrou com recurso ontem para contestar a absolvição de Marcos Aparecido Santos, o Bola. De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, não há prazo para a análise do pedido e, se houver um novo julgamento, ele só deverá ocorrer após o caso Bruno, a ser julgado no próximo dia 19.

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Sobre este julgamento, Castro disse que arrolou cinco testemunhas de acusação, entre elas: o detento Jailson Alves, que era companheiro de cela de Bola e teria ouvido dele uma confissão do crime; e a delegada Ana Maria Santos, que foi quem ouviu o depoimento do primo de Bruno, Jorge. O primo de Bruno, Jorge Lisboa Rosa, que na época do crime tinha 17 anos e revelou a trama, não será intimado a depor porque está incluído no programa de proteção a testemunhas, informou nesta manhã o promotor Castro em entrevista coletiva. A defesa poderá intimar 25 testemunhas.

O advogado Rui Pimenta, que defende o goleiro Bruno, disse nessa sexta-feira que caso o primo do atleta não seja intimado para depor no júri do caso Elisa Samudio, o promotor de Justiça "estará fuzilado, ele estará entregando o júri". Em 2010, quando o crime foi descoberto pela polícia, foi Jorge Rosa quem deu detalhes e que afirmou que Elisa foi morta por Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e também esquartejada e dada a cães da raça rotweiller.

"Ele (Jorge) estava arrolado pelo próprio MP. Foi ele, inclusive, que deu origem ao processo (ao revelar a trama). É a principal testemunha, e o medo do promotor é o de que o primo do Bruno chegue no julgamento e negue tudo, dizendo que foi arrochado pela polícia para contar toda a história", disse o defensor de Bruno. Para Pimenta, o Ministério Público, "como dono da ação penal, não pode abrir mão da principal testemunha. O que o promotor está fazendo é impedindo as provas que estão nos autos". O advogado disse ainda que provavelmente pedirá à juíza Marixa Fabiane a convocação do primo do goleiro, caso o MP deixe mesmo Jorge de fora.

O promotor Henry Castro disse acreditar que todos os réus serão condenados e que o resultado do júri de Bola não vai influenciar na decisão do conselho de sentença que será sorteado no próximo dia 19. Ele crê que o julgamento dure três semanas - somente a fase de debates entre MP e advogados de defesa pode durar 14 horas.

O ex-policial Bola respondia pela morte do carcereiro Rogério Martins Novelo, em maio de 2000. A decisão dos jurados ocorreu por quatro votos a dois, no Fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), no julgamento ocorrido na última quarta.

A vítima morreu em 2000, mas Bola só foi acusado em 2010, quando foi reconhecido por uma das testemunhas do crime, depois que sua imagem foi veiculada em diversas emissoras de TV e em jornais pelo suposto envolvimento no assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno de Souza. O júri entendeu não haver provas suficientes que apontassem a Marcos Aparecido a autoria do crime.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.

Ex-policial Bola foi julgado pela morte do comerciante e carcereiro Rogério Martins Novelo
Ex-policial Bola foi julgado pela morte do comerciante e carcereiro Rogério Martins Novelo
Foto: Ney Rubens / Especial para Terra
Fonte: Terra
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