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Caso Bruno

MG: envolvido no Caso Bruno, Bola é absolvido por outra morte

7 nov 2012 - 17h14
(atualizado às 23h05)
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Ney Rubens
Direto de Belo Horizonte

O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi absolvido no julgamento em que respondia pela morte do carcereiro Rogério Martins Novelo, em maio de 2000. A decisão dos jurados ocorreu por quatro votos a dois, no Fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG).

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A vítima morreu em 2000, mas Bola só foi acusado em 2010, quando foi reconhecido por uma das testemunhas do crime, depois que sua imagem foi veiculada em diversas emissoras de TV e em jornais pelo suposto envolvimento no assassinato de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno de Souza.

Segundo denúncia do Ministério Público (MP), o ex-policial teria atirado contra a vítima, que estava dentro de um veículo em frente ao estabelecimento comercial onde trabalhava. Para o MP, o crime teria sido encomendado, já que os dois não se conheciam. Bola foi reconhecido pela irmã da vítima, que presenciou o crime.

De acordo com Zanone Manuel, um dos advogados de defesa do ex-policial, "as provas no processo eram demasiadamente fracas". "Mais do que justo, não foi questão de vingança ou de opinião pública. Foi uma questão de justiça (a absolvição)", declarou. Também atuando na defesa de Bola, Ércio Quaresma afirmou que os jurados resistiram à pressão da opinião pública, que, segundo ele, cobrava a condenação de seu cliente. "O conselho de sentença é quem julga, e ele não se curva aos holofotes, à mídia e ao sensacionalismo barato. O cidadão de Contagem se atém à prova", afirmou.

O júri entendeu não haver provas suficientes que apontassem a Marcos Aparecido a autoria do crime. O principal ponto de argumentação da defesa residia no fato de o ex-policial ser um exímio atirador e especialista em armamentos. Segundo o processo, a vítima teria sido morta por um tiro disparado a menos de 1 m de distância, à queima-roupa. O advogado Zanone Manuel alegou, durante sua sustentação oral perante os jurados, que a pessoa que cometeu o crime foi "burra e amadora", "porque não se preocupou em esconder o rosto, e ainda errou dois dos três disparos, além de utilizar uma arma (pistola 765) considerada fraca, que uma pessoa como o Paulista (Bola) não usaria".

Os advogados insistiram ainda na tese de que a única testemunha do crime era uma mulher de nome Renata, irmã do carcereiro. Para os advogados, havia, além do conflito por ela ser parte interessada, erros na identificação por meio de retrato falado e também de fotos, já que, na descrição apresentada à polícia pela testemunha, o homem que cometeu o crime seria moreno e obeso, incompatível com as características de Bola, segundo a defesa.

Promotoria promete recorrer

Após o anúncio da absolvição de Bola, o promotor Henry Wagner Castro afirmou que pretende recorrer da decisão, dentro de um prazo de cinco dias, pedindo a realização de um novo júri em segunda instância. "O Ministério Público respeita, mas não concorda com a decisão do conselho de sentença", disse.

Responsável também pela acusação no Caso Bruno, a ser julgado no próximo dia 19, Castro disse não acreditar que a absolvição de Bola tenha algum reflexo no júri pela morte de Eliza Samudio. "Seria subjugar a inteligência dos jurados", afirmou.

Apesar de também não crer em influência da decisão, o advogado Ércio Quaresma afirmou que os dois processos guardam semelhanças, principalmente quanto à falta de embasamento das acusações. "Eu tenho dito que qualquer sorte de resultado aqui não interfere no outro processo. Agora, no processo da Eliza Samudio, falta o que faltou nesse aqui: provas. Quem vai decidir é o conselho de sentença, e não qualquer abutre", afirmou, em tom irônico, referindo-se ao delegado Edson Moreira, responsável pelas investigações do Caso Bruno.

Presente ao julgamento, Midjan Kelly dos Santos, filha de Bola, demonstrou confiança de que seu pai seja absolvido também da acusação de participação na morte de Eliza. "(Estamos) felizes, aliviados. Acreditamos na inocência dele. A verdade é a verdade. O primeiro cadeado foi aberto, e estamos confiantes na absolvição do segundo", disse.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.

Ex-policial vibrou muito ao ouvir a sentença que o absolveu da acusação
Ex-policial vibrou muito ao ouvir a sentença que o absolveu da acusação
Foto: Ney Rubens / Terra
Fonte: Especial para Terra
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