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Polícia

Caso Joanna: réu diz que havia esquema para contratar alunos

1 mar 2011 - 20h27
(atualizado às 20h39)
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O estudante de Medicina Alex Sandro da Cunha Souza disse nesta terça-feira que havia um esquema de contratação de acadêmicos para atuar como médicos, inclusive com o uso de carimbos falsos, em hospitais na zona oeste do Rio de Janeiro. Ele, que estava desde agosto foragido, é suspeito da morte da menina Joanna Cardoso Marcenal Marins, 5 anos.

O juiz Alberto Fraga, em exercício no 3º Tribunal do Júri da capital, interrogou o réu. Ao final da audiência, que aconteceu na parte da tarde e durou pouco mais de duas horas, o magistrado rejeitou o pedido de revogação da prisão preventiva do estudante. Ele considerou que Alex Sandro se manteve foragido desde agosto de 2010. Segundo Alex, a médica Sarita Fernandes Pereira, uma das pessoas acusadas na morte da menina, era a responsável pelas entrevistas e contratação dos estudantes.

O acadêmico é acusado de exercício ilegal da Medicina com resultado morte, estelionato, falsificação e uso de documento falso e tráfico ilícito de entorpecentes. Contratado pela médica e coordenadora da pediatria do hospital Rio Mar, Sarita, ele atendeu a menor no dia 17 de julho de 2010 e lhe deu alta quando ela ainda apresentava convulsões e estava desacordada. Alex usava o carimbo do médico André Almeida, que sequer integrava a equipe do hospital. No dia anterior, a criança foi atendida por Sarita que, segundo o Ministério Público estadual, foi omissa e a liberou sem a realização de exames e tratamento médico adequado.

Joanna Marins morreu no dia 13 de agosto de 2010. Sarita foi presa no dia seguinte, mas Alex Sandro, que também teve a prisão preventiva decretada, fugiu. Ele se apresentou ontem, dia 28 de fevereiro, na delegacia de Nova Iguaçu.

Em seu depoimento, disse que em 2009, na faculdade Unigranrio, em Duque de Caxias, onde cursava o 7º período do curso de Medicina, soube por um colega que a médica contratava alunos. Ela o entrevistou e teria dito que seus acadêmicos trabalhavam com um carimbo de médico e que ela tinha alguns contatos em hospitais na zona oeste onde poderia colocar seus indicados.

"O acadêmico deveria comparecer ao hospital com o carimbo e se identificar como médico", afirmou o réu em juízo. Ainda de acordo com ele, Sarita o colocou, sucessivamente, em três unidades, sendo a primeira no hospital Memorial, em Santa Cruz; seguido do hospital Geral Cemeru, também em Santa Cruz; e, por último, no hospital Rio Mar, Barra da Tijuca, onde atendeu Joanna. O réu afirmou também que a médica Sarita teria dito que, com o carimbo de médico, ele receberia como tal e que parte do valor deveria ser repassado a ela.

Indagado sobre a veracidade dos fatos narrados na denúncia, o suspeito disse que, em parte, são verdadeiros. A próxima fase do processo será a apresentação das alegações finais do MP e da defesa. Em seguida será proferida sentença que decidirá se o estudante irá ou não a júri popular.

A médica é acusada do crime de homicídio doloso por omissão e exercício irregular da Medicina com resultado morte. Ela responde também por estelionato, falsificação e uso de documento falso e tráfico ilícito de entorpecentes.

Além do atendimento médico suspeito, a menina poderia ter sofrido maus tratos dos pais. No dia 7 de fevereiro, o juiz Alberto Fraga interrogou o funcionário público André Rodrigues Marins, pai de Joanna, que alegou inocência. André Marins e sua mulher, Vanessa Maia Furtado, são acusados de tortura e homicídio qualificado, na forma omissiva, contra a criança, que morreu vítima de meningite herpética.

Segundo o Tribunal de Justiça, em seu depoimento ao juiz, o réu deixou claro, inúmeras vezes, que era leigo e que no período de 15 a 19 de julho de 2010 vários especialistas viram a menor. Quanto à lesão na nádega da criança, ele disse que a menina já viera assim da casa da mãe, a médica Cristiane Marcenal.

Sobre o depoimento da babá da criança, André Marins confirmou que seguiu recomendação da psicóloga para usar fita crepe na ponta dos dedinhos de Joanna. Ele contou também que lutou durante cinco anos para conseguir ter contato com a filha. Segundo o réu, em 26 dias de internação nenhum médico diagnosticou a doença da menina e, só após 40 dias do óbito, o Instituto Médico Legal o fez. O interrogatório de André durou duas horas.

O caso
A menina Joanna, 5 anos, morreu em agosto de 2010, no Hospital Amiu, em Botafogo, onde passou 26 dias em coma. Ela foi internada com edema cerebral, hematomas nas pernas e sinais de queimaduras. Antes de chegar ao Amiu, ela foi levada ao Hospital Rio Mar, na zona oeste, onde foi atendida por um estudante de Medicina, acusado de lhe dar alta mesmo estando desacordada. Ele disse ter sido contrato pela médica Sarita Fernandes Pereira, que também chegou a ser presa acusada do homicídio.

De acordo com a denúncia do MP, o pai e a madrasta submeteram a criança a intenso sofrimento e a mantiveram dentro de casa com as mãos e pés amarrados. A menina, que teria sido deixada por horas e dias deitada no chão suja de fezes e urina, foi, ainda segundo a denúncia, queimada na região das nádegas e lesionada com hematomas em diversos pontos do corpo e na face.

Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que Joanna foi vítima de maus-tratos e que morreu devido a uma meningite viral. Segundo o documento, a doença se desenvolveu devido à baixa imunidade da criança. O pai de Joanna e a madrasta da criança respondem por tortura e homicídio qualificado. A médica Sarita e o aluno de Medicina que atendeu Joanna também respondem pela morte da criança.

Fonte: O Dia
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