Casal de extrativistas morto no PA já teria sofrido atentado

25 mai 2011 - 12h15

Clara Santos, sobrinha dos extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, afirmou nesta quarta-feira que o casal já vinha relatando ameaças e, inclusive, sofreu um atentado há cerca de um mês e meio. Segundo ela, tiros foram disparados no quintal da casa deles. "A família estava super preocupada. Meu tio tinha pedido proteção à polícia e ao Estado. Reclamava muito da falta de apoio", revelou a jovem.

Em vídeo, extrativista revela que já vinha sendo ameaçado:

O casal foi assassinado a tiros ontem, numa estrada vicinal que leva ao Projeto de Assentamento Agroextrativista (Paex) Praialta-Piranheira, na comunidade de Maçaranduba, a 45 km do município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

Exploração sustentável

"Acho injusto ele ser lembrado agora apenas pelas denúncias que fazia, em vez do trabalho que desenvolvia tanto na roça dele como na de outras pessoas, com extração de óleo, coleta de frutas. E de tudo que ele aprendia e ensinava a partir dos cursos de capacitação que fazia e proporcionava. Ele sempre acreditou ser possível lucrar sem prejudicar a floresta", disse Clara.

Para a sobrinha, José Cláudio e Maria devem ser lembrados por seu trabalho de conscientização a respeito de formas de exploração sustentável da floresta. "Meu tio sempre mostrava às pessoas que a floresta, mesmo em pé, dava muito lucro. É importante enfatizar isso. Ele tinha um trabalho muito importante com as comunidades. Viajava muito para aprender alternativas simples que podiam ajudar as famílias a lucrarem com a exploração sustentável da floresta e depois ensinava o que aprendia."

Clara estava bastante emocionada durante o velório e, receosa, não quer fazer qualquer tipo de acusação contra supostos mandantes. "Não quero fazer especulações", disse.

Investigação

Ainda na terça-feira, a presidenta Dilma Rousseff determinou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal seja acionada para investigar o assassinato dos dois líderes, ligados ao Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). Além da PF, o Ministério Público Federal e a Polícia Militar do Pará também estão investigando a morte do casal.

José Cláudio teve sua orelha cortada pelos assassinos - prática comum em casos de assassinatos com características de pistolagem. Por isso, há suspeitas de que o crime foi cometido por encomenda.