PUBLICIDADE

Polícia

Carandiru: 'Rota não é contra preto e pobre', diz ex-comandante

Segundo o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, o 'povo adora' a Rota

1 ago 2013 - 20h42
(atualizado às 21h12)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Em depoimento, comandante da Rota afirmou que a tropa é adorada pela população</p>
Em depoimento, comandante da Rota afirmou que a tropa é adorada pela população
Foto: Fernando Borges / Terra

O ex-comandante da Rondas Ostesivas Tobias de Aguiar (Rota) tenente-coronel Salvador Modesto Madia afirmou nesta quinta-feira, durante um interrogatório de quase seis horas por conta da morte de 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo, em outubro de 1992, que a ideia de que a polícia atua com mais veemência contra "preto e pobre" não condiz com a verdade. Madia era tenente na época do "massacre do Carandiru" e junto com a sua tropa, responde por 73 mortes, ocorridas no terceiro pavimento do prédio.

Júri condena 23 PMs a 156 anos de prisão por massacre do Carandiru
"Vocês vão decidir que polícia querem na rua", diz defesa
Absolver PMs é 'cuspir na cara do bom policial', diz acusação
Defesa cita 'Tropa de Elite' e acusa governo para absolver PMs
MP exalta letalidade da Rota e acusa PM de 'plantar' armas

"O povo adora a gente. A Rota não é contra preto e pobre. É só olhar para essa amostra da tropa que está aqui”, disse ele, apontando para outros 22 policiais que estão sob julgamento. Nesse momento, alguns deles, negros, se levantaram. Um se pronunciou, dizendo que passou 13 anos protegendo a população. Em seguida, começou a chorar, após ser advertido pelo juiz de que as manifestações não eram permitidas.

Madia disse também que membros da tropa comumente têm problemas financeiros. Segundo ele, muitos se aposentam com uma renda menor do que R$ 3 mil. Ele afirmou que essa percepção de parte da população se dá porque a Rota atua nas áreas em que o Estado entra menos. "O marginal entra onde o Estado não entra. Atuamos tanto na periferia como nos Jardins. Batemos com o crime organizado de verdade.”

O tenente-coronel disse que depois do "massacre do Carandiru", tudo dentro da polícia mudou. "Só uma coisa não mudou. O sistema penitenciário continua um lixo. Onde cabe 200, tem 900. O Carandiru só mudou de endereço. Hoje está em Hortolândia, Tremembé e Itirapina..." 

Julgamento

O quarto dia do julgamento dos 25 policiais militares acusados por 73 das 111 mortes ocorridas em 2 de outubro de 1992, na Casa de Detenção de São Paulo, nesta quarta-feira, está reservado para o interrogatório do coronel Salvador Modesto Madia e para a apresentação de vídeos e parte do processo colhidos nesses quase 21 anos que separam a ocorrência e o seu julgamento.

Esta é a segunda etapa do julgamento, que começou em abril com a condenação de 23 policiais militares - todos integrantes do 1º Batalhão de Choque (a Rota - Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Eles receberam uma pena de 156 anos de prisão, em regime fechado, por conta de 13 das 15 mortes ocorridas no primeiro andar do prédio. Todos recorrem da sentença em liberdade.

Nessa primeira etapa, os policiais receberam a pena mínima para cada homicídio, que é de seis anos, somada a mais seis anos por impossibilitarem a defesa das vítimas. Os 12 anos foram multiplicados pelas 13 mortes para se chegar ao resultado final da sentença. Na ocasião, o júri ainda absolveu três PMs denunciados: Roberto Alberto da Silva, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues, seguindo recomendação do próprio Ministério Público. A justificativa é que eles não atuaram no 1º andar do pavilhão com a tropa.

Relembre o caso

Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade