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Polícia

Carandiru: advogada apresenta policiais com invalidez para defesa de PMs

Defesa dos 25 policiais que atuaram no Carandiru diz que principais responsáveis ficaram impunes e que 30 mortes jamais serão julgadas

2 ago 2013 - 18h25
(atualizado às 18h25)
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<p>Julgamento dos policiais réus no caso do massacre do Carandiru ocorre no Fórum da Barra Funda</p>
Julgamento dos policiais réus no caso do massacre do Carandiru ocorre no Fórum da Barra Funda
Foto: Fernando Borges / Terra

A defesa dos 25 policiais que são julgados desde segunda-feira acusados por 73 mortes no terceiro pavimento do Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, em 1992, abriu a sua explanação nesta sexta-feira com a apresentação de policiais militares portadores de deficiência física, adquirida no desempenho de suas funções. Cerca de 20 deles, em cadeiras de rodas e portando muletas, sentaram-se na plateia e foram apresentados pela advogada Ieda Ribeiro de Souza aos jurados da seguinte maneira: "mesmo nessa condição, estes senhores se orgulham de ser da corporação, de ser da Polícia Militar". Eles fazem parte da Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência.

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Desde o início, a estratégia da defesa é mostrar quem os policiais trabalham em condições nem sempre ideais para a sua segurança e que são apaixonados pelo ofício que desempenham. "Muitos deles estão nessas condições ou mortos", afirmou ela.

Sobre os réus, a advogada disse que os considera hoje como pessoas da família. "Já são mais de 18 anos que faço a defesa de vocês. Na mente desses senhores, todas as vezes que entram em confronto, podem ficar certos que aparece a imagem dos familiares que estão aqui presentes", afirmou.

Ela lembrou que os réus só estão sendo julgados porque disseram: "eu atirei". Segundo ela, outros, que negaram ter atirado, sequer foram a julgamento. "O promotor vem aqui e diz que das 73 mortes pelas quais os réus estão sendo acusados, como por encanto, caíram para 52. Sequer o Ministério Público tem certeza, por que vou exigir desses homens que saibam exatamente como aconteceram aquelas mortes?".

De acordo com o processo, dos 111 mortos naquela tarde, nove deles não foram atingidos por armas de fogo. Além disso, o promotor Fernando Pereira da Silva, responsável pela acusação, pediu na manhã de sexta-feira que a morte de 21 desses presos deixassem de ser imputadas aos acusados. Segundo ele, três foram mortos por armas brancas - durante a briga entre os presos - outros quatro morreram fora do andar e 14 outros foram mortos do lado direito do pavimento, local em que os policiais acusados, da Rota, não teriam atuado.

"Parabéns para a Justiça. Essas 30 mortes vão ficar impunes. Outras duas, no primeiro andar também. São 30 ‘mortezinhas’ que não ficaram esclarecidas e não vão ficar nunca. Nunca vi nenhuma entidade investigar quem são os responsáveis pelas nove mortes que ocorreram antes de a polícia entrar no local."

Nos debates, tanto acusação quanto defesa citaram o confronto balístico para saber de onde teriam partido os tiros que mataram os detentos. Porém, a advogada Ieda de Souza afirmou que a defesa necessitava dessas provas, lembrando a repercussão internacional que o caso teve na época.

“Se eu, Brasil, sou incompetente para fazer isso, manda para os Estados Unidos. Mas é mais fácil pegar o avião, vir aqui e dizer que somos incompetentes e que foi o maior massacre a detentos do mundo”, disse a advogada. “É mais fácil tornar esse caso político”, completou.

Em relação à identificação dos presos no momento da invasão, a defesa insistiu na incapacidade de os policiais enxergarem por conta da escuridão do local. Ieda, inclusive, apagou as luzes do plenário para tentar exemplificar isso. “É apenas uma dica básica de como eles encontraram o pavimento, com barulho de vozes altas e sem conseguir ver nada”, argumentou.

Julgamento 
O quinto dia do julgamento dos 25 policiais militares acusados por 73 das 111 mortes ocorridas em 2 de outubro de 1992, na Casa de Detenção de São Paulo, nesta sexta-feira, está reservado para o debate entre acusação e defesa dos réus, que deve se estender por até 10 horas. Depois disso o conselho de sentença se reúne para definir o futuro dos réus. A decisão deve sair por volta das 2h deste sábado.

Esta é a segunda etapa do julgamento, que começou em abril com a condenação de 23 policiais militares - todos integrantes do 1º Batalhão de Choque (a Rota - Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Eles receberam uma pena de 156 anos de prisão, em regime fechado, por conta de 13 das 15 mortes ocorridas no primeiro andar do prédio. Todos recorrem da sentença em liberdade.

Nessa primeira etapa, os policiais receberam a pena mínima para cada homicídio, que é de seis anos, somada a mais seis anos por impossibilitarem a defesa das vítimas. Os 12 anos foram multiplicados pelas 13 mortes para se chegar ao resultado final da sentença. Na ocasião, o júri ainda absolveu três PMs denunciados: Roberto Alberto da Silva, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues, seguindo recomendação do próprio Ministério Público. A justificativa é que eles não atuaram no 1º andar do pavilhão com a tropa.

Relembre o caso 
Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Fonte: Terra
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