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Polícia

Atropelador de ciclistas abandona carro e volta ao trabalho no RS

24 fev 2012 - 13h44
(atualizado às 14h07)
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Mauricio Tonetto
Direto de Porto Alegre

O funcionário do Banco Central de Porto Alegre (RS) Ricardo Neis, 47 anos, tenta retomar aos poucos uma vida anônima, mesmo que sobre seu passado recente paire imagens de ciclistas atropelados e no futuro próximo se aproxime a tensão de um júri popular. Em 25 de fevereiro de 2011, ele atingiu um grupo de ciclistas no bairro Cidade Baixa e, dias depois, foi preso. Desde então, Neis abandonou o carro, se afastou do trabalho, tentou internação psiquiátrica, enfrentou audiências, foi acusado de tentativa de homicídio pelo Ministério Público e tornou-se o símbolo de um movimento que cobra mais bicicletas nas ruas e menos automóveis. Enquanto aguarda a decisão da Justiça e teme um júri, ele retornou ao trabalho em fevereiro e desistiu de voltar a dirigir.

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"Não há interesse de que o Neis dirija novamente, pois o trauma foi grande. Ele voltou a trabalhar recentemente e tem o apoio da sua família. Todos na sua volta chegaram à conclusão de que alguma coisa houve para o Neis agir daquele jeito. Ele está ansioso com a situação e não quer o júri, por causa do abalo", relatou o seu advogado, Alexandre Luís Maziero, que também disse que o acusado fez curso de reciclagem de trânsito.

Maziero informou que o atropelador ficou um tempo afastado do trabalho após obter licença médica e tirar férias em seguida, retornando agora para "levar a vida normal". O advogado acredita que ainda faltam elementos para que a Justiça possa validar o júri. "Pedimos imagens para a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) de Porto Alegre que comprovam a agressividade dos ciclistas. Além disso, há outras diligências que precisam ser esclarecidas".

Promotora critica "enrolação"

A Justiça recebeu do MP o pedido para júri popular no dia 15 de fevereiro. Na última audiência, em dezembro de 2011, as testemunhas de Ricardo Neis "não o ajudaram", conforme a promotora Lúcia Callegari. Ela critica a "enrolação" da defesa, que estaria tentando fazer o processo "cair no esquecimento".

"Algumas testemunhas disseram 'já me incomodei com ciclistas e pensei em fazer o mesmo, mas não fiz'. A diferença é que o Neis fez. Estou aguardando a decisão da Justiça ansiosamente, pois sei que o advogado está enrolando", criticou ela. "É uma coisa muito chata isso. Talvez ele esteja tentando levar o processo ao esquecimento", completou.

Advogado promete ir ao STF

O advogado Alexandre Luís Maziero promete levar o caso até a última instância, o Supremo Tribunal Federal (STF), caso a Justiça gaúcha decida pelo júri. Conforme ele, o MP está "fazendo sua parte". "Eu não vou criticar o trabalho da promotora, até porque eu teria muita coisa para falar. Não vou entrar nesse jogo. Nós vamos apelar até o STF contra o júri, pois esse é o nosso papel", garantiu.

Já a promotora Lúcia Callegari argumentou que o caso "pode servir para inibir outros. "A gente nunca imaginou que alguém faria isso. Esperamos que o júri traga a sensação de que as pessoas não são donas das ruas. Como é vamos admitir uma ação assim? O agir é diferente do pensar. As próprias testemunhas nos deixaram bem claro isso."

Motorista atropela e foge

Um grupo de ciclistas que tradicionalmente percorre as ruas do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, foi atropelado por volta das 19h do dia 25 de fevereiro de 2011. Segundo a Polícia Militar, 100 ciclistas do movimento Massa Crítica seguiam pela rua José do Patrocínio, quando foram surpreendidos por um Golf preto na esquina com a rua Luiz Afonso. A maioria escapou do atropelamento, mas 17 ficaram feridos, sendo cinco com lesões, que foram encaminhados ao Hospital de Pronto Socorro.

A polícia disse que o atropelamento foi intencional e que o motorista do Golf acelerou várias vezes antes de derrubar os ciclistas. Após ouvir testemunhas, os policiais conseguiram a placa do veículo e identificaram o proprietário como Ricardo Neis, 47 anos, funcionário do Banco Central.

Ricardo Neis foi preso no dia 2 de março. Em depoimento à Polícia Civil, ele alegou legítima defesa, relatando que os manifestantes agiram com violência contra seu carro. De acordo com o polícia, as vítimas foram impedidas de se defender, uma vez que o motorista avançou com seu carro enquanto os ciclistas estavam de costas, sem esperar o golpe. As testemunhas do processo já foram ouvidas e a Justiça deve decidir se Neis irá para júri popular.

Fonte: Terra
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