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Polícia

'Quem não reagiu está vivo', diz Alckmin sobre operação da Rota

12 set 2012 - 17h36
(atualizado às 18h12)
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O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, defendeu nesta quarta-feira a ação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) que resultou na morte de nove pessoas em Várzea Paulista, na Grande São Paulo. "Quem não reagiu, está vivo", disse o governador.

A operação, que envolveu 40 homens, tinha o objetivo de impedir a realização de um "tribunal do crime organizado" para julgamento e execução de um acusado de estupro. "Você tem em um carro quatro (criminosos): dois morreram, dois estão vivos, (pois) se entregaram", exemplificou o governador, detalhando a ação.

De acordo com o Alckmin, a Rota foi acionada por ser uma unidade mais preparada para esse tipo de enfrentamento. "Sempre que você tem casos de muito armamento, vários criminosos, organização criminosa, a Rota é exatamente para isso", disse ao justificar o uso do batalhão de elite em vez do policiamento local da cidade.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Roberval Ferreira França, negou que a ação tenha sido motivada pelos casos de execuções de policiais ocorridos nos últimos meses. Em nove meses foram mortos 67 membros da corporação em todo o estado, 40% mais do que em todo ano de 2011. De acordo com o coronel, a operação foi motivada por uma denúncia anônima.

Para o especialista em segurança pública e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, Guaracy Mingardi, a polícia de São Paulo está envolvida em um ciclo de vinganças contra o crime organizado. "Isso é uma quebra do regime democrático de direito, que você não pode deixar acontecer", disse.

O problema tem origem, de acordo com Mingardi, em 2006, quando o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua nos presídios de São Paulo, começou a atacar policiais e a população. Naquela ocasião foi feito, segundo ele, um acordo implícito entre o crime e o governo para cessar a violência. Esse acordo, que Mingardi classifica como um erro, teria sido quebrado de alguma forma este ano, aumentando a violência, tanto do crime, como da polícia.

A PM identificou os cinco bandidos presos e oito dos nove que morreram na operação. Foram presos: Alex Sandro de Almeida, 30 anos; Richard de Melo Martelato, 24 anos; Claudemir Aparecido Costa, 32 anos; Jeferson William Couto, 25anos; e Marcelo Siqueira Amaral, 24 anos. Eles foram encaminhados para a Cadeia de Detenção Provisória de Jundiái, também em São Paulo.

Na operação, morreu Marcos Alesandro Garcia Fernandes, 33 anos, Valdir Felix de Abreu, 35 anos, Anderson Ataide Mariano, 28 anos, Michael Ferreira Dias, 21 anos, Cicero Rodirigo Raimundo, 29 anos, Denilson Roberto Tiago, 26 anos, Iago Felipe Andrade Lopes, 20 anos, Vitor Hugo de Souza, 23 anos e outra pessoa ainda não indentificada.

De acordo com Roberval, os criminosos estavam preparados para matar policiais. "Todos os indicativos atestam uma ação legítima. Nós contabilizamos, nos três locais de confronto, prisões de criminosos ilesos e isso indica uma ação legítima. Temos um arsenal de grosso calibre (em poder dos criminosos), com metralhadoras, pistolas automáticas, granadas e explosivos. Isso indica a disposição da quadrilha para o confronto", disse.

"Por volta das 16h30, algumas equipes da Rota localizaram essa chácara no momento em que sete criminosos estavam saindo. Eles ocuparam dois veículos e, em fuga, tomaram direções diferentes", disse o coronel.

De acordo com os policiais, as equipes também se dividiram e, no primeiro confronto, uma pessoa foi presa e duas foram mortas. Na segunda perseguição, a Rota entrou em confronto novamente e, dos quatro ocupantes dos veículos, mais dois foram presos e outros dois morreram.

Ao mesmo tempo, outras equipes da tropa de elite da polícia entraram na chácara onde estaria ocorrendo o julgamento. "Nessa incursão, a equipe se deparou com nove criminosos, restando quatro mortos e cinco presos ilesos. Tivemos um quinto morto na chácara, que era o estuprador, que foi alvo do tribunal do crime", falou Roberval.

Ainda de acordo com a polícia, estavam na chácara uma menina de 12 anos, que seria a suposta vítima do estuprador, o irmão dela e a mãe.

Tribunal do crime

Segundo o Comando da PM, o "tribunal" montado pelos criminosos foi solicitado pelo irmão da suposta vítima de estupro. O coronel não soube informar a idade do rapaz, que acompanhou, ao lado da família, o julgamento do suposto criminoso. "Essa menina assistiu ao tribunal do crime, até o momento em que o tribunal declarou a morte do estuprador. Houve orientação dos criminosos para que essa família saísse no momento da execução", falou o comandante da PM.

Apesar das declarações dos sobreviventes, não há confirmação sobre a autoria da morte do homem identificado como estuprador. Segundo a polícia, a provável execução teria acontecido quase ao mesmo tempo da troca de tiros.

Ao ser questionado se a participação da polícia local, ao invés do deslocamento da Rota, não teria preservado a vida do homem executado, o coronel informou que esse tipo de ação é de responsabilidade das tropas de elite. "Vamos lembrar que a Rota é uma tropa de elite da Polícia Militar e ela é treinada para enfrentar os criminosos mais violentos. Se a ocorrência tivesse chegado ao policiamento territorial, naturalmente essa denúncia seria escalada para uma tropa de elite da polícia", falou.

Ainda de acordo com a PM, a chácara usada pelos criminosos é de um candidato a vereador local e teria sido alugada por um período curto de tempo. O dono do imóvel será chamado para prestar depoimento.

Armas, explosivos e drogas

Polícia identificou cinco presos e oito dos nove mortos pela Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota)
Polícia identificou cinco presos e oito dos nove mortos pela Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota)
Foto: Mario Angelo / Futura Press

Nessa ação, foram apreendidos cinco veículos, uma metralhadora, duas espingardas calibre 12, sete pistolas, quatro revólveres, uma granada, explosivos (dinamite e outros), um colete à prova de balas, além de 20 kg de maconha, que foram encontrados dentro de uma geladeira.

A ocorrência foi apresentada na Delegacia de Investigação Geral de Jundiaí (DIG), acompanhada pelo Deinter II. Os procedimentos de Polícia Judiciária Militar também serão devidamente instaurados. Agora, segundo a PM, será investigada a participação dos detidos e mortos em outros crimes da região metropolitana.

Represálias

Perguntado se a PM temia uma intensificação nos ataques a policiais militares após esse alto número de criminosos mortos, Roberval Ferreira França afirmou que a tropa está preparada para eventuais confrontos. "Nove mortos é o número que nós temos, para uma quadrilha que tinha 16 integrantes. Temos nove mortos, oito presos vivos e ilesos. Lembramos que a opção pelo confronto é dos criminosos. A polícia tem a diretriz de preservar vidas. Primeiramente a vida da vítima, em segundo lugar dos policias, em terceiro lugar, se possível, a vida dos criminosos", falou.

Na operação, nenhum policial ficou ferido e não há informações sobre viaturas danificadas.

Com informações da Agência Brasil.

Fonte: Terra
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