Pesquisadora: beijaço e mamaço se tornam formadores de opinião
12 jun2011 - 17h27
(atualizado às 17h53)
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Daniel Favero
As recentes manifestações organizadas através da internet para reivindicar o direito de amamentar em locais públicos, protestar contra a desistência de construir estações de Metrô em bairros nobres da capital paulista ou para combater a homofobia com beijaços gays, têm tornado evidente o poder de mobilização das redes sociais. Para a professora titular da PUC-SP com doutorado em Teoria Literária e especialista em semiótica e novas tecnologias, Lucia Santaella, é um novo ativismo político que tira da grande mídia o monopólio sobre a formação de opinião, em um movimento inverso e complementar.
"Existe certa complementaridade... Hoje esses movimentos acabam criando a opinião, não com a mesma força da grande mídia, porque funcionam como pequenas erupções, que vão minando um pouco as determinações políticas do grande poder", diz ela ao falar sobre o impacto desses movimentos, tanto na sociedade quanto sobre nossos governantes.
Um exemplo recente foi a repercussão gerada após o governo de São Paulo desistir de construir uma estação do Metrô na avenida Angélica por pressão de moradores, empresários e comerciantes de Higienópolis, bairro de alto padrão no centro da capital. Os moradores alegavam que a nova estação ampliaria o fluxo de pessoas no local, com o consequente "aumento de ocorrências indesejáveis", além da transformação da área em "camelódromo". Uma moradora teria se referido aos frequentadores dessa nova estação como "gente diferenciada".
Essa classificação e a resistência contra a estação gerou um protesto chamado Churrasco de Gente Diferenciada. Organizado através do Facebook, no dia anterior, contava com mais de 10 mil confirmações. O responsável pela mobilização cancelou o evento, mas na data marcada, aproximadamente 1 mil pessoas realizaram a manifestação.
Santaella diz que, com movimentos como esses, a sociedade civil encontra uma maneira de se pronunciar. "São uma nova maneira de manifestação dos movimentos sociais, ou seja, a sociedade civil que não consegue espaço na grande mídia, que encontraria uma dificuldade enorme para se organizar pelos meios tradicionais... Isso é apenas a ponta do iceberg, por baixo, o movimento vai se espraiando com uma força enorme".
A professora, que é uma das maiores estudiosas da comunicação na contemporaneidade, caracteriza esses movimentos como políticos por serem meios encontrados pelas pessoas para exercerem sua influência. "Desde de Foucault (filósofo francês morto nos anos 80) não se fala do poder restrito ao poder estatal apenas. O poder agora é capilar. Foucault não viveu na época das redes, mas pressentiu.... Quando se fala nas redes, o poder e a influência vão penetrando por adesão", explica.
Para ela, esses movimentos não são compostos apenas por pessoas de camadas mais abastadas ou que estão na parte superior da pirâmide social brasileira. "Não podemos mais pensar em termos de fronteiras muito rígidas. As vezes uma pessoa não teve acesso a educação, mas tem internet, está conectado à rede, fica sabendo e participa de alguma maneira".
A facilidade com que se criam novos contatos na rede é um potencializador da mensagem proposta por esses movimentos, explica Santaella. Após a popularização da internet, segundo ela, a força da mudança foi tão grande, que tudo que se sabia sobre o movimento da comunicação (como o esquema: emissor - mensagem - receptor, por exemplo) mudou.
"Com o acesso online, as pessoas já têm uma rede enorme de conexões... Qualquer pessoa comum pode ter mais de 1 mil amigos no Twitter. A coisa mais simples é ter 3 ou 4 mil seguidores... é uma coisa inteiramente nova", finaliza.
Movimento satírico reunia 150 pessoas na concentração na praça Villaboim, às 15h
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Concentração do churrasco começou sem carne, mas com isopores de cerveja e doações para uma ONG
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Manifestantes começaram a se concentrar na praça Villaboim, em Higienópolis
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Churrascão teve adesão de 50 mil pessoas no Facebook
Foto: Ivan Pacheco / Terra
O churrasco, que começou sem carne, foi salvo por dois manifestantes
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Dois rapazes apareceram carregando uma churrasqueira fumegante com pães, espetinhos de legumes, abobrinhas, linguiça e um pedaço de carne
Foto: Ivan Pacheco / Terra
No protesto, cerca de 600 manifestantes -segundo levantamento da Polícia Militar (PM) - bloquearam a avenida Higienópolis
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Multidão entoa gritos de "Vem, vem, vem pra rua vem, fazer churrasco!" e "Ei, Kassab, vai tomar metrô!"
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Com mais de 50 mil confirmações de presença no Facebook, o evento teve a maior concentração nas cercanias do shopping
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Bateria improvisada anima a manifestação, em frente ao shopping Pátio Higienópolis
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Manifestantes improvisaram churrasco na avenida Angélica
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Churrasco teve pães, espetinhos de legumes, abobrinhas, linguiça e um pedaço de carne
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Avenida Angélica foi tomada pelos manifestantes
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Protesto pede uma estação do metrô na avenida Angélica
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Evento foi organizado a partir das redes sociais contra a possibilidade de mudança no projeto do Metrô de São Paulo
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Cerca de 600 pessoas participaram do ato, pelo cálculo da PM
Foto: Ivan Pacheco / Terra
No meio da avenida, uma faixa com a frase "chega de sufoco, todos juntos por mais metrô" foi estendida pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Alguns motoristas enfrentam lentidão nas imediações do local
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Manifestante leva cartaz com alusão ao Facebook, rede social onde o ato foi organizado
Foto: Ivan Pacheco / Terra
O público, formado em sua imensa maioria por jovens, teve o reforço de ciclistas, estudantes e do movimento punk
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Das janelas dos prédios ao redor da manifestação, muitos moradores acompanharam o "carnaval fora de hora" de Higienópolis
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Os manifestantes adaptaram a música Vai Passar, de Chico Buarque de Holanda, especialmente para o evento
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Manifestantes montaram um varal no bairro Higienópolis
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Além dos próprios moradores do bairro de Higienópolis, no centro de São Paulo, o prefeito da cidade, Gilberto Kassab, é criticado pelos manifestantes
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Participantes criticam o recuo do governo de São Paulo no projeto de construir uma estação de Metrô no bairro após pressão de moradores, empresários e comerciantes da região
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Alguns manifestantes levaram frango com farofa e outros estão com espetinhos de queijo coalho, que chegaram a ser assados no fogo de uma catraca de ônibus
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Os moradores do bairro, cuja associação reuniu 3,5 mil assinaturas contra o plano do metrô, também são criticados por gritos de "Ei, vizinho, cadê o churrasquinho?"
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Manifestante levou um cartaz para expor sua insatisfação durante o churrasco
Foto: Cris Faga / vc repórter
Uma catraca de ônibus foi queimada em frente ao shopping Pátio Higienópolis por integrantes do Movimento Passe Livre
Foto: Cris Faga / vc repórter
Grupo de ciclistas também marcou presença no protesto
Foto: Cris Faga / vc repórter
Em vez do churrasco, alguns participantes optaram por comer alimentos trazidos de casa
Foto: Cris Faga / vc repórter
Cerca de 600 manifestantes estiveram presentes no churrasco da "gente diferenciada"
Foto: Josenias / vc repórter
O Sindicato dos Metroviários aproveitou o churrasco para protestar
Foto: Cris Faga / vc repórter
Manifestante usa de ironia para protestar
Foto: Cris Faga / vc repórter
Rapaz prepara pedaço de carne no churrasco da "gente diferenciada"
Foto: Cris Faga / vc repórter
As ironias fizeram parte do churrasco em Higienópolis
Foto: Cris Faga / vc repórter
Muitas pessoas levaram sua contribuição para o churrasco
Foto: Cris Faga / vc repórter
Moradores observam a multidão que realizou o churrasco