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Pesquisa em presídios investiga comportamento de abusadores

6 fev 2010 - 12h27
(atualizado às 12h32)
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A psicóloga Karen Michel Esber afirma que os números oficiais de denúncias de abuso sexual não representam o total de casos" alt="Goiânia - A psicóloga Karen Michel Esber afirma que os números oficiais de denúncias de abuso sexual não representam o total de casos" src="http://stream.agenciabrasil.gov.br/media/imagens/2010/02/05/atphoto.2010-02-05.image_materia_horizontal.7040434396">

Goiânia - A psicóloga Karen Michel Esber afirma que os números oficiais de denúncias de abuso sexual não representam o total de casos

Brasília - Um grupo de especialistas realiza desde 2004 em Goiânia umasérie de pesquisas para entender o comportamento de autores deviolência sexual contra crianças e adolescentes queestão presos. O projeto Invertendoa Rota, do Centro de Estudos, Pesquisa e ExtensãoAldeia Juvenil da Universidade Católica de Goiás, visaa compreender as relações sociais que levaram essaspessoas a cometer crimes de abuso sexual e a construir novasmetodologias de atendimento dos agressores.Nofinal do ano passado, o projeto foipremiado pela Financiadora de Estudos de Projetos e Programas (Finep)e contará com R$ 500 mil para novas pesquisas e programas.

Aintenção das coordenadoras do projeto éaproveitar o financiamento para criar um curso de especializaçãode assistência psicossocial de autores de violência;desenvolver um estudo sobre adolescentes que sofreram violência;e ainda avaliar o atendimento de vítimas em serviçoscomo o Disque 100.As pesquisas doInvertendo a Roda tiveram início com o Programa de Atendimentoao Autor de Violência Sexual. De acordo com uma das fundadorasdo programa, a psicóloga Karen Michel Esber, cerca de 70 casosforam acompanhados. "Nós não concordamos com aviolência sexual e é exatamente por não concordarque a gente quer intervir e conhecer esse sujeito."Também envolvidacom o projeto, a psicóloga social Maria Luiza Moura Oliveiraexplica que a intenção é fazer com que cadaautor de violência tenha a possibilidade de refletir sobre oque ele fez com a sociedade e o que a sociedade fez com ele. "Éessa possibilidade que não está dada dentro do sistemacarcerário e é essa possibilidade que a gente querconstruir", detalha.A iniciativa daspesquisadoras desafia o senso comum e a visão dos chamadosoperadores do Direito, geralmente, limitada à punição."Nos processos hátranscrições de falas dos promotores dizendo coisascomo: ''que esse psicopata apodreça na prisão'', mas aspessoas esquecem que ele não vai apodrecer na prisão.Muitos, em menos de dez anos, vão sair e estarão denovo na mesma sociedade, com a mesma família e de novo comcrianças. Será que adianta apenas a prisão?",questiona Karen Michel Esber."Só a prisãoé pouco. Trancafiar a pessoa e daqui a pouco soltar nãomuda os sentimentos. Ele só não vai reincidir se mudarseu trajeto de vida", avalia a psicóloga Mônica Café."A pessoa tem que serpenalizada, mas não precisa ser massacrada. É precisoouvir quais saídas ela mesma vai apontar para a sociedade",complementa Maria Luiza Oliveira.Mônica Caféacredita que possa haver tratamento que evite a reincidência."A possibilidade de controle existe: autocontrole, controleexterno, psicoterapia, medicamento para ansiedade", lista. Ela explica que, noatendimento psicoterapêutico, o processo tem o intuito de fazercom que o abusador veja a criança como "sujeito, alguémque sente e tem suas necessidades". Segundo a especialista, nassituações de abuso, a criança éconsiderada, pelo agressor, mero objeto de prazer sexual.Segundo asespecialistas, abusadores de crianças e adolescentes ocupam oúltimo lugar na hierarquia interna dos presídios. "É um crimesem perdão, mesmo dentro do sistema carcerário",aponta Maria Luiza Oliveira. Ela conta que, dentro dos presídios,os autores de violência sexual são reconhecidos e tambémabusados sexualmente. Segundo a especialista,os presos usam sinais próprios para identificar os abusadores,como a sobrancelha raspada ou a testa marcada com o número doartigo do Código Penal (213) para os crimes que atentam contraa liberdade sexual.De acordo com apsicóloga, a situação prisional faz com que osautores de violência sexual neguem que tenham cometido o crime."Começam a negar para eles próprios. Muitos lutamcontra admitir que cometeram esse crime", relata Maria Luiza.

Agência Brasil Agência Brasil
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