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Parceiro brasileiro de jornalista que denunciou caso Snowden é detido

18 ago 2013 - 18h13
(atualizado às 18h34)
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O brasileiro David Miranda, parceiro do jornalista britânico Glenn Greenwald, ficou quase nove horas detido no aeroporto londrino de Heathrow neste domingo, com base em uma polêmica lei antiterrorismo, informa o jornal The Guardian - que pediu "esclarecimentos urgentes" a respeito do caso às autoridades britânicas.

O governo brasileiro disse que a detenção é "injustificável".

Greenwald é autor de diversas reportagens, publicadas no Guardian, a respeito de programas de ciberespionagem promovidos pela agência de segurança americana NSA, com base em documentos fornecidos pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden (exilado na Rússia).

O jornal também fez diversas reportagens sobre o trabalho da inteligência doméstica britânica a partir dos documentos divulgados por Snowden.

Greenwald disse, em artigo no Guardian, que a detenção de seu parceiro (que já foi liberado) é uma "tentativa de intimidação" e "um ataque à liberdade de expressão", acusações que até o momento não foram respondidas pelas autoridades britânicas.

Segundo o Guardian, a Scotland Yard apenas confirmou que "um homem de 28 anos foi detido em Heathrow sob o Ato Antiterrorismo 2000 às 8h05 (horário local). Ele não foi preso. E foi liberado às 17h", sem dar detalhes quanto ao motivo de sua detenção temporária.

'Bens confiscados'

Greenwald relata que Miranda voltava de Berlim ao Rio de Janeiro, onde mora, via Londres, quando foi informado que seria questionado pelas autoridades, conforme prevê o polêmico ato antiterrorismo.

O jornalista diz que foi informado a respeito do questionamento pelas próprias autoridades britânicas e mobilizou advogados do jornal e autoridades brasileiras.

O ato, informa o Guardian, permite que cidadãos em aeroportos britânicos sejam interrogados sem que haja necessariamente uma suspeita contra eles, revistados e detidos por até nove horas - depois disso, ou são liberados ou formalmente acusados.

Mas em geral, esses interrogatórios duram em média uma hora. Miranda, no entanto, ficou retido pelo tempo máximo, sem direito a um advogado, até ser liberado sem acusações formais.

Segundo Greenwald, ele também teve todos seus equipamentos eletrônicos confiscados - celular, laptop, câmera, cartões de memória, DVDs e consoles de videogames.

O Itamaraty divulgou nota na noite deste domingo manifestando "grave preocupação com o episódio".

"Um cidadão brasileiro foi retido e mantido incomunicável no aeroporto de Heathrow por período de 9 horas, em ação baseada na legislação britânica de combate ao terrorismo. Trata-se de medida injustificável por envolver indivíduo contra quem não pesam quaisquer acusações que possam legitimar o uso de referida legislação. O governo brasileiro espera que incidentes como o registrado hoje com o cidadão brasileiro não se repitam", diz o comunicado.

Um porta-voz do Guardian disse que a empresa está "consternada com o fato de o parceiro de um jornalista do jornal que tem escrito sobre serviços de segurança ter sido detido por quase nove horas".

Greenwald, por sua vez, declarou que "deter familiares e pessoas queridas de jornalistas é simplesmente despótico".

A BBC Brasil tentou contato com a Scotland Yard, mas não conseguiu até a publicação desta reportagem.

O Guardian disse que o Ministério do Interior britânico não comentou o caso.

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