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Para brasilianistas, eleição será disputa entre legados de Lula e FHC

Viés mais "desenvolvimentista" do PT contra abordagem "pró-mercado" do PSDB são apontados como as diferenças mais marcantes entre os candidatos

26 out 2014 - 07h17
(atualizado às 14h17)
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Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT)
Foto: Ale Silva / Futura Press

Acadêmicos estrangeiros que se dedicam ao estudo da política brasileira veem o segundo turno das eleições presidenciais neste domingo como um embate entre dois caminhos para o Brasil, em que os legados dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva estarão no centro da disputa.

Na visão de brasilianistas ouvidos pela BBC Brasil, embora o pleito esteja sendo disputado por uma candidata – Dilma Rousseff – que tenta a reeleição sob a promessa de continuidade, e outro postulante – Aécio Neves – que promete atender a um anseio por mudança da população, ambos representam projetos de País que já foram testados nas últimas décadas.

"Dilma está concorrendo sob o legado de Lula e do PT de conquistas sociais. E Aécio sob o legado da estabilização e do controle inflacionário no governo de FHC", diz o cientista político Timothy Power, diretor do programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha.

Para ele, tanto Dilma quanto Aécio estão "escorando" suas campanhas nos feitos de seus antecessores. "De certo modo, é quase uma eleição por procuração, com dois candidatos que não estão na cédula, Lula e FHC".

Dois caminhos

Para Sean Burges, da Australian National University, em Canberra, Austrália, mesmo que existam diferenças marcantes entre as propostas de Aécio e Dilma, esta campanha é "basicamente uma escolha entre dois caminhos diferentes para se chegar ao mesmo destino".

"Há um modelo para avançar o desenvolvimento nacional e a inclusão mais baseado no Estado e outro mais orientado ao mercado. Há uma escolha real aí, mas acredito que ambos os candidatos, genuinamente, querem os mesmos resultados. O debate é sobre como chegar até esses resultados", diz.

Este viés mais "desenvolvimentista" da candidata do PT, contra uma abordagem aparentemente mais "pró-mercado" do candidato Aécio Neves, também são apontados por outros analistas como as diferenças mais marcantes entre os dois postulantes.

Eles afirmam, no entanto, que ambos os caminhos acabam por priorizar determinadas áreas e "sacrificar" outras, principalmente no que diz respeito às propostas dos candidatos em relação à política econômica.

"Enquanto o PSDB está mais disposto a sacrificar um pouco da redução da pobreza para garantir estabilidade macroeconômica, o PT está disposto a sacrificar um pouco do desempenho econômico para garantir inclusão social", diz Timothy Power.

Mesmo assim, a margem de manobra para grandes mudanças de direção, mesmo em política econômica, é pequena no Brasil, na opinião do cientista político Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil no King's College, em Londres.

Pereira observa que, apesar de a imprensa financeira na Grã-Bretanha e nos EUA enxergar Aécio como "o candidato do livre mercado" e alguém que irá se opor ao neodesenvolvimentismo do PT, a margem para que o candidato do PSDB consiga fazer isso é "muito estreita".

"Acho que (no caso de vitória de Aécio) o Brasil ainda vai ter um banco de desenvolvimento do Estado e que ainda será importante. E que grande porção do crédito ainda virá de bancos do Estado e não do setor privado. Ainda haverá favorecimento da indústria nacional e subsídios para protegê-la até certo ponto", prevê.

"Há o risco de a imprensa financeira, fora do Brasil, exagerar no que Aécio poderá fazer caso se torne presidente, e o risco de que isso acabe em decepção. Porque se ele assumir o poder, estará em um governo de grande coalizão e terá pouca margem de manobra", afirma Pereira.

Obstáculos

Na visão dos analistas, embora estejam em disputa dois caminhos já testados pelos brasileiros durante os anos FHC e Lula, a eleição deste ano também guarda diferenças importantes com os pleitos anteriores.

"Em 2010 a economia estava crescendo a 7,5% e Lula tinha 90% de popularidade. E se você usasse os argumentos que Aécio está usando agora, eles não seriam tão convincentes. A inflação não era um problema, crescimento não era um problema. O legado de Lula era muito mais atraente que o de FHC. Mas isso mudou", diz Timothy Power.

Neste contexto, na visão de Sean Burges, o legado positivo de avanços sociais sob o PT representa não apenas a principal vantagem, mas também o principal desafio de Dilma.

"Muitas das políticas que ela tentou estabelecer não foram bem. Por diversas razões. Parte devido à desaceleração econômica global, mas também por falta de uma tão necessária mudança estrutural na maneira como o Estado opera no Brasil", diz Burges. "É surpreendente para mim, por exemplo, o quão pouco se discute sobre as falhas em implementar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em sua totalidade", completa. 

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