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Papa: "Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce"

29 jul 2013 - 00h46
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O papa Francisco afirmou que "uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce", em resposta aos escândalos pelos quais passa o Vaticano, segundo uma entrevista com o pontífice transmitida na noite deste domingo pela "Rede Globo".

O papa terminou neste domingo uma visita de sete dias ao Brasil, onde participou da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro.

O prelado italiano Nunzio Scarano, acusado de fraude e corrupção em uma investigação sobre supostas irregularidades financeiras no Instituto para as Obras de Religião (IOR), foi detido no final de maio.

"Belo favor faz à Igreja este senhor. Mas é preciso reconhecê-lo, este senhor agiu mal e a Igreja tem que sancioná-lo no que merece", afirmou o pontífice na entrevista realizada na quinta-feira na residência do arcebispado do Rio de Janeiro, no Sumaré, nos arredores da cidade e onde Francisco se hospedou.

Segundo o papa, "a Cúria Romana sempre foi criticada, mas nela há muitos santos: cardeais santos, bispos santos; sacerdotes, religiosas e laicos santos, gente de Deus que ama a Igreja, mas isso não se vê muito".

Um mês após se tornar papa, depois dos casos de padres pedófilos e do escândalo "Vatileaks", que revelou confrontos e supostos casos de corrupção na Cúria Romana, Francisco criou no dia 13 de abril um grupo de oito cardeais para que o aconselhem no Governo da Igreja e estudem um projeto de reforma.

"Já temos muitos documentos e em 1, 2 e 3 de outubro teremos a primeira reunião oficial", na qual de acordo com o papa "serão tratadas algumas pautas", mas da qual "não sairá uma reforma definitiva".

"A igreja sempre tem que ser reformada, mas fica para trás. Há coisas que serviam para o século passado ou outras épocas e agora não servem mais, então é preciso reformá-las", disse Francisco.

Na entrevista, o papa lembrou as palavras do arcebispo de São Paulo, o cardeal Cláudio Hummes, quando o argentino foi escolhido como papa: "Ele me disse 'não te esqueças dos pobres' e essa foi uma frase que me fez tanto bem".

Apesar de desconhecer o pano de fundo da onda de protestos no Brasil, intensificados em junho por diferentes reivindicações sociais e em várias cidades do país, Francisco opinou: "Não gosto de um jovem que não protesta, o jovem tem a ilusão da utopia e a utopia nem sempre é ruim".

"O jovem tem mais frescor para dizer suas coisas, um jovem essencialmente é insatisfeito e isso é muito bonito e é preciso escutar os jovens e cuidar deles para que não sejam manipulados, pois há gente que procura explorá-los, manipulando-os", expressou Fransisco.

Ele também criticou a "feroz idolatria do dinheiro", fruto de "uma política mundial muito impregnada do protagonismo do dinheiro. Quem manda agora é o dinheiro", asseverou Francisco, dando como exemplo "a alta porcentagem de desocupação juvenil que há na Europa. É alarmante".

"Há crianças que morrem de frio no inverno e isso não é notícia, mas se as bolsas das grandes capitais caem três ou quatro pontos isso sim é notícia. Não devemos cair em uma globalização da indiferença", considerou.

Francisco defendeu a "fomentação de uma cultura do encontro no mundo todo de todas as confissões", como ele chama o conjunto de religiões.

"As diversas confissões não podem dormir tranquilas enquanto houver uma criança com fome", ressaltou.

Sobre sua visita ao Brasil e o fato de ser da Argentina, país vizinho e rival em muitos aspectos, Francisco destacou que foi recebido com calidez, "o povo brasileiro tem um grande coração e a rivalidade está superada, porque negociamos bem: o papa é argentino e Deus é brasileiro".

Justificou o exemplo de "simplicidade e humildade" ao escolher um carro modesto para se deslocar no Brasil, um "papamóvel" aberto e uma residência sem luxos durante sua estadia no Rio de Janeiro.

"Não posso viver sozinho, fechado, preciso do contato com as pessoas e fiquei na residência por razões psiquiátricas (risos) para não ficar sofrendo esta solidão que não me faz bem", disse o papa, admitindo que foi "indisciplinado" por não atender sempre as recomendações de segurança do Vaticano e do Brasil.

"Fui ver o "papamóvel" e estava com vidros. Ninguém pode visitar seus amigos em uma caixa de vidro, não poderia vir para visitar este povo que tem um grande coração dentro de uma caixa de vidro. É tudo ou nada, pois foi uma viagem com comunicação humana, e a comunicação pela metade não faz bem", concluiu.

EFE   
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