Jornada da Juventude possibilitará reencontro de argentinos com o Papa

A viagem do papa Francisco ao Brasil pela Jornada Mundial da Juventude (JMJRio2013) que acontece no Rio de Janeiro de  22 a 28 de julho deverá trazer cerca de 30 mil argentinos ao País.

Segundo a Associação Católica Argentina (AICA), dos 30 mil argentinos que deverão visitar o Brasil motivados pela Jornada, 11.871 são jovens com idade entre 14 e 35 anos. A procura por passagens começou cedo - alguns grupos se organizam desde dezembro do ano passado. Mas a nomeação de um papa argentino foi fator decisivo para que se iniciasse uma verdadeira corrida para garantir seu lugar nos aviões e até ônibus que devem partir de Buenos Aires com direção ao Rio nessa semana.

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Lucas Saladino, da agência de turismo Bramasole, diz que os pacotes para a Jornada se esgotaram no começo de maio. "A nomeação do Papa fez com que a busca por passagens fosse muito maior do que aquela referente à edição de 2011. Conosco irão dois grupos, num total de 40 pessoas", contabiliza o agente.

Em um momento no qual o cidadão argentino tem que pagar uma taxa ao governo de 20% sobre o valor de qualquer passagem internacional, além da mesma tarifa em toda compra efetuada com cartões de crédito fora do país, aqueles que optaram pela viagem tiveram que se contentar com preços "salgados".

Lucas contou ao Terra que sua agência disponibilizou duas opções de pacote aos seus clientes. "Existe um grupo que optou pelo pacote mais econômico, que inclui (deslocamentos) aéreos e traslados. No entanto, a hospedagem será feita nos alojamentos da Jornada. O custo é de US$ 1.490", disse. Já o grupo que elegeu mais comodidade e preferiu desfrutar também das praias cariocas, ficará hospedado em um hotel de Copacabana pagando US$ 2,6 mil por sete noites.

Federico Gury, 27 anos, estudante de Direito e católico pertencente à paróquia de Villa Devoto, foi um dos que não se assustou com os preços. "Graças a Deus, o dinheiro para mim não é um problema, eu inclusive paguei muito mais caro para ir à jornada de 2011 na Espanha", explica.

O jovem membro da Fraternidad de Agrupaciones Santo Tomás de Aquino (Fasta) diz que a viagem não estava nos seus planos, mas a idade e a pressão dos amigos que irão, aliadas à presença do papa argentino no evento, fez com que ele mudasse de ideia - ainda que essa ocasião não seja a primeira na qual Federico está na presença de Bergolgio. "Eu o vi diversas vezes, seja em celebrações comunitárias ou durante as visitas que ele fazia ao colégio (católico) no qual eu estudava", conta o estudante, que sentencia: "qualquer portenho católico que tenha o hábito de ir à missa, certamente, alguma vez em sua vida, cruzou-se com Francisco".

Jovens de comunidade carente também irão ao Rio

A primeira visita do papa argentino ao continente latino-americano desde a sua nomeação em março deste ano não será assistida somente por jovens que podem pagar o alto preço cobrado pelas agências de viagem. O arcebispado de Buenos Aires distribuiu bolsas para auxiliar no custeio da viagem de muitos jovens. Entre eles estão 16 jovens da comunidade de Villa 1-11-14, uma versão argentina para as favelas brasileiras, que irão acompanhados do padre Hernán Morelis.

Esses jovens foram escolhidos para viajar em função do seu trabalho junto à Paróquia da Villa 1-11-14. Mas, como as bolsas do arcebispado não eram integrais, os jovens tiveram que investir suas economias para ir ao encontro.

Rodolfo Galdulia, 20 anos, conta que trabalha na paróquia já há bastante tempo e que um dia o padre Hernán chegou com a pergunta: "Meninos, querem ir ao Brasil?". Segundo Rodolfo, prontamente ele e outros 15 jovens responderam afirmativamente e começaram a juntar dinheiro para a viagem.

Mas quem pensa que a presença do Papa será novidade para esses jovens está muito enganado. Rodolfo conta que, por diversas vezes, compartilhou o mate com Bergoglio e que está indo ao Rio "não para ver o Papa, mas para rever um amigo".

Segundo Morelis, a delegação fará todo o trajeto em ônibus. "Serão mais de 40 horas de estrada. Nós devemos sair de Buenos Aires nesta sexta-feira e chegaremos ao Rio somente no domingo pela manhã", conta. E não somente de argentinos está composta a delegação da 1-11-14, que deve contar também com jovens bolivianos e paraguaios.

Representantes da paróquia original do Papa ocuparam últimos lugares

A Paróquia de San José de Flores, onde o Papa iniciou sua carreira religiosa, também enviará representantes ao Rio. No entanto, a viagem foi organizada no último momento.

O padre responsável pela paróquia dessa comunidade contou que a viagem foi quase um milagre. "Nós não tínhamos nenhum plano para ir. Faz pouco tempo que nós começamos a nos organizar. Para dizer a verdade, faz apenas uma semana que o arcebispado nos comunicou que restavam cinco lugares vagos na excursão que viajará ao Rio, e desde então nós começamos o processo de seleção dos jovens", conta.

Os cinco integrantes foram escolhidos em função de seu trabalho junto à paróquia. "Vamos representando toda a comunidade", diz o padre, que acompanhará os quatro jovens na jornada de 40 horas até a Cidade Maravilhosa.

Jovens argentinos de todo o país deverão viajar ao Rio

Na manhã desta quarta-feira, em frente à Igreja de Nuestra Señora de la Consolación, localizada no bairro portenho de Almagro, partia uma excursão com cerca de 15 jovens em direção ao aeroporto.

Segundo o sacerdote responsável por este grupo, frei Dario Ruben Quintana, estes jovens integram uma comitiva de 102 pessoas divididas em sete diferentes paróquias, oriundas das províncias argentinas de Santa Fé, Mar del Plata, Rosário, San Martín e Buenos Aires. "Nós saímos hoje, quarta-feira de Buenos Aires, em três diferentes voos rumo ao Rio de Janeiro", contabiliza Quintana.

Segundo o frei, todos os custos da viagem foram pagos pelos próprios jovens. Para ele, mais do que ver Francisco, os jovens estão motivados pela fé católica. "O Papa era assíduo da nossa paróquia, não será nenhuma surpresa. Na verdade, será um reencontro com uma figura tão querida entre a comunidade católica de Buenos Aires."

Suas palavras fazem eco ao que disse ao Terra Martín Romano - "Romano como o Papa", segundo ele -, estudante de Economia de 22 anos. "Antes de mais nada, vou renovar minha fé, vou me encontrar em e com Cristo", afirmou Martín. E diz ainda: "Eu já tinha planejado ir antes da nomeação do Papa, por isso, não estou indo simplesmente para ver o Papa, até porque eu já tenho diversas fotos com ele, já que ele sempre vinha à nossa igreja", orgulha-se o garoto.

Romano diz que investiu 6 mil pesos argentinos (cerca de R$ 2,5 mil) na viagem. "Essa viagem é mais importante que qualquer saída de férias, ou viagem de final de curso", tanto é assim, que cada centavo dela foi retirado do dinheiro gerado pelo trabalho do futuro economista.