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Oscar Niemeyer

Em poema, pastor planeja encontro de Niemeyer com anjos no céu

7 dez 2012 - 22h29
(atualizado às 23h11)
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Juliana Prado
Direto do Rio de Janeiro

Quem esperava que o culto ecumênico em homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer, o ateu comunista, fosse motivo de algum constrangimento, se surpreendeu. Na tarde desta sexta-feira, o penúltimo ato formal de despedida ao arquiteto, morto aos 104 anos no Rio de Janeiro, foi marcado por várias citações descontraídas ao ateísmo de Niemeyer e também ao fato de ele ser comunista.

O pastor luterano Mozart Noronha chamou a atenção pela forma com que conduziu sua participação no culto ecumênico em homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer
O pastor luterano Mozart Noronha chamou a atenção pela forma com que conduziu sua participação no culto ecumênico em homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer
Foto: Juliana Prado / Especial para Terra

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Foi a própria dupla de padres, além de um pastor e um rabino, a responsável por dar um tom ameno à celebração - mesmo que o burburinho reinante fosse de que não combinava realizar um ato religioso para celebrar a alma de um ateu. O pastor luterano Mozart Noronha chamou a atenção pela forma com que conduziu sua participação na cerimônia. Mais que demonstrar respeito à opção de Niemeyer pela ausência de uma prática religiosa, homenageou o arquiteto com um poema.

Nele, ao chegar no imaginário céu, Niemeyer, com a bandeira comunista em punho, pergunta pelo companheiro Luiz Carlos Prestes e ainda é recebido por anjos em coro da Internacional Comunista. Ao final da peleja, uma sutil controvérsia: é convidado a entrar no cenário celestial, aquele que nunca acreditou existir. Afinal, para Niemeyer, a visão da vida sempre foi de finitude, bastante crua e prática: "a vida é um sopro, um minuto. A gente nasce, morre. O ser humano é um ser completamente abandonado..." , dizia o arquiteto.

A seguir, a íntegra do texto do pastor-poeta, lido no culto ecumênico:

Numa tarde de verão,

Dia cinco de dezembro

Do ano dois mil e doze,

Vi a Santíssima Trindade

Reunida de emergência,

Ordenando aos seus apóstolos

Receberem Niemeyer

O incansável guerreiro

Que do Rio de Janeiro

Partiu para a eternidade

Deus estava mui feliz

O espírito nem se fala!

E na comunhão do além

Recomendaram que os anjos

Organizassem um coral

Em homenagem ao arquiteto

Cantando a Internacional.

Logo os músicos reunidos,

Sopranos, baixos e tenores,

Com todos os seus instrumentos

Entoaram uns mil louvores

Externando os sentimentos.

Juntaram-se os trovadores,

Mil pintores e poetas,

Abraçando os escritores

Numa festa sem igual.

Niemeyer vestia azul,

Com a bandeira vermelha

Segurada à mão esquerda,

Bem como a foice-martelo.

Indagou por Carlos Prestes

E todos os seus companheiros.

Deus que sempre sentiu dores

De um povo pobre e oprimido

Disse: entre aqui, Niemeyer.

No céu você tem lugar.

Fonte: Especial para Terra
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