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Oscar Niemeyer

RJ: no 'edifício Mae West', Niemeyer viveu décadas de produção

7 dez 2012 - 07h48
(atualizado em 10/12/2012 às 18h11)
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Juliana Prado
Direto do Rio de Janeiro

Por seguidas décadas, o arquiteto Oscar Niemeyer cumpriu um ritual quase religioso - mesmo para um ateu - de subir os poucos degraus do Edifício Ypiranga, de frente para o mar de Copacabana, e entrar nos corredores do prédio histórico que abrigou seu escritório de trabalho, no Rio de Janeiro. Quando não estava dando a volta pelo mundo aplicando nos horizontes mais impensáveis as curvas de seu concreto, o arquiteto passava boa parte do tempo no 11º andar do prédio fincado no Posto 6 da mais famosa praia do Brasil.

Fachada do escritório de Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro. No edifício Ypiranga, conhecido como 'Mae West', o arquiteto criou boa parte de seus projetos
Fachada do escritório de Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro. No edifício Ypiranga, conhecido como 'Mae West', o arquiteto criou boa parte de seus projetos
Foto: Juliana Prado / Especial para Terra

Veja fotos das principais obras de Oscar Niemeyer

Conheça a trajetória do arquiteto

A escolha pelo belo imóvel para ser o local de intensa produção foi feita pelo arquiteto brasileiro ainda na planta. Foram as curvas da fachada do prédio, planejadas pela famosa dupla de arquitetos Freire e Sodré, no final dos anos 20, que despertaram o encanto de Niemeyer pelo local. Essas mesmas curvas carimbaram para sempre no imóvel datado de 1930 o apelido de Mae West, a atriz americana que brilhou também nos anos 20 e 30.

Quem conta um pouco desta história é o síndico do imóvel, Carlos Henrique Joppert, neto do construtor Gustavo Joppert, responsável por erguer o empreendimento. "Ele frequentava o escritório do Sodré, que era primo dele, e se encantou ao ver o projeto. Depois que meu avô morreu, em 1951, os filhos ficaram com quatro apartamentos cada. Uma tia minha acabou vendendo para o Niemeyer a cobertura do prédio. Eu intermediei a venda", conta Joppert, que é arquiteto de interiores e, por razões naturais, encantado pela obra de Niemeyer.

Foi por dentro das curvas do imponente "prédio Mae West" que Niemeyer planejou muitos de seus grandes projetos. "Muita coisa foi feita aqui. Brasília eu sei que não, porque foi preciso montar, lá mesmo, uma grande estrutura. Mas foi um dos poucos a não passar por esse escritório", arrisca Joppert.

O curioso é que dos apartamentos espalhados pelos 11 andares do imponente edifício em estilo art déco, apenas o de Niemeyer era comercial. Segundo o síndico, isso era motivo de orgulho para todos os moradores. Também não é para menos. Por ali passou um dos mais importantes arquitetos da história do Brasil. Por ali também passaram, em tantos anos, os mais famosos arquitetos do mundo. "Vou ser injusto se citar apenas alguns, porque foram muitos, muitos mesmo. Le Corbusier, (Santiago) Calatrava, Sérgio Bernardes...".

'Pessoa de outro mundo'

Foi com essa expressão - "uma pessoa de outro mundo" - que o vizinho de tantos anos do arquiteto definiu, em poucas palavras, o que representava a figura de Oscar Niemeyer em sua opinião. "Ele era maravilhoso, ajudava os porteiros, os vizinhos, nunca ligou para posses e bens. Era muito humilde, todos aqui sempre o quiseram muito bem". Joppert, que vive no 'Mae West' desde que nasceu, conta que muitas vezes Niemeyer acabou dormindo por ali mesmo, depois de horas e horas de muito trabalho.

Curioso pela movimentação no local e por questões profissionais também, o arquiteto de interiores sempre dava um jeito de frequentar o local. "Ia lá para conversar com o Rogério Duprat, que era um francês amigo dele. Nos últimos tempos não ia mais lá, não dava, nos encontramos muito nestes corredores". O jovem profissional ia em busca de conhecimento e de inspiração. "O mundo todo se inspirou nessa liberdade do concreto das curvas do Niemeyer", resume.

Há poucos anos, segundo o síndico, Niemeyer cismou de tomar aulas de filosofia. "Isso tem pouco tempo. Era só para aprender mais e mais. Era dele mesmo", relata. Para Joppert, Niemeyer deu um "upgrade" no Edifício Ypiranga. Por esse motivo, de frente à placa onde está o memorial do prédio de 1930, com as honrarias a Mae West e ao estilo art déco, será colocada outra, em homenagem a Niemeyer. Se a família consentir, pondera o síndico. "Este foi o prédio que ele gostou no Rio de Janeiro, foi o escritório onde passou, sei lá, 60 anos... Muita gente, pelas formas do Ypiranga, acha que é projeto dele. A homenagem virá".

O vizinho tem motivos para não deixar essa história passar. O homem do mundo era também o homem de muitos casos simples, como queria ser Niemeyer. O último relato de que Joppert se lembra aconteceu há pouco tempo. "A última vez que encontrei com ele aqui na entrada do prédio, eu o cumprimentei: 'como está, Niemeyer, tudo bem?'. Ele olhou pra mim calmamente e disse: 'olha, como seu cabelo ficou branco, hein!'".

Morre Oscar Niemeyer

O arquiteto Oscar Niemeyer morreu às 21h55 do dia 05 de dezembro de 2012, aos 104 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, de infecção respiratória. Ele estava internado na instituição de saúde desde o dia 6 de novembro, onde alternou quadros de melhoria e de piora na saúde.

Considerado um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna mundial, Niemeyer foi responsável pelas principais obras da construção de Brasília, inaugurada em 1960. Carioca, nasceu em 15 de dezembro de 1907 no bairro de Laranjeiras, no Rio.

Fonte: Especial para Terra
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