PUBLICIDADE

Os próximos passos da oposição: ‘guerra’ para tentar derrubar Lula da Casa Civil

16 mar 2016 - 16h40
Compartilhar
Exibir comentários
Entrada de Lula na gestão Dilma Rousseff será alvo de questionamentos por oposicionistas
Entrada de Lula na gestão Dilma Rousseff será alvo de questionamentos por oposicionistas
Foto: José Cruz/Ag. Brasil / BBC News Brasil

A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil, anunciada nesta quarta-feira, enfrentará resistência de congressistas da oposição.

Deputados e senadores se articulam em três caminhos distintos para derrubar a medida: ações populares na Justiça Federal, um projeto de lei que restringe o cargo de ministro a pessoas com ensino superior e apelos para que o Supremo Tribunal Federal invalide a nomeação.

O senador Alvaro Dias (PV-PR) disse à BBC Brasil que entrou com uma ação popular sob a justificativa de "desvio de finalidade" na nomeação de Lula pelo Planalto.

"Está explícito que o objetivo é escapar do foro de primeira instância para escapar da alçada do juiz Sergio Moro, em razão do seu vigor e sua competência", afirmou. "Agora é guerra, a Justiça precisa se posicionar."

A reportagem conversou com o ministro da Advocacia Geral da União, José Eduardo Cardozo, que diz discordar "veementemente" dos argumentos da oposição.

"Imaginar que a Justiça deixa de existir porque o Supremo vai apreciar é uma depreciação da Suprema Corte", disse, na entrada do STF, que julga nesta quarta-feira o rito do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Mais tarde, em entrevista coletiva, Dilma deu argumento semelhante. "(A mudança de foro) não significa que uma pessoa não é investigada, só (muda) por quem ela é investigada", afirmou. "A verdade é que a vinda de Lula fortalece o meu governo, e muita gente não quer ele fortalecido."

Senador Alvaro Dias (PV-PR) diz já ter entrado com ação questionando nomeação de Lula
Senador Alvaro Dias (PV-PR) diz já ter entrado com ação questionando nomeação de Lula
Foto: Jane de Araújo/Ag. Senado / BBC News Brasil

'Ministro, só com curso superior'

A estratégia do deputado Bruno Covas (PSDB-SP) é acelerar a votação de um projeto de lei que limitaria o cargo de ministro a pessoas com curso superior completo.

Covas disse à reportagem que pretende, com o projeto de lei, "qualificar quem vai assumir as posições mais importantes da República".

"A nomeação de Lula é a 'renúncia branca' da presidente", disse. "Ela acaba de entregar seu governo a um ex-presidente."

Questionado sobre críticas de "elitismo" na proposta, Covas relativizou: "Se concurso público exige formação, por que ministro não?"

Ele justifica por que o projeto de lei se restringe a ministérios e não a cargos eletivos, como o de deputados e senadores.

"O parlamentar é um representante da sociedade. A questão (nesse caso) é muito mais de conscientização política das pessoas."

A solução proposta por Covas Filho não é consenso nem entre opositores do governo. "Um projeto de lei é algo que demora muito, né? Melhor resolver pela via judiciária", comentou Alvaro Dias.

Bruno Covas, deputado tucano, propõe limitar cargo de ministro apenas a pessoas com curso superior
Bruno Covas, deputado tucano, propõe limitar cargo de ministro apenas a pessoas com curso superior
Foto: Luiz Alves/Ag. Câmara / BBC News Brasil

Supremo

O argumento da oposição é que a nomeação de Lula, e seu consequente foro privilegiado, seria uma forma de escapar de Moro, cuja atividade se concentra em pessoas com foro comum – ou seja, políticos sem cargo.

À reportagem, o senador Dias disse que "há uma jurisprudência do STF no sentido de que, quando há má-fé na alteração do foro de um político, o foro não pode se alterado".

A BBC Brasil consultou a Suprema Corte a respeito. "Não há jurisprudência neste caso", informou a assessoria do STF.

Dias se referia ao caso do ex-deputado peemedebista Natan Donadon, que, na véspera de seu julgamento, renunciou ao cargo para ser julgado pela Justiça comum.

Na época, os ministros do Supremo negaram a mudança de foro e Donadon foi condenado a 13 anos de prisão.

Outro caso é o do então deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), condenado a 20 anos de prisão por participação no chamado mensalão mineiro. Diferentemente de Donadon, o pedido de renúncia de Azeredo foi aceito pelo Supremo e ele acabou sendo julgado pela Justiça comum.

"A princípio, não há jurisprudência", informa a assessoria do Supremo. "São dois casos similares, mas com decisões opostas."

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade