PUBLICIDADE

O dia em que a ciclofaixa vermelha mudou a contagem anti-PT

Espaços não ocupados por manifestantes em ato contra o governo, nesse domingo, na Paulista, foram um dos nortes para o instituto Datafolha concluir que evento reuniu bem menos que as um milhão de pessoas levantadas pela PM

16 mar 2015 - 20h39
(atualizado às 20h49)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>PM calculou público a partir de imagens aéreas; Datafolha teve equipes em solo</p>
PM calculou público a partir de imagens aéreas; Datafolha teve equipes em solo
Foto: Reuters

Rechaçado na manifestação desse domingo contra o PT e o governo Dilma Rousseff, o vermelho da bandeira petista, quem diria, foi um dos trunfos para o instituto de pesquisa Datafolha calcular a quantidade de gente que efetivamente teria participado do ato na Avenida Paulista. E justamente o vermelho das ciclofaixas implementadas pela gestão do petista Fernando Haddad, as quais, nos últimos meses, renderam polêmica entre moradores de bairros como Jardins e Higienópolis – ambos, áreas nobres da capital paulista.

O Terra conversou com o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, sobre a metodologia utilizada pelo instituto – especialmente porque o número de 210 mil pessoas que o instituto crava como público do ato é quase cinco vezes menor que o um milhão de participantes estabelecido pela PM. A reportagem também tentou ouvir a corporação, mas recebeu a mesma resposta que a enviada ontem às redações: o cálculo foi obtido a partir de uma ferramenta – a “Copom Online” – abastecida por imagens aéreas colhidas por um dos helicópteros Águia. Tanto a PM quanto o Datafolha, porém, consideram um limite de cinco pessoas por metro quadrado. “A estimativa, apurada por volta de 15h40, considerou a extensão da Avenida Paulista, da Praça Oswaldo Cruz até a Rua da Consolação, considerando, ainda, a ocupação das ruas adjacentes e paralelas, além do vão livre do Masp”, salientou a polícia, em nota.

Policiais militares são aplaudidos por manifestantes em SP:

De acordo com Paulino, que é sociólogo e atua há 28 anos no instituto, as equipes do Datafolha atuaram em solo. “O fator principal para se ter uma noção mais exata do tamanho das multidões é entender e observar a densidade por metro quadro dos diversos locais da manifestação. Quando se usa uma foto aérea, perde0-se essa noção – a perspectiva área não dá condição de observar de forma adequada as concentrações nos diversos locais”, destacou.

“Olhando as fotos feitas do alto e estampadas na capa dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo de hoje, vemos espaços vazios – dá para olhar o vermelho da ciclovia, por exemplo. Se tudo estivesse completamente lotado, e fazendo as contas de 135,4 mil metros quadrados da avenida, cinco pessoas por metro quadrado, chegaríamos a no máximo umas 950 mil pessoas em toda a Paulista”, explicou.

Defensora do governo Dilma encara ato a favor do impeachment:

Paulino salientou que justamente “para evitar distorções” o Datafolha não lança mão de imagens aéreas como critério básico de aferição – ainda que as analise, como foi feito com as fotos dos jornais diários, juntamente com os dados coletados pelos cerca de 30 pesquisadores em campo em um ato como o de ontem. “A imagem aérea dá a falsa noção de que está tudo tomado – ela tende a elevar o número de participantes”.

Pico de público foi às 16h

Pelo método do Datafolha, as equipes são distribuídas em todos os quarteirões da via onde acontece o evento, e, em geral, por pequenas áreas. As medições são feitas de hora em hora, e o resultado final é a soma de todas elas.

“Ontem, por exemplo, começamos a medir às 14h, e assim o fizemos às 15h, às 16h, pico, com 187,6 mil manifestantes, às 17h e às 18h. Somamos, porque, nesse universo, há o grupo dos persistentes, que ficam do começo ao fim, e há os entrantes, ou seja, os que chegam e saem ao longo do ato”, explicou Paulino, que completou: “É um método usado há 30 anos, testado exaustivamente. A única certeza que tenho ao longo dessa experiência, medindo manifestações, é que foto aérea mais atrapalha que ajuda”.

Mulher pelada participa de ato contra Dilma em SP:

O diretor deu ainda outro exemplo: quem vai de bicicleta ou com um cão de estimação a esse tipo de evento, por exemplo, faz com que a densidade populacional diminua. Em outras palavras: o manifestante ocupa mais espaço dentro do metro quadrado que comportaria até cinco pessoas. A reportagem verificou vários exemplos como esse – de manifestante com as magrelas, aos que levaram os pets em coleiras ou no colo.

“As pessoas tendem a fazer uma avaliação emocional, contaminada pela emoção – claro que tinha muita gente torcendo para que o ato fosse um sucesso e tivesse, por exemplo, dois milhões de pessoas, e havia outros torcendo para que não tivesse mais de 50 mil participantes”, encerrou o sociólogo.

Protesto é o maior desde Diretas-Já

Apesar do número aquém do levantado pela PM, o dado do Datafolha atestou, por outro lado, que o ato de ontem foi o maior desde a passeata de 16 de abril de 1984 na campanha pelas Diretas-Já, quando 400 mil foram ao Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, já na etapa final da ditadura militar, pedindo eleições diretas para a Presidência. 

Em 2012, o instituto também contradisse dados de público da Parada do Orgulho LGBT, cuja organização, naquele ano, calculara um público de 4 milhões de pessoas. O Datafolha chegou a 270 mil participantes no evento. 

Fonte: Terra
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade