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Número de acidentes aéreos cresce 68,8% no País em 2011

16 jul 2011 - 07h50
(atualizado em 18/7/2011 às 17h55)
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Estêvão Silva

Com uma infraestrutura classificada por especialistas como "supersaturada", a aviação civil brasileira registra elevação dos acidentes em 2011. O comando do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Aeronáutica contabiliza até o dia 31 de junho 76 casos, enquanto no mesmo período do ano passado foram 45. Um crescimento de 68,8%. Os dados não levam em conta os acidentes deste mês, como o do bimotor LET-410 da companhia Noar, que caiu na quarta-feira, logo após decolar do Aeroporto de Guararapes, em Recife (PE), e de um helicóptero em Jaraguá do Sul, na região norte de Santa Catarina, na sexta-feira.

"É provável que o aspecto mais determinante para essa elevação seja o crescimento absurdo no número de decolagens. As empresas estão comprando aviões de forma 'adoidada'. A tendência é de as estatísticas aumentem", avaliou o professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS e coordenador do Departamento de Treinamento de Voo da universidade, Guido César Carim Júnior.

Regras brandas impostas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para exigir qualificação de pilotos das aeronaves de pequeno porte também podem explicar crescimento, segundo o especialista. "Hoje, muita gente sem experiência recebe autorização para voar no dia seguinte. Estes acidentes, em sua maioria, ocorrem com aviões privados muitos deles para práticas desportivas."

As estatísticas do Cenipa também revelam crescimento no ritmo de acidentes aéreos com mortes. Com a queda do bimotor no Recife, e do helicóptero em Jaraguá do Sul, os primeiros seis meses de 2011 já têm 17 casos. Em todo o ano passado, foram 21.

"São números relativos, pois não há um levantamento oficial e confiável no número total de decolagens, que aumentou massivamente", ponderou Carim Júnior. Já o ex-ministro da Aeronáutica, brigadeiro Mauro Gandra acredita que a falta de interação entre Anac e o Cenipa é o pivô dos problemas. "Fizeram uma operação 'Tiradentes' com a aviação, ao criarem a Anac. Ela (aviação) foi esquartejada. Vamos sair dessa. Mas vai demorar. Mais cinco anos, quem sabe", opinou.

"Houve uma desconexão entre a Anac, o Cenipa e o comando da Aeronáutica em relação a quem é o responsável pela segurança de voo. É um aspecto preocupante", concordou o professor da PUCRS. "Durante mais de 20 anos, tivemos uma constante queda no número de acidentes, mas agora há o efeito inverso com o crescimento das decolagens. Hoje, no País, falta habilidade de órgãos superiores para definir uma política de investimentos que preveja os acidentes. A estrutura está supersaturada e as aeronaves estão voando. Há risco de colapso"

A Anac, através de sua assessoria de imprensa, avaliou que é impossível fazer comparações tomando por base o número absoluto de acidentes, já que é preciso dados oficiais - que não foram detalhados pelo órgão - sobre eventuais alterações no número de pousos e decolagens entre os períodos de 2010 e 2011. Questionada sobre a integração nas ações com o Cenipa, a agência garantiu que em cada acidente ou incidente é gerado um relatório final que poderá resultar em recomendações de segurança operacional do Cenipa para a Anac.

Para frear os acidentes, a agência planeja implantar o Programa Brasileiro de Segurança Operacional específico da Anac (PSOE). Entre os objetivos do projeto, está a "supervisão da implementação dos Sistemas de Gerenciamentos de Segurança Operacional pelos entes regulados da Agência e a implementação de programas de coleta de dados que possibilitem a análise de tendências que irão apoiar as decisões da diretoria e superintendências da Anac", informou.

Já o Cenipa foi procurada pelo Terra mas informou que devido à mobilização para investigar o acidente de Pernambuco, nenhum profissional poderia falar sobre o tema.

Até o final do mês passado, os gráficos do órgão da Aeronáutica apontavam o andamento de 199 investigações de acidentes com aeronaves no país. Mais de 700 já foram concluídos nos últimos dois anos. Casos de perda de controle em pousos, colisões durante os deslocamentos, e panes no motor figuram na lista dos problemas mais frequentes.

Elevação após ano menos violento
A retomada do crescimento dos acidentes aéreos no País ocorre após o ano de 2010 terminar com o menor número de vítimas fatais no setor em cinco anos, de acordo com dados do Cenipa. Conforme o levantamento, foram 39 mortes no ano passado, enquanto 2011 já tem 57 - sem contar o caso de Jaguará do Sul (SC).

Outras 61 ocorreram em 2009, 55 em 2008, 272 em 2007, 210 em 2006, e 36 em 2005. Segundo o centro da Aeronáutica, 2007 foi o ano com mais acidentes fatais da década, com 33 registros.

Os anos de 2006 e 2007 marcaram a aviação na última década devido a duas tragédias da aviação brasileira: a queda do Boeing 737-800 da Gol, após choque com um jato Legacy, em setembro de 2006, que deixou 154 mortos; e o acidente com um Airbus A320 da TAM, que saiu da pista do Aeroporto de Congonhas, bateu contra o prédio da empresa de cargas TAM Express e explodiu, matando 199 pessoas, em julho de 2007.

Incêndio toma conta de bimotor que caiu na Grande Recife (PE), no 16º acidente com mortes de 2011, no Brasil
Incêndio toma conta de bimotor que caiu na Grande Recife (PE), no 16º acidente com mortes de 2011, no Brasil
Foto: Denio Rodrigues / vc repórter
Fonte: Terra
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