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Novos relatos de abuso pressionam PM do Rio

21 jun 2013 - 22h55
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Poucas horas depois do início dos confrontos que culminaram com cenas de vandalismo e uso de bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes nas imediações da avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, na última quinta-feira, começaram a surgir nas redes sociais relatos e vídeos sobre ações da Polícia Militar em outras partes do centro. Elas foram consideradas abusivas por advogados e defensores dos direitos humanos.

De acordo com relatos ouvidos pela BBC Brasil, a polícia teria utilizado bombas de efeito moral e de gás nas proximidades de bares da Lapa, bairro boêmio no centro do Rio. Além disso, manifestantes que teriam se refugiado em um bar na Cinelândia e nas sedes da Faculdade Nacional de Direito e do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) - ambos da UFRJ -, teriam tido dificuldades de deixar os locais temendo a ação da polícia.

Durante entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou que eventuais abusos por parte da polícia serão investigados, mas disse que não é possível "demonizar" a polícia.

"A polícia pode ter seus erros, suas mazelas, seus problemas, talvez não tenha conseguido contornar todas as situações ontem (quinta), mas contornou as outras que poderiam acontecer", disse.

Abusos

O advogado Ronaldo Cramer, vice-presidente da OAB do Rio de Janeiro, afirmou que a entidade recebeu denúncias de abusos por parte da polícia durante os protestos e contou que ele próprio presenciou o que classificou como "arbitrariedades" na noite da última quinta-feira.

"Nós vimos ontem alguns policiais no centro da cidade perderem o controle", disse Cramer. Segundo ele, a polícia deveria ter agido com "inteligência".

Cramer foi um dos representantes da OAB que auxiliaram na retirada de um grupo de cerca de 200 manifestantes que se refugiaram na sede do IFCS, no centro do Rio. O grupo diz er se abrigado no local por medo da ação policial.

"A situação no IFCS, por exemplo, foi triste, estudantes ficaram sitiados, com medo de sair, porque estavam com receio de serem perseguidos", disse.

Por meio de uma mensagem publicada em sua conta oficial no site de microblogs Twitter, a Polícia Militar do Rio de Janeiro negou que tenha havido um cerco ao IFCS e à Faculdade Nacional de Direito.

Ainda de acordo com o advogado, a OAB teria recebido denúncias de que bombas de gás lacrimogêneo teriam sido lançadas nas proximidades do hospital Souza Aguiar.

Refugiados

Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB, o advogado Rodrigo Mondego também estava presente durante momentos de tensão sofridos pelos manifestantes no IFCS.

Ele conta que os manifestantes só aceitaram sair do local após serem escoltados pelos advogados que trabalhavam em esquema de plantão para tentar coibir abusos durante os protestos.

"O medo e o desespero das pessoas era real. Tinha muitas motos do Batalhão de Choque rodando no centro do Rio, então as pessoas tinham medo de sair. A gente escoltou 250 pessoas do IFCS para o metrô", diz.

De acordo com Mondego, a maior parte dos refugiados na universidade era de pessoas ligadas ao movimento estudantil. Segundo o advogado, havia ainda alguns membros de partidos políticos que estavam feridos após terem sido espancados por outros manifestantes que se colocavam contra a presença de partidos políticos na marcha.

Mondego conta que os membros da Comissão de Direitos Humanos da OAB também ajudaram a escoltar manifestantes que estavam refugiados no tradicional bar Amarelinho, na Cinelândia.

Cinelândia

Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o deputado estadual Marcelo Freixo afirmou também ter recebido denúncias de abusos. Disse que a questão será encaminhada ao Ministério Público e à Defensoria Pública.

"Se por um lado a gente não quer a depredação ou a violência que têm sido comuns no fim das passeatas, a gente também não pode tolerar a generalização da violência pela polícia", disse.

"A polícia chegou na Cinelândia jogando bombas. Ali não tinha baderneiros, os estudantes que estavam refugiados dentro da UFRJ (IFCS) não eram os baderneiros, os estudantes estavam fugindo da baderna".

Lapa

Relatos também dão conta de que a polícia teria agido nas ruas do bairro da Lapa utilizando bombas de efeito moral e gás, o que teria obrigado algumas pessoas a se refugiarem em bares e restaurantes.

Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rodrigo Gueron afirmou ter participado do protesto e depois presenciado a ação da PM na Lapa.

"A polícia chegou atirando bombas de gás lacrimogêneo. Ela jogava gás lacrimogêneo nas aglomerações normais dos bares, inclusive em pessoas sentadas", disse.

Após ter participado da manifestação, o produtor Thiago Earp jantava em um bar na Lapa às 22h30.

"Veio um monte de caminhonetes dos dois lados, fecharam a rua. A gente tentou continuar do lado de fora, mas com a quantidade de gás, não deu. Todos os bares fecharam (as portas) e a gente ficou preso dentro do bar durante uma hora e meia", disse.

"Para mim foi quando eles (a polícia) perderam completamente a razão; até chegar ali, eles estavam defendendo e expulsando a galera para não retornar (à manifestação), mas eles não mantiveram a postura defensiva. Ali na Lapa eles invadiram tudo".

Ação

Em entrevista à BBC News, o coronel Frederico Caldas, relações públicas da Polícia Militar, afirmou que os confrontos da noite da última quinta-feira se iniciaram quando manifestantes teriam lançado rojões contra os cavalos da polícia que faziam um cerco em volta da prefeitura. Além disso, pouco antes teria havido uma briga generalizada entre os manifestantes.

De acordo com Caldas, parte dos manifestantes deixou um "rastro de destruição" no centro da cidade, tentando invadir prédios públicos e provocando incêndios.

"Sabemos que a maioria vai para uma manifestação pacífica, mas, infelizmente, o que está se mostrando é que algumas pessoas estão se infiltrando para se aproveitar e promover saques, como nós vimos na Cinelândia e tentar invadir prédios, como por exemplo, aqui no Teatro Municipal", disse.

O coronel afirmou que a ação na Lapa foi motivada por saques ao comércio na região. Ainda de acordo com ele, durante manifestações com essas dimensões, pessoas que não estão praticando delitos acabam sendo atingidas pelas armas utilizadas pela tropa de choque.

"Infelizmente, quando a gente tem uma manifestação como essa (...) algumas pessoas que estão ali acabam sendo atingidas, por exemplo, quando utilizada uma bomba de efeito moral, um gás de pimenta", diz.

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