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Polícia

'É uma guerra', diz sargento amigo de PM morta em frente à filha

5 dez 2012 - 18h58
(atualizado às 19h07)
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Marina Novaes
Direto de São Paulo

Cem policiais militares já foram mortos desde janeiro em São Paulo - muitos deles durante a folga, com características de execução -, e, apesar da troca de comando da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP), na semana passada, o clima ainda é de tensão na corporação. Mesmo quem se dedica mais às funções administrativas relata que os ataques mudaram a rotina de suas famílias, que também passaram a temer serem possíveis alvos do que chamam de "guerra" contra o crime organizado.

Policial da Rota foi morto no fim de setembro na zona oeste da capital
Policial da Rota foi morto no fim de setembro na zona oeste da capital
Foto: Bruno Santos / Terra

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"A minha rotina não mudou, mas a da minha família sim. Eu não tenho medo, porque quando entrei para a Polícia Militar sabia que estava entrando para uma guerra. Então me preparei pra isso. E é uma guerra", disse o Sargento Luiz*, que é casado, tem dois filhos e atualmente atua em um setor administrativo da corporação.

O sargento era amigo de Marta Umbelina da Silva, 44 anos, policial militar que foi morta a tiros em frente à filha de 11 anos, no início de novembro, quando chegava em sua casa, na Brasilândia (zona norte). Divorciada e mãe de três filhos, Marta foi a primeira policial mulher vítima da recente onda de ataques contra policiais em São Paulo, e seu caso ganhou destaque inclusive na imprensa internacional. Ela, que também exercia função administrativa e não havia recebido ameaças, trabalhou ao lado do sargento Luiz durante anos no setor responsável por auxiliar e confortar os familiares de PMs mortos, na área de relações públicas da corporação.

"Ela queria se aposentar na Polícia Militar, gostava muito do que fazia. É triste porque nós, quando entramos na Polícia Militar, queríamos ajudar as pessoas. Ainda queremos, e trabalhamos muito. Ninguém entra na PM por causa do salário, porque não é muito bom", disse o policial, que contou que a amiga trabalhava em um projeto de segurança implantado pela prefeitura de São Paulo para complementar a renda familiar. Por conta de sua morte, alguns policiais chegaram a fazer uma "vaquinha" para ajudar a família de Marta com as despesas funerárias.

A morte da amiga mudou a rotina da família do oficial, que passou a adotar medidas de segurança como precaução. "A gente tenta evitar de ficar em frente à casa. Outro dia, por exemplo, vieram uns agentes da prefeitura falar da campanha da dengue, e como eles não usam uniforme, eu fui atender à porta com a arma nas costas", revelou.

Feridos

Além dos policiais militares mortos, dezenas de oficiais foram baleados na recente onda de violência no Estado, cujas consequências, embora chamem menos atenção, não deixam de ser traumáticas. Em pelos menos dois casos de ataques ocorridos nos últimos meses, dois policiais baleados ficaram tetraplégicos.

"As famílias são tão vítimas quanto os policiais, porque isso muda a vida de todos. (...) As esposas acabam virando enfermeiras em alguns casos. E essa mudança gera muitos custos mensais que o Estado não cobre", disse o sargento da PM Elcio Inocente, presidente da Associação dos Policiais Militares Portadores de deficiência do Estado de São Paulo, que também presta assistência aos policiais feridos.

"Vemos com muita indignação a reação do Estado. Quando a coisa degringola, os culpados são sempre os policiais militares. O governo demorou muito para reagir, e só reagiu por pressão", critica.

Seguro

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou no início de novembro que o seguro para policiais mortos no exercício da função dobraria de R$ 100 mil para R$ 200 mil. Além disso, o benefício foi estendido também a agentes que sofrerem atentados em horário de folga - até então apenas sa famílias de policiais em serviço podiam receber a indenização. "Será não só pelo trabalho, mas também pela condição de policial", declarou o governador.

A indenização para policiais de folga era pleiteada pela categoria há muitos anos, especialmente depois das centenas de mortes ocorridas na última grande crise da Segurança Pública, em 2006. Muitas famílias de agentes de segurança mortos em horário de folga lutam na Justiça por indenização. Alckmin comunicou, junto com a medida, outras ações de "valorização" profissional dos policiais, como a compra de equipamentos novos, e a primeira transferência de um preso do Estado para um presídio federal.

*O sobrenome do oficial foi suprimido a pedido do entrevistado.

Fonte: Terra
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