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Polícia

Ousadia dos PMs que cobravam propina do tráfico surpreende MP

4 dez 2012 - 17h28
(atualizado às 20h16)
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Paula Bianchi
Direto de Rio de Janeiro

A ousadia dos policiais que operavam cobrando propina, o chamado "arrego", na favela Vai Quem Quer, em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, surpreendeu os promotores responsáveis pela denúncia encaminhada pelo Ministério Público (MP). De acordo com as investigações, os PMs envolvidos no esquema recebiam até R$ 5 mil por plantão, dependendo do movimento das bocas de fumo das favelas da região, para não coibir atividades criminosas.

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O promotor Décio Alonso conta que um dos PMs chegou a passar o número de uma conta corrente aos traficantes para receber a propina enquanto estava de férias. Os policiais também tentavam manter o recebimento quando deixavam o batalhão - à época das investigações, todos os 65 PMs acusados estavam no 15º BPM (Duque de Caxias). "Nos surpreendemos com as escutas. Eles tentavam enganar os traficantes para seguir recebendo o dinheiro, mesmo quando deixavam o batalhão", diz Alonso.

Até as 20h desta terça-feira 63 policiais e 11 traficantes foram presos por uma força tarefa formada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (Ssinte), pela Polícia Federal (PF), pela Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar (CI/PMERJ) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

A operação, que mobilizou cerca de mil agentes, é resultado de um ano de investigações conjuntas e cumpre 83 mandados de prisão, 65 contra policiais militares, de nove batalhões, e outros 18 contra civis. Entre os traficantes detidos, cinco já estavam presos no complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.

O esquema

De acordo com a investigação, quando a propina não era paga em dia, os PMs sequestravam bandidos e seus familiares, apreendiam veículos do tráfico exigindo dinheiro para devolução e realizavam operações oficiais na favela. O principal alvo dos policiais era a favela Vai Quem Quer, mas eles agiam também nas comunidades Beira-Mar, Santuário, Santa Clara, Centenário, Parada Angélica, Jardim Gramacho, Jardim Primavera, Corte Oito, Vila Real, Vila Operário, Parque das Missões e Complexo da Mangueirinha. De acordo com investigações, os policiais militares não tinham um comando único e dividiam-se em 11 células autônomas.

No núcleo do tráfico, Carlos Braz Vitor da Silva, o Paizão ou Fiote, é considerado o chefe do Comando Vermelho nas favelas de Duque de Caxias e, segundo as investigações, mesmo preso na penitenciária Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, mantém frequentes contatos telefônicos com seus subordinados e continua dando ordens e recebendo informações detalhadas sobre a rotina do tráfico nas favelas, decidindo inclusive sobre os valores a serem pagos aos policiais.

A denúncia relata que um dos seus homens de confiança é Willian da Silva, conhecido como Cabeça, elo entre a quadrilha e os policiais militares da região. Ele era o responsável pelo pagamento das propinas e também pela negociação do resgate de homens do bando sequestrados por policiais, assim como a liberação dos carros apreendidos ilegalmente. A quadrilha de Fiote, além de manter parceria com o tráfico de drogas no Complexo do Lins, Parque União e Favela Nova Holanda, que também estão sendo alvo da operação Purificação, estendeu seus domínios para fora do Estado do Rio, estabelecendo relações com traficantes do Mato Grosso do Sul, de onde vem parte das drogas vendidas nas favelas de Duque de Caxias.

Fonte: Especial para Terra
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