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Política

Cardozo rebate acusações de que teria perdido controle sobre a PF

4 dez 2012 - 11h30
(atualizado às 11h58)
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Gustavo Gantois
Direto de Brasília

O ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, participa na manhã desta terça-feira de audiência pública nas comissões de Segurança Pública e Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados. Ele foi convidado para falar sobre a operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que investiga denúncia de suposto tráfico de influência praticado por membros do governo da presidente Dilma Rousseff.

Cardozo diz que recebeu informações genéricas antes da operação:

Com uma fala estrategicamente pausada, Cardozo rebateu as acusações de uso político da PF em seu mandato. Segundo o ministro, os detratores do trabalho do órgão costumam dizer que a Polícia Federal ora é instrumentalizada para perseguir inimigos, ora perde a relação de subordinação e investiga pessoas envolvidas com o governo.

"Não é mais possível imaginar que a Polícia Federal seja utilizada para atacar políticos ou acariciar aqueles que fazem parte da base de sustentação do governo. É com orgulho de brasileiro que declaro que a PF é de Estado, não de governo. Se amanhã ou depois o ministro da Justiça tentar, de alguma forma, manipular, quebrar regras, saber coisas antes da hora, esse ministro terá contra si a sadia reação da corporação", afirmou Cardozo.

O ministro ainda deu detalhes de como ficou sabendo da operação Porto Seguro. Segundo Cardozo, no dia 22 de novembro, o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, telefonou para o ministro a fim de informar sobre uma operação que envolveria órgão do governo. "Eu tinha um encontro em Fortaleza com ministros da Justiça do Mercosul e o doutor Daiello sugeriu que seria melhor eu estar em Brasília porque a Policia Federal faria uma operação no dia seguinte. As informações foram genéricas. (Daiello) Não me disse se haveria prisões ou buscas", esclareceu.

Após o telefonema, prosseguiu Cardozo, ele manteve a agenda e foi à Fortaleza. Na capital cearense, o ministro se desculpou aos colegas do Mercosul e retornou na madrugada da sexta-feira, pouco antes de a PF iniciar a operação. Por volta das 2h da manhã, quando Cardozo chegou à sua residência em Brasília, o diretor-geral da Polícia Federal foi encontrá-lo para dar detalhes da operação.

"Havia uma situação que me exigia uma análise mais detalhada, sobre o mandado de busca e apreensão no escritório da Presidência da Republica em São Paulo. Ali poderia haver uma situação jurídica, pois trabalham pessoas com foro privilegiado, como ministros. O doutor Daiello me disse que o mandado era específico, apenas sobre a mesa de trabalho de Rosemery Noronha", narrou Cardozo.

O ministro da Justiça informou, então, que entrou em contato com o Gabinete de Segurança Institucional para informar da operação e pedir que acompanhassem a execução do mandado. "Juridicamente, a ordem estava em estrita consonância com a lei", justificou Cardozo.

O ministro acrescentou que entrou em contato com o chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff, Giles Azevedo, para que comunicasse sobre a operação. Cardozo disse que só encontrou com a presidente na manhã da sexta-feira.

Operação Porto Seguro

Deflagrada no dia 23 de novembro pela Polícia Federal (PF), a operação Porto Seguro realizou buscas em órgãos federais no Estado de São Paulo e em Brasília para desarticular uma organização criminosa que agia para conseguir pareceres técnicos fraudulentos com o objetivo de beneficiar interesses privados. A suspeita é de que o grupo, composto por servidores públicos e agentes privados, cooptava servidores de órgãos públicos também para acelerar a tramitação de procedimentos.

Na ação, foram presos os irmãos e diretores Paulo Rodrigues Vieira, da Agência Nacional de Águas (ANA), e Rubens Carlos Vieira, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Além das empresas estatais em Brasília, como a Anac, a ANA e os Correios, foram realizadas buscas no escritório regional da Presidência em São Paulo, cuja então chefe, Rosemary Nóvoa de Noronha, também foi indiciada por fazer parte do grupo criminoso. O advogado-geral adjunto da União, José Weber de Holanda Alves, também foi indiciado durante a ação.

Exonerada logo após as buscas, Rosemary ela teria recebido diversos artigos como propina. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, em troca do tráfico de influência que fazia, ela chegou a ganhar um cruzeiro com a dupla sertaneja Bruno e Marrone, cirurgia plástica e um camarote no Carnaval do Rio de Janeiro.

O inquérito que culminou na ação foi iniciado em março de 2011, quando, arrependido, Cyonil da Cunha Borges de Faria Jr., auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), procurou a PF dizendo ter aceitado R$ 300 mil para fazer um relatório favorável à Tecondi, empresa de contêineres que opera em Santos (SP). O dinheiro teria sido oferecido por Paulo Rodrigues Vieira entre 2009 e 2010. Vieira é apontado pela PF como o principal articulador do esquema. Na época, ele era ouvidor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e conselheiro fiscal da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

Em decorrência da operação, foram afastados de seus cargos o inventariante da extinta Rede Ferroviária Federal S.A., José Francisco da Silva Cruz, o ouvidor da Antaq, Jailson Santos Soares, e o chefe de gabinete da autarquia, Enio Soares Dias. Também foi exonerada de seu cargo Mirelle Nóvoa de Noronha, assessora técnica da Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária da Anac. O desligamento ocorreu a pedido da própria Mirelle, que é filha de Rosemary.

Fonte: Terra
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