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Polícia

RJ: megaoperação prende dezenas de PMs envolvidos com traficantes

4 dez 2012 - 08h52
(atualizado às 20h13)
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Depois de um ano de investigações de uma força-tarefa formada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (Ssinte), pela Polícia Federal, pela Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar (CI/PMERJ) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro foi desencadeada, às 6h desta terça-feira a Operação Purificação, para cumprir 83 mandados e prisão, sendo 65 de policiais militares e 18 de traficantes e integrantes da quadrilha.

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Segundo informações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), os policiais - à época lotados no 15º BPM, de Duque de Caxias, recebiam propina dos bandidos para não coibir atividades criminosas em 13 favelas de Caxias dominadas pela facção Comando Vermelho. O Gaeco denunciou os acusados pelos crimes de formação de quadrilha armada, tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção ativa, corrupção passiva e extorsão mediante sequestro. Até as 20h, 63 policiais militares foram presos. Também eram cumpridos 112 mandados de busca e apreensão na casa dos denunciados e em batalhões da PM.

De acordo com a investigação, os PMs não se limitavam apenas em receber a propina para deixar de reprimir o tráfico, eles também sequestravam bandidos e seus familiares, apreendiam veículos do tráfico exigindo dinheiro para devolução, negociavam armas e realizavam operações oficiais quando o pagamento da propina atrasava.

O principal alvo dos policiais era a favela Vai Quem Quer, mas eles agiam também nas comunidades Beira-Mar, Santuário, Santa Clara, Centenário, Parada Angélica, Jardim Gramacho, Jardim Primavera, Corte Oito, Vila Real, Vila Operário, Parque das Missões e Complexo da Mangueirinha. De acordo com investigações, os policiais militares não tinham um comando único e dividiam-se em 11 células autônomas.

No núcleo do tráfico, Carlos Braz Vitor da Silva, o Paizão ou Fiote, é considerado o chefe do Comando Vermelho nas favelas de Duque de Caxias e, de acordo com investigações, mesmo preso na Penitenciária Vicente Piragibe, no Complexo de Bangu, mantém frequentes contatos telefônicos com seus subordinados e continua dando ordens e recebendo informações detalhadas sobre a rotina do tráfico nas favelas, decidindo inclusive sobre os valores a serem pagos aos policiais.

A denúncia relata que um dos seus homens de confiança é Willian da Silva, conhecido como Cabeça, elemento de ligação entre a quadrilha e os policiais militares da região, sendo o responsável pelo pagamento das propinas e também da negociação do resgate de homens do bando sequestrados por policiais, assim como a liberação dos carros apreendidos ilegalmente.

A quadrilha de Fiote, além de manter parceria com o tráfico de drogas no Complexo do Lins, Parque União e Favela Nova Holanda, que também estão sendo alvo da Operação Purificação, estendeu seus domínios para fora do Estado do Rio, estabelecendo relações com traficantes do Mato Grosso do Sul, de onde vem parte das drogas vendidas nas favelas de Duque de Caxias.

Quadrilha

Outras peças importantes no bando são Valdirene Faria Barros, vulgo Val, que atua intermediando pagamentos a equipes de policiais em extorsões sofridas por integrantes dos bandos, e Lemuel Santos de Santana, o Doutor, que tem a função de contratar advogados para defender traficantes presos e orientar a quadrilha na relação com PMs corruptos. As investigações apontam que o preço da propina flutuava de acordo com a capacidade de venda de drogas pelos bandidos.

Durante as investigações, segundo o MPRJ, "foi possível constatar que os policiais militares conheciam bem os bandidos". Foragido da Justiça, Jeferson Ferreira Abrantes, o Sorriso, que atuava no abastecimento das bocas de fumo da comunidade Vai Quem Quer, era alvo constante de extorsões dos PMs, que exigiam pagamento de valores em dinheiro para a manutenção da sua liberdade.

Foi descoberto ainda que, na tentativa de ocultar os seus nomes, os policiais militares criaram apelidos coletivos para as equipes: Martelo, Rio do Ouro, Bonde do Chininha, Bonde do King Kong, Macumba e Munição eram alguns dos codinomes. Os policiais militares também demonstravam ousadia na hora de negociar armas. Segundo investigações, em junho deste ano, o mesmo PM Vagner esconde dentro de uma geladeira de um barraco uma carabina calibre 12, para ser pega por um traficante. Além disso, deixou R$ 300 dentro do congelador como parte de um pagamento. Os policiais também usavam as dependências de Destacamento de Policiamento Ostensivo para cometer crimes, apontaram as investigações.

Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pela Juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias. O Gaeco também requereu à Justiça o bloqueio integral do dinheiro nas contas correntes de dois denunciados.

Fonte: Terra
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