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Comissão de Ética pede explicações a investigados na Porto Seguro

3 dez 2012 - 19h42
(atualizado às 20h43)
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A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu nesta segunda-feira pedir informações a quatro envolvidos no esquema criminoso infiltrado em órgãos federais descoberto pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal (PF), deflagrada no último dia 23.

Terão que se explicar à comissão o ex-advogado-geral adjunto José Weber de Holanda, o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, o irmão dele e diretor afastado da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira, e a ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha. Todos foram exonerados após a operação da PF.

O presidente do colegiado, conselheiro Américo Lacombe, disse que os ex-servidores terão dez dias para prestar as informações que a comissão julgar necessárias. "Resolvemos pedir informações e intimar que se pronunciem a respeito do que está sendo publicado. Inicialmente serão informações por escrito. Podem até não prestar porque estão fora do cargo, mas evidentemente serão censurados", disse. Como já foram exonerados do serviço público, a punição máxima que a Comissão de Ética pode estabelecer aos envolvidos é a censura ética.

O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, que indicou Weber para o cargo, por enquanto não está no alvo da comissão. Segundo Lacombe, Adams não pode ser responsabilizado pela má conduta dos servidores que indica. "Não vimos nada de compromisso dele, ele apenas indicou. Até agora não vejo nada contra ele, nada de sério. Pode ser que no futuro apareça, mas até agora não tem nada", avaliou.

Além das informações dos investigados, a comissão também quer ter acesso ao inquérito da Polícia Federal que levou à operação.

Um dos investigados, Paulo Vieira, ex-diretor da ANA, já havia sido assunto da Comissão de Ética por acumular dois cargos públicos. Além da diretoria na agência, Vieira era membro do Conselho de Administração da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), e, em abril deste ano, fez a consulta à comissão sobre a legalidade da atuação nos dois cargos. O colegiado disse que o acúmulo era irregular e, em seguida, negou um pedido de reconsideração feito por Vieira em novembro.

Nesse caso, além da censura ética, o ex-diretor pode ser condenado, pela Justiça, a devolver os recursos públicos recebidos irregularmente no acúmulo dos cargos. Por causa dos novos pedidos de informação, a Comissão de Ética pode voltar a se reunir ainda este mês, em uma reunião extraordinária, segundo o presidente do colegiado.

Operação Porto Seguro

Deflagrada no dia 23 de novembro pela Polícia Federal (PF), a operação Porto Seguro realizou buscas em órgãos federais no Estado de São Paulo e em Brasília para desarticular uma organização criminosa que agia para conseguir pareceres técnicos fraudulentos com o objetivo de beneficiar interesses privados. A suspeita é de que o grupo, composto por servidores públicos e agentes privados, cooptava servidores de órgãos públicos também para acelerar a tramitação de procedimentos.

Na ação, foram presos os irmãos e diretores Paulo Rodrigues Vieira, da Agência Nacional de Águas (ANA), e Rubens Carlos Vieira, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Além das empresas estatais em Brasília, como a Anac, a ANA e os Correios, foram realizadas buscas no escritório regional da Presidência em São Paulo, cuja então chefe, Rosemary Nóvoa de Noronha, também foi indiciada por fazer parte do grupo criminoso. O advogado-geral adjunto da União, José Weber de Holanda Alves, também foi indiciado durante a ação.

Exonerada logo após as buscas, Rosemary ela teria recebido diversos artigos como propina. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, em troca do tráfico de influência que fazia, ela chegou a ganhar um cruzeiro com a dupla sertaneja Bruno e Marrone, cirurgia plástica e um camarote no Carnaval do Rio de Janeiro.

O inquérito que culminou na ação foi iniciado em março de 2011, quando, arrependido, Cyonil da Cunha Borges de Faria Jr., auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), procurou a PF dizendo ter aceitado R$ 300 mil para fazer um relatório favorável à Tecondi, empresa de contêineres que opera em Santos (SP). O dinheiro teria sido oferecido por Paulo Rodrigues Vieira entre 2009 e 2010. Vieira é apontado pela PF como o principal articulador do esquema. Na época, ele era ouvidor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e conselheiro fiscal da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

Em decorrência da operação, foram afastados de seus cargos o inventariante da extinta Rede Ferroviária Federal S.A., José Francisco da Silva Cruz, o ouvidor da Antaq, Jailson Santos Soares, e o chefe de gabinete da autarquia, Enio Soares Dias. Também foi exonerada de seu cargo Mirelle Nóvoa de Noronha, assessora técnica da Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária da Anac. O desligamento ocorreu a pedido da própria Mirelle, que é filha de Rosemary.

Agência Brasil Agência Brasil
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