Hollande recebe indígena brasileiro para tratar sobre Amazônia
29 nov2012 - 12h59
(atualizado às 19h44)
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O presidente da França, François Hollande, recebeu nesta quinta-feira, no Palácio do Eliseu, Raoni Metuktire, um dos chefes do povo brasileiro dos Kayapó, que vestido com um tradicional cocar pediu esforços pela preservação da Floresta Amazônica. Ao término da reunião, Hollande destacou em comunicado "o percurso pessoal e o valente compromisso pela preservação do meio ambiente" de seu convidado.
O presidente francês ressaltou, além disso, "a mobilização da França pela preservação das grandes florestas primárias e a proteção dos povos autóctones que vivem nisso, tanto no Amazonas como em outros lugares do mundo". O indígena, original do Estado do Mato Grosso e cuja idade ronda os 80 anos, disse perante a imprensa que se sente "feliz" de ter recebido o apoio do presidente francês, assim como "da Europa e do mundo".
Também tomou a palavra no pátio do Palácio do Eliseu o jornalista e ativista ecologista Nicolas Hulot, que acompanhou o chefe indígena como presidente da Fondation pour la Nature (Fundação pela Natureza), e assinalou que "as mudanças climáticas, o desmatamento e a perda da biodiversidade" são "desafios universais" porque "vão afetar a humanidade inteira". Segundo Hulot, o chefe indígena, que representa um povo de cerca de 7 mil pessoas, se queixou da participação do grupo francês Alstom na gigantesca usina de Belo Monte sobre o rio Xingu, afluente do Amazonas.
Não é a primeira vez que Raoni Metuktire causa furor na França, pois já revolucionou o tapete vermelho da 63ª edição do Festival de Cannes, quando foi convidado a assistir à projeção de On Tour, primeiro trabalho do francês Mathieu Amalric. Antes, no final dos anos 1980, embarcou numa viagem com o cantor Sting para chamar a atenção sobre os perigos que espreitam a Floresta Amazônica, um dos pulmões do planeta.
No marco de sua atual viagem europeia, Raoni Metuktire visitará também Holanda, Alemanha e Suíça. Por sua vez, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, efetuará uma visita de Estado à França no próximo 11 de dezembro.
Há quase um ano, um grupo de aproximadamente 170 indígenas da etnia Guarani Kaiowá (ao fundo) está acampado em uma área de preservação ambiental da fazenda Cambará, às margens do rio Hovy. Praticamente isolados em uma área com um rio de um lado e um brejo do outro, em cerca de um hectare, a etnia sobrevive e luta para reconquistar a terra da qual afirma ter sido expulsa, no município de Iguatemi, no sul do MS
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
O único acesso ao acampamento sem invadir a propriedade é cortando a vizinha aldeia Sassoró, andar alguns metros em uma trilha no mato e, por fim, atravessar o rio Hovy, com cerca de 15 metros de largura e 1,70 m de profundidade no local. Uma cerca de arame liga as duas extremidades para ajudar na travessia com a forte correnteza
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
Vizinha ao acampamento, a aldeia de Sassoró, cuja divisa aparece na foto, no município de Tacuru (MS), já foi demarcada. No entanto, o desafio dos cerca de 2,8 mil índios que lá vivem é voltar a produzir e viver do que dá a terra. A maior parte da terra demarcada está ocupada apenas por matagal. Somente em alguns trechos é possível ter cultivo
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
O cacique Marcos Gomes, 35 anos, diz que o índio quer e tenta plantar, mas a terra não produz, por ser arenosa e precisar de preparo antes do cultivo. Hoje, a maior parte dos alimentos consumidos pelas famílias é fornecido pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Além disso, a maioria dos indígenas precisa procurar trabalho fora da aldeia, em usinas, fazendas e outros locais
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
O cacique (à direita) afirma que os indígenas precisam de um técnico agrícola para orientar e os instrumentos necessários para o preparo da terra
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
A aldeia Sassoró também luta contra o vício no álcool e nas drogas, que atinge muitos jovens. A arma deles é a educação: três escolas funcionam dentro da aldeia, com 980 alunos matriculados. "Tem muito jovem que está na escola e não queremos que vá para o mau caminho. Temos muito problema com segurança, por causa da droga e do álcool", diz o cacique Marcos Gomes, 35 anos
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
Uma conquista do povo foi incluir no currículo disciplinas voltadas para a cultura indígena e ter a língua guarani como a oficial no ensino. Os professores das séries iniciais são todos índios. "É muito importante que se tenha conhecimento, mas que preserve nossa cultura", comemora Ezaú Martins, coordenador de uma das escolas
Foto: Paula Vitorino / Especial para Terra
A jovem professora Barbara (ao fundo) aposta no conhecimento para proporcionar uma nova vida à comunidade da aldeia Sassoró. "Quero adquirir mais conhecimento para ajudar minha comunidade", garante. Ela está concluindo a faculdade de pedagogia em uma universidade da cidade vizinha