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Brasil usa inteligência militar para acabar com desmatamento

17 out 2012 - 21h18
(atualizado às 21h49)
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A indústria do desmatamento da Amazônia no Brasil se aprimorou e vai muito além do corte de árvores. Criminosos utilizam técnicas cada vez mais sofisticadas, que envolvem ataques virtuais a websites oficiais, operações fraudulentas e esquema de pagamento de propinas. "Estamos falando do crime organizado", resumiu Regina Miki, chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

É esse o inimigo do Estado que a Força Nacional de Segurança Ambiental combate desde o início de outubro na floresta amazônica. A nova frente, criada pelo governo para conter o desmatamento ilegal, conta com oficiais das Forças Armadas, da Força Nacional e da Polícia Federal e tem à disposição 18 mil homens e mulheres que podem ser convocados a qualquer momento.

"Por determinação da presidente Dilma Rousseff, nós temos que ter o menor índice de desmatamento já registrado até o fim de 2014. Então teremos uma ação contínua, presença massiva e não permitiremos de forma alguma o desmatamento daqui pra frente", explica Regina.

O reforço policial acompanhará fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e tem autorização para apreender, destruir e identificar os verdadeiros proprietários de materiais que se destinem ao desmatamento como caminhões, motosserras e outros tipos de máquinas. Regina Miki não revela detalhes sobre gastos ou efetivo. "As pessoas que estão do outro lado, os desmatadores e os criminosos, conseguiriam antever qualquer estratégia de inteligência", justifica.

Arma contra o crime organizado

O relatório Green Carbon: Black Trade, lançado em setembro em parceria entre a Polícia Internacional e a Organização das Nações Unidas (ONU), mostrou que o crime organizado é responsável por até 90% da extração ilegal de madeira em florestas tropicais. Os carteis atuam em países como Indonésia, República Democrática do Congo, Malásia, e Papua Nova-Guiné e mantêm atividades ilegais com mais intensidade na Amazônia. Trata-se de um negócio que movimenta até US$ 100 bilhões por ano - aproximadamente R$ 203 bilhões.

"Não podemos ter a expectativa de promover um desenvolvimento sustentável a menos que esses carteis sejam combatidos", comentou Christian Nellemann, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). "E com o aumento do crime organizado, esse tipo de órgão como a Força Nacional de Segurança Ambiental será ainda mais importante."

Segundo a chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública, os criminosos têm migrado de outras atividades para o desmatamento. "Por ser mais rentável e, às vezes, menos perigoso... E eles também trabalham com inteligência. Nosso papel será asfixiar essas organizações, cortando seu fluxo financeiro", revelou.

Joint-venture criminosa

No Brasil, essa indústria ilegal milionária é formada por empresas internacionais que operam com parcerias locais. A missão da Força Nacional será desmantelar a ação de criminosos que atuam no território brasileiro. Investigar os figurões que estão no topo dessa cadeia e à frente de empresas multinacionais é tarefa da Interpol. "Esperamos usar a experiência brasileira para nos ajudar", contou Davyth Stewart, da Interpol.

Segundo o investigador, a iniciativa brasileira é uma "ideia nova" de reunir vários órgãos federais de segurança para conter crimes ambientais. Identificar a rede ilegal de desmatadores exige um esforço coletivo: fiscalização federal mais rígida do rendimento de empresas, controle de fronteiras e de mercadorias e modernização das leis.

Historicamente, o crime ambiental não é tratado com seriedade pelos governos dificilmente, quem comete um delito é preso ou julgado com rigor. "Isso acontece porque o crime florestal é visto como um crime sem vítimas, em que ninguém é ''ferido''. Mas aos poucos as autoridades notam que o desmatamento ilegal tem várias vítimas", analisa Stewart.

Além de ameaçar a sobrevivência dos indígenas e das populações que dependem da floresta, o corte ilegal da mata provoca danos ambientais muitas vezes irreversíveis e desregula o clima. "Somos todos vítimas, coletivamente", conclui o investigador da Interpol.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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