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Mundo

Na ONU, Dilma defende medidas cambiais e critica governo sírio

25 set 2012 - 11h14
(atualizado às 16h40)
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Patrick Brock
Direto de Nova York

Dilma abriu os discursos dos governantes na assembleia da ONU
Dilma abriu os discursos dos governantes na assembleia da ONU
Foto: AFP

Em seu segundo discurso na abertura do debate geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff defendeu nesta terça-feira as medidas adotadas recentemente pelo Brasil para proteger a economia nacional dos importados e da crise europeia, ao mesmo tempo em que criticou a política econômica dos países desenvolvidos e comentou outros temas importantes da problemática mundial, como a antiga luta brasileira pela reforma do Conselho de Segurança da ONU, o embargo a Cuba e a crise no Oriente Médio. Sobre este último tema, Dilma posicionou o Brasil contra o governo da Síria mas rejeitou a possibilidade de intervenção militar, apresentando uma defesa de multilateralismo e de uma solução negociada que estimulou palmas dos delegados reunidos na sede da ONU, em Nova York.

O discurso da presidente manteve o histórico brasileiro de buscar soluções negociadas para conflitos militares e de defesa do multilateralismo nos órgãos mundiais, descrita por observadores mais críticos como uma política "em cima do muro". Desde 1947 que o Brasil faz o discurso de abertura dos debates gerais da ONU, numa tradição informal devido ao seu papel preponderante na fundação do órgão global. Dilma, que tem demonstrado uma energia tecnocrática com medidas inovadoras, como a redução histórica da fórmula de rendimento da poupança para liberar mais recursos para investimentos produtivos, proferiu seu discurso com a oratória morna conhecida pelos habituais ouvintes de seus pronunciamentos.

A ocasião também não contou com a carga histórica do ano passado, quando a então recém-empossada presidente do Brasil foi a primeira mulher a realizar o discurso de abertura dos debates gerais da ONU. Um delegado da África que pediu anonimato, devido à natureza delicada do seu trabalho diplomático, disse que houve menos palmas ao discurso de Dilma este ano do que em 2011, mas a presidente seguiu definindo bem o espírito multilateral usualmente esperado do Brasil. Na imprensa americana, a fala de Dilma foi virtualmente ignorada, com o noticiário se concentrando no sóbrio discurso do secretário-geral, Ban Ki-moon, que falou antes de Dilma, e na fala do presidente Barack Obama na Assembleia Geral e na conferência Clinton Global Initiative, organizada pelo ex-presidente Bill Clinton.

A situação econômica este ano - em que o Brasil já lançou várias medidas para combater a crise de confiança iniciada com o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, no meio do ano passado, e que, por sua vez, alimentou o aprofundamento da atual crise europeia -, foi um tema importante na fala da presidente. Dilma voltou a defender as medidas adotadas pelo Brasil para conter a entrada de produtos importados, como intervenções cambiais para reduzir a cotação do real perante o dólar. "Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam injustamente classificadas como protecionismo", disse Dilma, urgindo uma coordenação maior de organismos internacionais como o G20, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial para "reconfigurar a relação entre política fiscal e monetária", argumentando que o Brasil, segundo ela, sabe por experiência própria a impossibilidade de diminuir o endividamento soberano durante uma recessão.

"Meu País tem feito a sua parte", afirmou a presidente, alegando que o Brasil encontrou o equilíbrio entre austeridade fiscal e medidas de estímulo ao crescimento econômico, como os cortes recentes nas tarifas de energia para reduzir os custos de produção. "A história revela que a austeridade, quando exagerada e isolada do crescimento, derrota a si mesma", disse ela, numa possível referência ao problema enfrentado por países da periferia da Europa como a Grécia.

Oriente Médio

Fazendo referência a "ressentimentos históricos" criados pelo período colonial e pelas intervenções pós-coloniais, Dilma apontou também a falta de oportunidades econômicas e democráticas de alguns países do Oriente Médio como um dos fatores por trás de levantes sangrentos como o da Síria. "Recai sobre o governo de Damasco a maior parte da responsabilidade pelo ciclo de violência ... mas sabemos também da responsabilidade das oposições armadas, especialmente daquelas que contam com apoio militar e logístico estrangeiro", afirmou a presidente, sem explicar quem são esses estrangeiros. Ela então lançou um apelo para as partes beligerantes abandonarem as armas e participarem das tentativas de negociação patrocinada pelo Representante Especial da ONU e a Liga Árabe.

Mostrando a posição ligeiramente antagônica do Brasil em relação aos EUA, Dilma falou primeiro contra o que descreveu como uma escalada de preconceito contra muçulmanos em países ocidentais, antes de citar o recente assassinato do embaixador americano na Líbia, afirmando que "com a mesma veemência repudiamos os atos de terrorismo" contra a representação americana. A onda de protestos e o filme de má qualidade que serviu de estopim para a fúria dos muçulmanos não foram citados, diferentemente do discurso de Obama, logo depois, que criticou diretamente o longa A Inocência dos Muçulmanos.

Após citar o que considera como conquistas da conferência de desenvolvimento da ONU realizada no meio do ano, a Rio+20, e também defender reformas no Conselho de Segurança (velha demanda brasileira) para incrementar o multilateralismo nos órgãos mundiais, Dilma pediu o fim do embargo econômico a Cuba, afirmando que o país "tem avançado na atualização de seu modelo econômico" mas que precisa da ajuda de parceiros "próximos e distantes" para progredir, bem como o fim do embargo. Para Dilma, "é chegada a hora de por um fim a esse anacronismo, condenado pela imensa maioria dos países das Nações Unidas".

Fonte: Especial para Terra
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