PUBLICIDADE

Primeira transmissão de rádio no Brasil completa 90 anos

7 set 2012 - 10h19
(atualizado às 11h24)
Compartilhar

O dia 7 de setembro de 1922, há nove décadas, marcou a primeira transmissão de rádio no País, que ocorreu simultaneamente à exposição internacional em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, inaugurada pelo presidente Epitácio Pessoa.

Museu da Imagem e do Som, no Rio, abrigou o antigo Pavilhão do Distrito Federal na época da Exposição do Centenário da Independência
Museu da Imagem e do Som, no Rio, abrigou o antigo Pavilhão do Distrito Federal na época da Exposição do Centenário da Independência
Foto: Agência Brasil

A primeira transmissão radiofônica será revivida hoje em um programa especial das rádios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) - Rádio Nacional e Rádio MEC - e da TV Brasil. Transmitido a partir do Parque do Flamengo, na zona sul do Rio, o programa de 52 minutos começará às 12h30, vai recontar o momento histórico, com direito a números musicais e a dramatização dos principais personagens do evento. Caberá ao veterano radioator Gerdal dos Santos, integrante da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, interpretar, devidamente caracterizado, o presidente Epitácio Pessoa.

O então discurso do presidente, em meio ao clima festivo do evento, abriu a programação da exposição, tornada possível por meio de um transmissor de 500 watts, fornecido pela empresa norte-americana Westinghouse e instalado no alto do Corcovado. Apenas 80 receptores espalhados na capital e nas cidades fluminenses de Niterói e Petrópolis acompanharam a transmissão experimental, que teve ainda música clássica - incluindo a ópera O Guarani, de Carlos Gomes - durante toda a abertura da exposição.

Á frente da iniciativa estava o cientista e educador, Edgar Roquette Pinto, considerado o pai da radiodifusão brasileira. ''Segundo o depoimento do próprio Roquette, praticamente ninguém ouviu nada da transmissão, porque o barulho da exposição era muito grande'', conta o historiador, Milton Teixeira. ''Os alto-falantes eram relativamente fracos, mas mesmo assim causou uma certa sensação a transmissão do discurso do presidente Epitácio Pessoa e das primeiras músicas'', diz.

A transmissão ocorreu no momento em que as autoridades da época investiram em obras e recursos financeiros para a exposição comemorativa ao centenário da independência, montada no centro do Rio, antes ocupada pelo Morro do Castelo.

No mesmo período, a insatisfação dos militares e da nascente classe média com as oligarquias que dominavam a chamada República Velha resultou na revolta dos tenentes que serviam no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 5 de julho. Meses antes, em 25 de março, era fundado o Partido Comunista Brasileiro, em Niterói. Em São Paulo, um evento realizado no mês de fevereiro influenciaria de forma definitiva o contexto cultural do país: a Semana de Arte Moderna.

De acordo com Milton Teixeira, a elite de cafeicultores que comandava o País soube tirar proveito político do centenário. ''Era uma democracia só de fachada e direitos sociais eram coisa que ninguém imaginava ainda existir. O País estava numa crise danada, mas precisava afirmar a nacionalidade'', conta.

Especialista na história da cidade do Rio, ele lembra que para fazer a exposição foi destruído naquele mesmo ano um marco do passado carioca, o Morro do Castelo, primeiro núcleo urbano. ''Ao mesmo tempo era criado nesse ano o Museu Histórico Nacional (MHN), primeira instituição dedicada à preservação do patrimônio histórico do País e cuja direção foi entregue ao historiador Gustavo Barroso.''

Alguns dos pavilhões de países, Estados e instituições erguidos na esplanada do Castelo eram de construção sólida, mas outros, de madeira e gesso, foram feitos para durar apenas o tempo da exposição. Apenas três sobrevivem até os dias de hoje: o da França (atual sede da Academia Brasileira de Letras - ABL), o do Distrito Federal (atual Museu da Imagem do Som) e o da Estatística, ocupado pelo Centro Cultural do Ministério da Saúde. ''O pavilhão da Inglaterra foi demolido nos anos 70, depois de abrigar por décadas o Museu da Caça e Pesca, o mesmo acontecendo com o que sediou por décadas o Ministério da Agricultura'', conta Teixeira.

Apesar da transmissão durante a celebração do centenário da Independência, o início efetivo e regular das transmissões do rádio ocorreu somente no ano seguinte, mais uma vez graças ao esforço de Roquette Pinto. Ele tentou em vão convencer o governo a comprar os equipamentos da Westinghouse, que permitiram a transmissão experimental. A aquisição foi feita pela Academia Brasileira de Ciências, e assim entrou no ar, em 20 de abril de 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.

A emissora pioneira é a atual Rádio MEC, que foi doada pelo próprio Roquette Pinto ao Ministério da Educação em 1936. Nesse ano, também foi fundada, a princípio como emissora privada, a Rádio Nacional, que seria incorporada ao patrimônio da União na década de 40.

Para Sonia Virginia Moreira, professora de comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autora de livros sobre a história do rádio, a década de 20 foi o chamado período experimental do veículo. "Era experimental em termos de programação, sobre o que se podia fazer no rádio, mas muito interessante em termos de organização do meio. Como não havia nenhuma história, nenhuma memória do meio, o que se fez num primeiro momento foi organizar as pessoas ou as pessoas se organizarem", destaca.

"O resultado foi a constituição de grupos e associações que se reuniam em torno do rádio", acrescentou. Esses grupos e associações eram formados por pessoas que emprestavam discos para as emissoras. "As rádios ficavam poucas horas no ar, porque os transmissores não tinham capacidade de transmitir durante muito tempo", conta a professora.

Nessa fase, o rádio não era nem público e nem comercial, mas sim um meio comunitário. "As emissoras se organizavam para suas transmissões experimentais em torno dos chamados rádio clubes", ressalta Sonia Virginia. "Por isto, até hoje muitas emissoras criadas nessa época, em todo o País, têm a denominação de Rádio Clube, porque se constituíam, na verdade, em clubes de ouvintes", explica.

A era do rádio comercial surge a partir de 1932, quando o presidente Getúlio Vargas, por meio do Decreto 21.111, autorizou as emissoras a ter até 10% de sua programação sob a forma de publicidade. "Até então, o rádio era sustentado apenas por contribuições de seus próprios ouvintes, que eram os mesmos que ajudavam a fazer a programação."

Com a permissão da publicidade, se plantou a raiz do modelo de rádio que a partir da década de 40 se consolidou no País, o do veículo comercial, conforme a professora. "Naquele momento, marcado pela Segunda Guerra Mundial, os americanos passaram a influenciar não só a programação como o próprio modelo de rádio feito no Brasil, eminentemente comercial, a exemplo do que se fazia nos Estados Unidos", diz a co-autora, junto com Luiz Carlos Saroldi, do livro Rádio Nacional: o Brasil em Sintonia e organizadora da História do Radiojornalismo no Brasil.

Agência Brasil Agência Brasil
Compartilhar
TAGS
Publicidade