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Colecionador minimiza acervo incendiado: 'meu gato morreu'

14 ago 2012 - 16h45
(atualizado às 17h55)
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Juliana Prado
Direto do Rio de Janeiro

O incêndio que atingiu a casa de um dos mais importantes colecionadores de arte e marchands do País, Jean Boghici, 84 anos, teve pelo menos duas grandes perdas. As pinturas Samba, de Di Cavalcanti, e Floresta Tropical, de Guignard, foram destruídas. Apesar disso, o marchand, que é romeno e veio para o Brasil em 1949, surpreendeu, ao dizer, repetidas vezes e com a voz embargada, que a maior perda não foram os quadros de sua coleção, mas a sua gata Pretinha, que morreu atingida pelas chamas. "Estou muito chateado, mas não é por causa do quadro não. É por causa do meu gato, que morreu", disse, chorando. "Não quero saber de quadro, meu gato morreu".

Mesmo abalado, Boghici passou a noite de segunda-feira e a manhã desta terça-feira contabilizando as obras comprometidas com a tragédia. No início da tarde, ele aceitou falar com a imprensa e disse que irá se vingar do acidente fazendo "uma bela exposição". Aos jornalistas, o colecionador confirmou que muita coisa se perdeu. "Queimou, qual o problema? Vai ficar tudo bom de novo. Já tive esse problema na década de 1970, perdi vários quadros e fiquei doente praticamente. Na época, fiz uma bela exposição e foi uma vingança contra o destino. Vamos fazer exposição muito bonita para me vingar."

O fogo atingiu a casa do marchand por volta das 18h de ontem. As causas do incêndio ainda estão sendo avaliadas pelos técnicos. Há indícios de que o fogo tenha se originado no sistema de refrigeração da casa, que fica em Copacabana, na zona sul da cidade.

O incêndio atingiu todo o primeiro andar da cobertura duplex em que ele mora. Borghici admitiu que a perda não foi pequena e não sabia calcular o tamanho do prejuízo, mas contabilizou também as obras importantes de seu acervo que ficaram intactas. "Muita coisa foi salva: três Tarsilas (do Amaral), obras da Ligia Klark, Pedro Camargo, Antônio Bandeira. Muita coisa foi salva."

Tentando minimizar as perdas, o marchand lembrou que sua galeria, em Ipanema, também tem um vasto material de valor artístico, o mesmo acontecendo com uma casa em Itaipava, na região serrana. Ao lado de Leonel Kaz, curador e organizador da exposição "O Colecionador" prevista para abrir o Museu do Rio (MAR), na região portuária da cidade, ele confirmou que o evento irá acontecer. "É claro que a exposição está de pé, mas eu estou mesmo muito traumatizado com a perda do meu gato. Minha maior perda, ela já era velhinha, tadinha", repetiu.

Exposição no porto

A exposição que, segundo Jean Boghici irá se "vingar" da perda das obras, está sendo organizada para abrir o Museu de Arte do Rio (MAR), em novembro de 2012. Grande parte das cerca de 100 obras guardadas pelo marchand em sua casa seriam usadas na exposição.

Leonel Kaz lembra que, na oportunidade, será mostrado pela primeira vez "um conjunto extraordinário que o Jean Boghici reuniu durante 50 anos". Ele valorizou o papel do colecionador e amante das artes para o Brasil. "As obras são patrimônios do Jean e do Brasil. Ele ajudou a formar as principais coleções do País desde o início dos anos 1960".

Segundo Kaz, as peças que se perderam serão homenageadas, já que todas estão catalogadas e as outras, quando possível, serão substituídas. "O que se perdeu de um Antonio Dias, por exemplo, será substituído por outro Antonio dias. O que se perdeu de um Guignard será substituído por outro Guignard". Muitas obras que foram parcialmente atingidas pelo incêndio serão restauradas.

Jean Boghici (na porta) ao lado da sua mulher, Geneveve, e do curador Leonel Kaz
Jean Boghici (na porta) ao lado da sua mulher, Geneveve, e do curador Leonel Kaz
Foto: Juliana Prada / Terra
Fonte: Terra
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