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Polícia

Policiais usam psicologia para quem liga desesperado para o 190

5 ago 2012 - 12h37
(atualizado às 12h39)
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Todos os dias, cerca de 800 policiais atendem os chamados da população direto do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) de São Paulo. As situações no também chamado atendimento de emergência da PM (190) variam e podem ir muito além de uma ocorrência policial. Os atendentes são treinados para atender a sociedade e muitas vezes se deparam com momentos em que devem usar conhecimentos de psicologia para acalmar quem está ligando.

O capitão Moisés, porta-voz da Polícia Militar, define os atendentes do Copom como "verdadeiros psicólogos". Segundo ele, algumas pessoas ligam para o 190 apenas para conversar, muitas delas em estado de depressão ou estão sozinhas e precisam ouvir uma voz. "Os atendentes têm que entender o que está acontecendo e se uma pessoa liga querendo ouvir alguém, eles estarão preparados para dar orientações", explica.

Entre as inúmeras ligações que já atendeu, a policial Polezi também passou por uma situação semelhante à citada pelo capitão. "Homens e mulheres ligam quando estão com depressão e às vezes só para conversar, procurando alguma orientação. Sempre orientamos a pessoa e enviamos uma viatura para o local, para saber se está tudo bem", explica.

Desaparecido volta ao lar

Há 16 anos trabalhando no Copom, a policial Polezi já atendeu todo tipo de ligação. Em uma delas, conseguiu encontrar um jovem portador de deficiência mental que estava desaparecido havia oito meses. "Uma vez, um rapaz ligou dizendo que estava perdido e tinha 24 anos. Quando verifiquei o nome dele, vi que havia uma ocorrência relacionada como pessoa desaparecida portadora de Síndrome de Down", conta.

A policial, que também tem uma irmã especial, tentou descobrir onde o rapaz estava. A primeira dificuldade foi que o telefone de onde ele ligou não tinha cadastro. "Entramos em contato com a mãe e ela disse que o filho estava desaparecido havia oito meses. O garoto não sabia dizer onde estava, mas me disse que daria uma dica, dizendo que estava na fila da canequinha", contou.

Polezi relembra o momento de maior emoção da ocorrência. "Pensei um pouco e imaginei que ele poderia estar em algum albergue, mandei uma viatura para o local e ele foi encontrado. O moço estava muito afoito durante a ligação. A mãe dele pediu para cantarmos a música do 'boi da cara preta', para poder segurá-lo na linha. Então cantei e o menino ficou calmo. Ele até pediu para repetir. Isso foi bem marcante", disse.

Segundo a policial, a maior parte das ligações que recebe "sempre termina com um final feliz". Ela também atende chamadas em espanhol para auxiliar turistas e pessoas que vêm de fora para morar e trabalhar no país.

Estatísticas e trotes

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), a média de ligações para o Copom é de 45 mil por dia. Dessas, 60% são solicitações que em nada têm a ver com o trabalho da Polícia Militar como, por exemplo, chamados para o Corpo de Bombeiros e pedidos de ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Quando uma ligação deste tipo cai no Copom, os atendentes orientam o cidadão. Porém, esse fluxo de chamadas acaba interditando as linhas do 190, que priorizam as ocorrências de emergências policiais. O capitão Moisés comenta que apenas 30% das ligações que chegam ao Copom são de fato para o atendimento da Polícia Militar. "Muitas pessoas ligam para a polícia pedindo apoio para casos que não são necessariamente nossos e é neste ponto que o policial tem o papel de orientador, para que nada de errado ocorra com o cidadão, que pode estar passando por um problema muito grave", explicou.

Uma situação grave e desnecessária enfrentada pelo Copom são os trotes. Eles compõem 20% das ligações recebidas pela polícia. "Temos uma média de oito mil trotes por dia, por isso o policial deve ter a habilidade de entender o que é trote e o que não é. Um exemplo é quando crianças nos ligam. 70% das chamadas de crianças são trote", ressaltou o capitão.

Para trabalhar no Copom, o policial deve ter dois anos de experiência na Polícia Militar e querer exercer o serviço. Depois, ele é submetido a exames escritos e entrevista com uma psicóloga. Após passar por tudo isso, o PM pode, finalmente, começar a trabalhar no 190.

Colaborando para a vida

O policial Gilberto tem três anos de Copom. Assim como outros atendentes, já protagonizou histórias muito emocionantes. Em uma delas, pode ajudar a trazer uma pessoa à vida. "Um avô ligou aqui dizendo que a filha estava entrando em trabalho de parto em casa, mas ele estava muito nervoso e a mulher dele foi quem seguiu os procedimentos que passávamos para ela. No momento em que ouvimos o choro do bebê, foi bastante emocionante e deu tudo certo", contou.

Outra ocorrência muito comum que os policiais atendem é o salvamento de bebês engasgados. No dia 15 de julho, por exemplo, um atendente ajudou um pai que pedia auxílio para socorrer o filho de apenas três dias engasgado com leite.

O policial Marcos Leão orientou o pai a colocar o bebê de bruços, incliná-lo para frente e dar leves tapinhas nas costas para que o leite saísse das vias respiratórias da criança. Mesmo com o homem nervoso, o policial conseguiu acalmá-lo e ajudou a salvar a vida do bebê.

"Através do telefone, o policial tem que entender o que está acontecendo no local, para poder desenhar na cabeça dele o cenário daquela ocorrência e depois cadastrá-la no sistema. As pessoas normalmente estão nervosas, por isso eles têm que ter a habilidade para buscar a calma e informações preciosas como o endereço e o que está acontecendo", explicou o capitão Moisés.

Fonte: Terra
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