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Neto de 7 veteranos da Revolução de 32 monta museu particular

9 jul 2012 - 06h27
(atualizado às 12h48)
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Marcus Bruno

O último grande conflito armado da história do Brasil completa nesta segunda-feira, 9 de julho, 80 anos de distância do nosso tempo. A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um movimento paulista contra o golpe de Estado que empossou o presidente Getúlio Vargas. Com o tempo, a história viva desse conflito vai sendo perdida - os combatentes já estão completando um século. Para que ela não desapareça, um neto de veteranos montou na própria casa um museu particular.

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Os avós maternos e paternos orgulham o publicitário Ricardo Della Rosa. Os dois participaram ativamente da Revolução. Ele conta ainda que cinco tios-avôs pegaram em armas: "temos a questão militar muito forte na família". O museu começou com uma fotografia. "Minha tia, uma vez, me deu uma foto do meu avô durante a revolução. Eu fui atrás de outras e acabei virando um colecionador".

Nas imagens, o avô Manoel Maia Neto aparece segurando um fuzil em Vila Queimada, um vilarejo entre Lavrinhas e Queluz, às margens do que é hoje a Rodovia Presidente Dutra. Segundo as pesquisas do publicitário, Manoel foi voluntário do Batalhão Piratininga. Em outra foto, o avô paterno de Ricardo, Mario Della Rosa, posa ao lads de outros três revolucionários, todos devidamente fardados.

Além de dezenas de outras imagens, capacetes, medalhas, bandeiras, pingentes e cartazes compõem a coleção de Della Rosa. No entanto, mesmo com tantos componentes militares, ele salienta que não é entusiasta da luta armada. "Era uma forma de o brasileiro resolver as coisas na época, que graças a Deus já passou". O que o publicitário acha interessante nessa revolta é a união de um Estado inteiro pela legalização do governo, e o fato de São Paulo perder no campo de batalha não importa para ele. Para o colecionador, o mais relevante da Revolução de 32 não foi a vitória, ou a derrota de um lado, mas formação da identidade do paulista. "Isso é muito importante em um país em que o patriotismo não vai além da Copa do Mundo", argumenta.

O museu particular de Ricardo Della Rosa deu origem ao site www.tudoporsaopaulo.com.br. Por meio dele, o acervo aumenta, já que muitas famílias de combatentes mandam fotos e objetos. A iniciativa do colecionar é importantíssima para a preservação de uma história que está sendo esquecida pela população, na opinião do professor da Unicamp Pedro Paulo Funari. Para o historiador, mestre em Antropologia Social, o evento tem cada vez menos repercussão social. "Durante todo o regime militar, o feriado da Revolução Constitucionalista não existiu, voltando somente nos anos 80, muito tempo depois", explica ele. "Além disso, São Paulo tem uma população com pessoas de diversos Estados e outros países. A cada ano, o sentido do feriado fica mais distante das pessoas", lamenta.

Della Rosa também ressalta que este período da História do Brasil não pode ser apagado: "por ter sido uma guerra de trincheiras, muita gente morreu, e isso não pode ser esquecido". As cinzas de mais de 700 combatentes estão guardadas no Mausoléu do Ibirapuera, e, somados os soldados federais, passam de duas mil baixas em apenas três meses de conflito.

Já quanto à importância da Revolução para o curso que o País tomou, a opinião do colecionador e do historiador é unânime. A resistência paulista forçou o governo Vargas a formular a nova Constituição, as eleições e também o voto feminino. Até a criação da USP é fruto da Revolução, segundo Funari, e formou uma elite intelectual na cidade de São Paulo, que mais tarde viria a se tornar um polo cultural do Brasil.

Avô de Ricardo Della Rosa, Manoel Maia Neto, aparece na foto (D) em Vila Queimada, um vilarejo entre Lavrinhas e Queluz, as margens do que é hoje a rodovia Presidente Dutra
Avô de Ricardo Della Rosa, Manoel Maia Neto, aparece na foto (D) em Vila Queimada, um vilarejo entre Lavrinhas e Queluz, as margens do que é hoje a rodovia Presidente Dutra
Foto: Arquivo pessoal
Fonte: Terra
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