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PA e AP concentram novos casos de doença de Chagas no Brasil

31 mai 2012 - 13h28
(atualizado às 13h38)
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Jefferson Puff

Embora o Brasil tenha reduzido de forma drástica os números de contágio do mal de Chagas nas últimas décadas, entre 150 e 200 novos casos ainda são registrados anualmente. Mais de 95% ocorrem em apenas dois Estados: Pará e Amapá, sendo o processamento de açaí e outros alimentos o principal foco de contágio.

Os dados são do Ministério da Saúde, que aponta elementos da cultura alimentar nortista, como as frutas, sucos e o alto consumo de açaí in natura como fatores de difícil controle.

De acordo com o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, João Barbosa, a doença está controlada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e há casos raros no Nordeste. No Norte, condições inadequadas de processamento e preparo de alimentos fazem com que o inseto barbeiro (Triatoma infestans e suas variáveis) ou suas fezes contendo o parasita Trypanosoma cruzi sejam ingeridas, levando à contaminação.

"O inseto acaba caindo em máquinas de processamento de alimentos, como moedores de cana. Frutas que não são esterilizadas da forma correta também podem ter fezes contaminadas", diz João Carlos Pinto Dias, que já chefiou o Programa Nacional de Combate à Doença de Chagas brasileiro e é membro do Comitê de Doenças Tropicais Neglicenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Pinto Dias, que também atua como pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e tem mais de 220 artigos científicos e sete livros publicados sobre o assunto, diz que o Nordeste ainda abriga alguns resquícios de incidência do barbeiro, mas que a maior preocupação é com o Pará, no Norte.

Segundo o Ministério da Saúde, sabe-se que o açaí é o principal problema, e o governo já montou um esquema de normatização sobre a esterilização da fruta, que inclui procedimentos simples como a fervura da polpa, mas ainda há resistência nas comunidades locais.

Erradicação

Embora o Brasil tenha reduzido o número de novos casos anuais de doença de Chagas de 150 mil nos anos 1970 para cerca de 150 a 200 atualmente, não se pode falar em erradicação. "O principal vetor (o inseto barbeiro) foi interrompido. A outra principal forma de transmissão, por transfusão sanguínea, também foi eliminada, mas ocasionalmente existem novos casos. Uma doença só é considerada erradicada quando a chance de novas incidências é nula", diz João Barbosa.

Mesmo assim, já se pode afirmar que o mal tornou-se uma "doença rara" no país. Ele diz que o contágio vetorial (por diferentes espécies do inseto barbeiro) foi considerado oficialmente eliminado no Brasil pela OMS em 2006.

A doença também perdeu atenção na mídia brasileira, mas episódios isolados trazem o assunto de volta ao noticiário ocasionalmente. Em Santa Catarina, na cidade de Navegantes, 25 pessoas foram infectadas e três morreram após ingerirem caldo de cana em uma barraca às margens da BR-101 no verão de 2005.

Transfusões

Quanto à transmissão por transfusão sanguínea, Pinto Dias diz que o Brasil adotou em 1986 uma lei exigindo que todos os bancos de sangue fizessem testes para detectar a doença. Em 1990, 100% dos hemocentros já haviam normatizado o procedimento.

"Hoje em dia 0,3% dos doadores brasileiros são detectados com mal de Chagas. No passado o número chegou a 15%. Temos de 3 a 4 milhões de transfusões anuais no Brasil e são registrados entre 15 e 20 casos de contaminação por ano desta maneira", diz.

Outra forma de transmissão da doença citada pelo artigo americano, de mãe para filho, também está em declínio no Brasil. A idade média das mulheres infectadas está acima dos 40 anos, fora de idade fértil, o que reduz a chance deste tipo de contágio no país, segundo Pinto Dias.

"A tendência é que o número de mulheres infectadas diminua gradativamente com o envelhecimento, o que diminuirá cada vez mais a chance de haver transmissão de mãe para filho."

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