PUBLICIDADE

Aos gritos de 'maconha é uma delícia', 2 mil marcham em SP

19 mai 2012 - 17h10
(atualizado em 20/5/2012 às 11h28)
Compartilhar
Hermano Freitas
Direto de São Paulo

Com um público estimado pela Polícia Militar de 2 mil pessoas, a edição de São Paulo da Marcha da Maconha começou por volta das 16h30 na região da avenida Paulista. Munidos de faixas pedindo a legalização da droga, os manifestantes provocavam os policiais que acompanham o evento com gritos de "ei, polícia, maconha é uma delícia".

Participantes se reuniram no vão livre do Masp para a concentração da marcha
Participantes se reuniram no vão livre do Masp para a concentração da marcha
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra

Após concentração no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a marcha saiu pela avenida Paulista no sentido Consolação, ocupando três faixas da via. O evento reúne integrantes dos partidos Psol e PSTU, além de manifestantes com objetos que simulam cigarros de maconha gigantes.

A marcha teve pouco mais de duas horas de duração, circulou além da Paulista pela rua Augusta e pela Consolação e terminou na praça da República.

Enquanto a Polícia Militar (PM) circulava entre os manifestantes, apenas o cheiro de doce queimado era sentido no vão do Masp, durante a concentração para a Marcha da Maconha 2012. Quando os oficiais se voltaram para a avenida Paulista, surgiram dezenas de brasas a poucos metros do cordão de policiamento.

Risos e cantos de provocação foram ignorados pela PM, tanto quanto os manifestantes faziam ouvidos moucos às recomendações, vindas das caixas de som, para que não se comportassem como se a droga fosse legal. "É só um policial decidir que algum de nós é traficante para ir preso. Não vamos marcar bobeira agora que a gente ainda pode se dar mal", recomendava uma voz. O coro em resposta foi o já consagrado "Dilma! Rousseff! Legaliza o béque!", um apelo para a liberação no Brasil do entorpecente mais consumido no mundo.

Antes do protesto, o professor de História da USP Henrique Carneiro foi ouvido por centenas de jovens enquanto discursou sobre o uso de "uma das plantas mais importantes da história da humanidade". Carneiro falou sobre o uso da fibra dos tecidos das velas e nas cordas e também sobre o uso do cânhamo para a fabricação do papel. Associou a proibição da maconha a questões sociais e raciais - disse que a droga foi discriminada na Europa por ser associada a árabes e nos Estados Unidos a mexicanos - sendo que no Brasil esteve sempre associada a negros e pobres moradores de favelas. Mas empolgou mesmo ao comparar o uso de drogas ao abuso de álcool e gorduras. "Quem quer tomar sua cerveja não tem que lidar com criminoso, ninguém chama as grandes redes de lanchonete de traficantes de colesterol!"

Após a saída da caminhada, pouco depois das 16h20 - horário que ficou conhecido na chamada "cultura canábica" como hora de fumar - alguns manifestantes prepararam alguns cigarros de maconha nas calçadas e no asfalto da via. As faixas e cartazes foram acompanhados de gigantes de cigarros de maconha - feitos de papel e caules de flores. Quando um ônibus ultrapassou o grupo, ouviu-se um canto de provocação pela tarifa do coletivo municipal: "Kassab, que vergonha, o busão 'tá mais caro que a maconha!".

A paralisação da avenida mais importante do país também gerou protestos. Um senhor cobrava aos gritos que os policiais presentes acabassem com aquilo. Professor de Filosofia, Pedro Motta, 73 anos, disse que a manifestação era parte do "programa da extrema Direita" de manter os jovens sem consciência política. "Eu sou de um tempo em que não se usava drogas para não se embotar e ficar alerta às questões políticas. Deram o golpe de 1964 justamente porque a juventude estava engajada!", afirmou.

Em contraponto, a advogada e membro do movimento pela legalização, Juliana Machado, 28 anos, declarou que a marcha existia justamente para pressionar a politização do tema e fomentar a discussão. "É preciso admitir que o comércio existe e a guerra às drogas não foi um método eficiente para combater o consumo", disse.

A irreverência nos slogans parecia aumentar na medida em que a marcha seguiu sem confrontos com a PM. Já na rua Augusta, alguns integrantes da caminhada começaram a provocar os policiais: "Ei, coxinha, dá uma risadinha". Decididos a não repetir as cenas vistas na marcha do ano passado, nenhum policial reagiu com violência.

Nem mesmo ficar parado por meia hora devido à marcha fez com que um taxista antipatizasse com a causa. Questionado como se sentia, afirmou que "se fosse preciso ficaria um dia parado". Sua revolta era contra outra categoria. "Fico um dia parado aqui, só não aceito é um minuto de covardia da nossa mídia", disse o motorista, que se identificou apenas como Gecimar, alegando "não confiar" na imprensa.

Terra

Colaborou com esta notícia a internauta Cleide Isabel, de São Bernardo do Campo (SP), que participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

vc repórter
Compartilhar
Publicidade