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CPI do Cachoeira

Placa da Delta é retirada de obra de ampliação do TJ do Rio

15 mai 2012 - 15h47
(atualizado às 18h08)
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Cirilo Junior
Direto do Rio

Suspeita de ligação com o esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira, a construtora Delta executa as principais obras do Judiciário do Rio de Janeiro. São quatro construções que, juntas, somam orçamento de R$ 279 milhões. Na principal delas, que amplia o prédio central do Tribunal de Justiça, no centro do Rio, a placa da construtora foi retirada do local na semana passada. Foi mantido apenas um aviso do Poder Judiciário, que cita o nome da construtora. A obra deve ser entregue até o fim deste mês.

No mês passado, a Delta se retirou dos consórcios responsáveis pelas obras de reforma do Maracanã e de construção da Transcarioca, via que vai ligar a zona oeste do Rio ao aeroporto internacional Tom Jobim, na zona norte. A empresa, no entanto, segue executando alguns dos principais projetos no Estado, como a obra do Arco Metropolitano, uma das principais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que está orçada em R$ 1,1 bilhão.

O baque mais recente se deu em contratos firmados com a Petrobras para execução de obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), maior projeto da estatal no Rio. Alegando que os dois consórcios nos quais a construtora tinha participação tiveram baixo desempenho na execução das obras contratadas, a petrolífera rompeu contratos que somavam R$ 843,5 milhões.

Ao todo, 24 consórcios trabalham em obras no Comperj. Os contratos com a Delta foram assinados em 2010. Pela construção de uma unidade industrial de tratamento, recuperação e armazenamento de enxofre, o consórcio receberia R$ 532 milhões. Já para fazer uma unidade de hidrotratamento de nafta, o custo seria de R$ 311,5 milhões.

A obra no prédio do TJ é a maior das que a Delta faz para a Justiça do Rio. Licitada em 2010, tem orçamento previsto de R$ 174,8 milhões, e apenas a Delta como executora.

No Fórum de Teresópolis, cidade da região serrana do Rio, começaram em 6 de fevereiro obras orçadas em R$ 37,5 milhões. A previsão de entrega é para o fim do ano. Já no Fórum de Bangu, o projeto tem orçamento de R$ 34,4 milhões e foi iniciado no dia 2 de fevereiro. No dia 27 de março, foi iniciada a obra no Fórum de Mesquita, na Baixada Fluminense. O projeto deve custar R$ 32 milhões.

Apesar das suspeitas sobre a Delta, o TJ informou que nada muda no projeto. Não está prevista qualquer revisão ou auditoria nos contratos firmados com a Delta, todos por meio de licitação. O governo do Rio anunciou uma auditoria nos projetos fechados com a Delta, mas até agora não apresentou balanço do trabalho.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está vigilante. A ministra Eliana Calmon, corregedora do órgão, já anunciou que pretende investigar os negócios firmados pelo Poder Judiciário fluminense com a Delta.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as relações de Cachoeira com autoridades ameaça chamar o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), para explicar sua proximidade com o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta. Nas últimas semanas, o ex-governador e hoje deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) divulgou em seu blog fotos e vídeos em que Cabral aparece ao lado de Cavendish em uma viagem a Paris. O governador nega favorecimento da empresa.

Cavendish deixou o controle da Delta após a divulgação das investigações que apontam a relação da construtora com Cachoeira. Também em consequência da operação que prendeu o contraventor, o ex-diretor da empresa, Cláudio Abreu, foi preso pela Polícia Federal. Na semana passada, foi anunciada a compra da empreiteira pela J&F, holding que controla o frigorífico JBS.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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