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Política

Câmara poderá investigar ligação entre Protógenes e Cachoeira

9 mai 2012 - 16h39
(atualizado às 16h56)
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Gustavo Gantois
Direto de Brasília

O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), disse nesta quarta-feira que deve definir até o dia 15 de maio o relator que vai analisar a ligação entre o deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O acesso à reunião será restrito aos parlamentares integrantes da CPI. O objetivo é evitar o vazamento de informações contidas no inquérito sigiloso que está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
O acesso à reunião será restrito aos parlamentares integrantes da CPI. O objetivo é evitar o vazamento de informações contidas no inquérito sigiloso que está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

CPIs: as investigações que fizeram história

Cachoeira, o bicheiro que abalou o Brasil

O deputado é alvo de uma representação do PSDB, instaurada hoje, que alega que ele teve contatos que contrariam a ética e o decoro parlamentar com o araponga Idalberto Matias Araújo, o Dadá, preso na Operação Monte Carlo como um dos auxiliares de Cachoeira.

De acordo com gravações interceptadas pela Polícia Federal e divulgadas pelo Estadão, Protógenes teria dado a Dadá recomendações sobre um depoimento na operação Satiagraha, que foi comandada pelo deputado quando ainda era delegado da PF e resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas.

Os deputados Amauri Teixeira (PT-BA), Jorge Corte Real (PTB-PE) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) foram sorteados para formar a lista tríplice de onde sairá o nome do relator que vai avaliar a admissibilidade ou não da representação. Caso seja aceita a denúncia, a pena para Protógenes pode ser desde a suspensão até a perda do mandato.

Em sua defesa, o parlamentar nega envolvimento com Cachoeira e lembra que é coautor do pedido de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a teia de conexões do bicheiro. O deputado chegou a enviar ofício ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, solicitando informações da investigação sobre o esquema de Cachoeira.

Para Protógenes, suas conversas com Dadá não têm qualquer relação com os negócios ilícitos de Cachoeira e que seu nome só foi divulgado pelo Estadão porque o jornal misturou trechos das gravações captadas pela Polícia Federal na operação Monte Carlo.

"Respeito o PSDB que, numa postura inicialmente açodada, instrumentalizou por uma notícia do Estadão essa peça. Não peço nem o arquivamento desta representação, mas sua rejeição por inadmissibilidade", disse o deputado ao final da sessão.

Situação crítica

Outro caso analisado pelo Conselho de Ética é o do deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), acusado de nepotismo cruzado e uso de dinheiro público para contratação de funcionários particulares.

Uma reportagem da revista Veja revelou que o parlamentar baiano nomeou para seu gabinete a mãe e a irmã do deputado estadual Nelson Souza Leal (PSL). Em troca, Leal teria empregado a mãe e um tio de Bacelar na Assembleia Legislativa da Bahia.

A situação de Bacelar é mais complicada porque a Mesa Diretora da Câmara autorizou uma investigação preliminar após acolher parecer encaminhado pela Corregedoria da Casa, que sugere a suspensão temporária do mandato. Essa decisão, no entanto, ainda deverá ser submetida aos membros do colegiado.

Em sua defesa ao conselho, Bacelar negou a existência de nepotismo cruzado. Afirmou que sua família é tradicional na política baiana e atribuiu a isso a nomeação de sua mãe. O deputado afirmou que as atividades políticas de seus familiares são "independentes entre si" e que só tomou conhecimento que duas servidoras suas eram parentes de Leal quando foi procurado pela imprensa e que as exonerou imediatamente.

No caso de Bacelar, o relator será escolhido entre os deputados Dr. Ubiali (PSB-SP), Vilson Covatti (PP-RS) e Assis Carvalho (PT-PI).

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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