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Política

Demóstenes alega manipulação de escutas para arquivar processo

25 abr 2012 - 22h52
(atualizado às 23h04)
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O advogado do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), Antônio Carlos Almeida Castro, entregou nesta quarta-feira a defesa prévia do parlamentar ao Conselho de Ética do Senado, que pede o arquivamento do processo. Almeida Castro disse que identificou manipulações nas gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal que indicam para a ligação do senador Demóstenes com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O Conselho de Ética se reúne às 10h de amanhã e poderá, já nesse encontro, analisar a defesa apresentada pelo senador.

Defesa do senador também coloca em dúvida a origem das denúncias
Defesa do senador também coloca em dúvida a origem das denúncias
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Entenda o caso Cachoeira, o bicheiro que abalou o Brasil

"Nós tivemos acesso agora, com mais calma, a essas provas e notamos que existem alguns erros que podem significar adulteração dessa mídia, o que é uma coisa bastante grave", disse o advogado. "Quero uma perícia nessa gravação para saber que manipulação foi feita nessa gravação."

Hoje era o último dia para Demóstenes apresentar sua defesa ao Conselho de Ética, que está na fase preliminar de análise da representação do Psol contra ele. O senador teve dez dias úteis para se pronunciar.

Além de alegar a edição das escutas, a defesa do senador coloca em dúvida a origem da denúncia. "Sustentou-se a impossibilidade de se respaldar a presente representação em matérias jornalísticas, que padecem do vício de confiabilidade e verificabilidade, sendo absolutamente repudiável sua utilização como fundamento para instauração de investigação ou ação penal, bem como de processo disciplinar", diz o documento.

O advogado também ponderou que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, instalada hoje, tem o mesmo alvo de investigação e, portanto, o Conselho de Ética poderia aguardar o resultado da comissão. A CPMI tem 180 dias para concluir seu trabalho. "A mencionada representação não merece prosseguir nesses termos, sendo absolutamente indispensável que se promova, antes da formalização de uma acusação, investigações preliminares, tais quais se intenta realizar no curso da comissão parlamentar de inquérito já instaurada no Congresso Nacional para apurar", diz o texto.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Agência Brasil Agência Brasil
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