PUBLICIDADE

Política

Deputado do DEM levanta suspeitas sobre contratos da Delta no PAC

24 abr 2012 - 10h45
(atualizado às 11h05)
Compartilhar
Marcus Bruno

Os partidos finalizam nesta terça-feira as indicações para começar de fato a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará as ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de Brasília. O Democratas, legenda que está no foco das denúncias, tem o deputado Onyx Lorenzoni (RS) como representante na Câmara. O parlamentar, que diz estar quase recuperado de uma cirurgia realizada em fevereiro, avisa que vai concentrar os esforços nos contratos da construtora Delta com o governo federal e acredita que toda licitação do governo petista tem cobrança de propina.

"Desde que se instalou o governo Lula, e a Dilma é uma extensão dele, não há licitação no governo do PT que não tenha pedágio, é tão certo como dia e noite se sucedem", declara o político. "Essa empresa (a Delta) foi turbinada de 2006 para cá. Em cinco anos, recebeu mais de R$ 3 bilhões do governo federal. É a campeã de obras do PAC", suspeita. Por essa razão, diz Onyx, os trabalhos da CPMI não devem se focar somente em Goiás, Estado do senador Demóstenes Torres, que saiu do DEM após a divulgação, pela Polícia Federal, de telefonemas com Cachoeira. "Assim como a CPI dos Correios não ficou restrita a Minas Gerais (Estado da empresa SMP&B), essa CPI não vai ficar só em Goiás", garante.

A quadrilha de Carlinhos Cachoeira, no entanto, teria ramificações inclusive no exterior, segundo divulgou hoje a Polícia Federal. São negócios na Argentina, Uruguai e no Caribe. Para Lorenzoni, a CPI terá dificuldades em investigar essas ligações do grupo em outros países, pois depende do Ministério da Justiça. Para o deputado, este é um dos riscos da comissão ser "governista": a falta de liberdade de investigação. "Vai depender é até onde poderemos ir. Se a base deixar, a gente vai fazer".

Sobre o Democratas ser o partido que está no centro das denúncias, Onyx garantiu que ninguém da sigla será acobertado: "O partido nunca vacilou quando qualquer um de seus membros esteve envolvido em corrupção, está aí o Arruda e o Demóstenes".

O Congresso Nacional marcou sessão conjunta entre deputados e senadores às 19h30 desta terça-feira para instalar a CPI. A primeira reunião da comissão deve acontecer nesta quarta-feira, quando os integrantes deverão fechar um cronograma de trabalho.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

"Desde que se instalou o governo Lula não há licitação no governo do PT que não tenha pedágio", afirma o parlamentar
"Desde que se instalou o governo Lula não há licitação no governo do PT que não tenha pedágio", afirma o parlamentar
Foto: Agência Câmara / Divulgação
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade