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Política

GO: chefe de gabinete deixa cargo após ligação com Cachoeira

4 abr 2012 - 09h34
(atualizado às 09h45)
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Mirelle Irene
Direto de Goiânia

Depois de ter seu nome envolvido em suposta ligação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, a chefe de gabinete do governo de Goiás, Eliane Pinheiro, pediu exoneração do cargo ao governador Marconi Perillo (PSDB) na noite desta terça-feira. A possível ligação de Eliane com Cachoeira apareceu em relatório da Polícia Federal, que afirma que a chefe de gabinete recebeu informações sigilosas sobre operações policiais do contraventor.

Na carta de exoneração, Eliane Pinheiro afirma que é vítima e que a imprensa é quem insiste em envolvê-la no caso. "A imprensa foi implacável e de todas as maneiras tentou me envolver, destacando as suas suspeitas em letras garrafais, no alto das páginas, e só corrigindo, após os meus esclarecimentos, em letras miúdas, em um canto qualquer das edições."

Segundo a ex-chefe de gabinete, a Eliane que aparece nas gravações não é ela. "Fui também vítima de um grande equívoco pela coincidência do meu nome com o de uma outra Eliane, que desconheço, e que protagoniza conversas telefônicas grampeadas na investigação", disse a ex-assessora na carta.

Eliane Pinheiro reclama de que está sendo pré-julgada e acusada, sem o devido processo legal. "Em qualquer país civilizado, somente os tribunais aplicam penas e, mesmo assim, após um processo de apuração de culpas e mediante o exercício do direito de defesa." Ela disse ainda foi colhida pela onda de "histeria coletiva" e denuncismo em voga no País hoje.

A ex-chefe de gabinete ainda assinala que se afasta do cargo porque não pretende colaborar para "transformar o governo do Estado, a que servi com dedicada abnegação, em alvo de especulações da mídia".

De acordo com a reportagem do jornal Folha de S. Paulo, Eliane teria tomado conhecimento de informações sobre os alvos da Operação Apate, que investigou, em 2011, supostas fraudes tributárias em prefeituras do interior goiano. Cachoeira teria trocado uma série de telefonemas e mensagens de texto com a então chefe de gabinete, que seria, de acordo com conclusão da Polícia Federal, a responsável por informar o prefeito Geraldo Messias (PP), de Águas Lindas de Goiás, que é aliado de Perillo. Eliane teria, ainda, utilizado uma linha Nextel habilitada nos Estados Unidos, acreditando estar imune aos grampos da PF.

Demóstenes e Carlinhos Cachoeira

Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.

O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.

Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na estatal.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido decidiu abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda.

Fonte: Especial para Terra
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